AtaNews Publicidade 728x90
01/06/2018 às 10h24min - Atualizada em 01/06/2018 às 10h24min

Indianos recorrem a tecnologia para salvar cães abandonados

SOLIDARIEDADE

ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais
Onda crescentes de crimes envolvendo crueldade animal alerta ativistas na Índia | Foto: Divulgação
Yash Sheth, um engenheiro de tecnologia indiano de 27 anos, desenvolveu um aplicativo que usa a informática para ajudar cães abandonados a encontrar socorro com velocidade e precisão. A inspiração para desenvolver a ferramenta veio de uma experiência pessoal de Sheth.

No seu caminho de volta para casa em Mumbai, o engenheiro encontrou um cão abandonado, chorando e sangrando sem ajuda, imediatamente ele entrou em contato com ONGs e serviços de ambulância veterinária pelo telefone, mas tudo o que ele conseguiu foram desculpas e negativas. Sheth  então procurou um serviço veterinário particular e o cão foi salvo.

Criado em outubro de 2017, o aplicativo batizado de Let It Wag (deixe abanar, na tradução livre), conecta protetores de animais específicos da região selecionada em tempo real, fornece assistência veterinária imediata, serviços de ambulância e até doadores de sangue em emergências. O aplicativo do engenheiro, já ajudou 470 cães feridos em acidentes de trânsito, a serem resgatados.

Lei It Wag faz parte de uma onda de soluções tecnológicas surgindo em resposta a uma crescente, porém ignorada, crise. A Índia testemunhou recentemente uma onda de crimes violentos que teve como vítimas os animais. E isso é apenas um lado da questão, afirmam grupos de bem-estar animal. Mortes de animais em atropelamentos nas rodovias são comuns e volumosas.

Existem 25 milhões de cães abandonados na Índia atualmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.  Em resposta a isso, vários protetores de animais estão fazendo a diferença usando a tecnologia e a inovação para ajudar os animais abandonados.

A Motopaws, por exemplo, uma ONG fundada em 2015, criou colares para cães que refletem a luz, aumentando sua visibilidade e diminuindo assim, o risco de acidentes nas escuras ruas da Índia.

Oito mil cães receberam colares em 12 cidades indianas até o momento.  O próximo passo é a criação de  um aplicativo que possibilitará a ONG manter um banco de dados de cães em situação de rua e suas localizações, comemora o fundador Shantanu Naidu.

Outra ONG indiana, a Animals Matter to Me (AMTM, na sigla em inglês), criou um aparelho em 2017, que toca música instrumental para acalmar os cães durante festivais de música e tempestades com raios e trovões.

As caixinhas de som são presas ao pescoço dos animais pelo pessoal da própria ONG.  O aparelho também é vendido aos tutores de animais interessados e já recebeu mais de 3 mil pedidos até agora.

“Os acidentes diminuíram substancialmente em nossa vizinhança”, diz Saroj Soparkar, uma dona de casa de 45 anos que solicitou (elas são gratuitas) e colocou as coleiras Motopaws em 300 cães em sua vizinhança nos últimos cinco meses.

Cães abandonados rebem colar refletor para evitar atropelamentos | Foto: Motopaws

Cães abandonados rebem colar refletor para evitar atropelamentos | Foto: Motopaws

Cães abandonados rebem colar refletor para evitar atropelamentos | Foto: Motopaws

Cães abandonados rebem colar refletor para evitar atropelamentos | Foto: Motopaws


Voluntários colocam colar refletor em cão em situação de rua | Foto: Motopaws
 
Alguns dos ataques recentes a cães abandonados são assustadores. Em março, a polícia de Gurugram, no norte da Índia, encontrou carcaças de 12 filhotes com os crânios esmagados por tijolos, aparentemente.

Na cidade ocidental de Pune, quatro cães foram queimados vivos e outros 16 foram envenenados, em outubro de 2017. Um mês depois, 150 cães foram encontrados mortos por envenenamento no estado de Karnataka, supostamente o Conselho da aldeia assassinou os animais para resolver casos de mordidas de cães.

Também em 2017, um grupo de estudantes de medicina de Chennai jogou um cachorro de um prédio, e um vigia de Mumbai abusou sexualmente de outro. Ativistas ainda afirmam que o volume real de crimes supera em muito o número efetivamente denunciado.

A insensibilidade e a falta de conscientização não são os únicos desafios que os cães abandonados enfrentam tentando sobreviver nas ruas indianas. Enquanto dirigia para o trabalho, Naidu via vários cadáveres de cachorros pelas ruas, então ele resolveu fazer uma pesquisa, perguntou aos motoristas por que tantos cães estavam morrendo ali. “A maioria dos entrevistados afirmou que o problema era a visibilidade. No escuro da noite, eles não conseguiam enxergar os cães ”, diz ele.

Depois de testar alguns protótipos, Naidu, que é engenheiro de design, optou por um material com alta durabilidade, e implantou as placas retrorrefletivas nele. Estavam criados os colares refletores de luz da ONG Motopaw. Os colares refletores são fabricados por três alfaiates de Pune e têm um custo de fabricação de 50 rupias (74 centavos) por unidade. Em 2016, o renomado industrial indiano Ratan Tata apoiou a iniciativa.

As caixas de som da ONG AMTM também são frutos de pesquisa. O fundador, Ganesh Nayak, fez uma parceria com o compositor Siddharth Basrur, que criou uma mistura de música com tubos de bambu, flauta, água e panela. Além das caixas de som, a música, testada em 150 cães, também está disponível gratuitamente on-line e já foi baixada 40.000 vezes. Pesquisas mostram que “a cura pela música funciona três vezes mais em cães do que em humanos”, diz Nayak.

Cães abandonados são equipados com caixinhas de som que os acalmam em eventos barulhentos | Foto: Animals Matter to Me

Cães abandonados são equipados com caixinhas de som que os acalmam em eventos barulhentos | Foto: Animals Matter to Me

Cães abandonados são equipados com caixinhas de som que os acalmam em eventos barulhentos | Foto: Animals Matter to Me

Cães abandonados são equipados com caixinhas de som que os acalmam em eventos barulhentos | Foto: Animals Matter to Me


Caixinha de som, carregada com músicas instrumentais, acalma os cães durante eventos barulhentos 
 
Manisha Yadav de 28 anos, uma comerciante digital que vive em Mumbai, acompanhou esse impacto em primeira mão. Ela usou a caixinha de som em sua cadela da raça Boxer, Pumpkin, durante o festival de Diwali, amplamente celebrado com fogos de artifício por todo lado que costumam assustar muito os cães. O dispositivo ajudou a acalmar os nervos agitados de Pumpkin. “A caixinha de som  manteve-a em paz”, diz Yadav aliviada.

Colocar um colar reflexivo ou uma caixinha de som no pescoço dos cães abandonados não é tarefa fácil. “Eles geralmente resistem e, se você persegui-los, pode acabar sendo mordido”, diz Soparkar. Em sua vizinhança, os moradores que alimentam os animais abandonados também os usam, mas lá os cães são amigáveis e receptivos a eles, diz ela.

Os cachorros não são os mais difíceis de convencer. Essas ferramentas tecnológicas podem ajudar, mas a falta de leis mais duras para punir a crueldade animal e a apatia da polícia são indícios de que os autores de crimes contra animais raramente são punidos.

Salim Charania, presidente da ONG Peace for Animals Welfare Association (PAWA), com sede em Mumbai, apresentou durante quatro anos, todos os anos, em média 130 denúncias sobre crueldade, assassinatos e acidentes de trânsito envolvendo cães.

Ele anexou imagens e evidências em vários casos, mas ninguém foi condenado e os processos judiciais ainda se arrastam até hoje. “É como se ninguém, dos cidadãos à polícia, até o judiciário, se importasse com esses seres sem voz”, desabafa ele.

De acordo com a Lei de Prevenção à Crueldade contra os Animais, em vigor desde 1960, a pena máxima por crueldade contra animais, incluindo mutilar, chutar, espancar e torturar um cão vadio, é de meros 50 rúpias (74 centavos) para o primeiro delito. “Isso é uma penalidade escandalosamente ultrapassada”, diz Ashar da PETA

Enquanto a lei permanece estagnada e ineficaz, as soluções tecnológicas oferecem alguma esperança para o futuro. Embora não impeçam os crimes, neste momento, elas podem ser a melhor ajuda para os cães abandonados da Índia.
Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »