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12/06/2021 às 12h32min - Atualizada em 12/06/2021 às 12h32min

Desmatamento promovido pela pecuária pode ter relação com seca mais severa dos últimos 40 anos

A relação entre a seca e o desmate de extensões territoriais para criação de bois explorados para consumo humano foi relevada por imagens de satélite que expõem a devastação causada pela agropecuária

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A agropecuária é uma das maiores responsáveis pelo desmatamento das florestas (Foto: Daniel Beltrá/ Greenpeace)
A seca mais severa dos últimos 40 anos na Bacia do Rio Paraná pode ter relação com o desmatamento promovido pela pecuária, conforme demonstrado por imagens do satélite CBERS2. Essa relação também pode ser identificada no restante do país, já que o Brasil como um todo tem sofrido com a estiagem considerada excepcional por especialistas.

De acordo com os dados do satélite, unidos em uma coletânea de imagens a pedido do Governo de Mato Grosso do Sul, na década passada a agropecuária e as cidades já ocupavam 79,2% da área onde originalmente havia florestas – sendo que 61,2% desses territórios foram desmatados para serem transformados em pastos onde são criados bois explorados para consumo.

Os dados revelam não só uma causa para a seca atípica vivida atualmente, como mostram a relação entre a exploração animal e a ambiental, e também as consequências de ambas sobre a sociedade na redução da qualidade de vida dos brasileiros e no aumento dos custos mensais das famílias. Isso porque a ausência de chuvas reduz a qualidade do ar e aumenta o custo das contas de água e energia elétrica, já que a maior parte da eletricidade gerada no Brasil advém de usinas hidrelétricas.

O desmatamento deixa o ar mais árido e impede que o solo retenha umidade devido à ausência das raízes profundas das árvores. Nesse cenário, prejudica-se a oferta de água às nascentes do Centro-Sul do país, mantidas pela Bacia do Rio Paraná, que cobre seis estados, além do Distrito Federal, e fornece subsídios à sobrevivência de um terço da população brasileira.

Na última semana, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais apontou, através de nota, para o risco de apagões na rede elétrica e de falta d’água e informou que esse período de crise deve durar, no mínimo, até outubro na região que depende da Bacia do Rio Paraná, que em maio registrou 27 milímetros de chuva, contra 98 milímetros da média histórica. Essa situação já tem afetado, inclusive, o escoamento da safra de grãos do Paraguai e da Argentina por barcaças que navegam pelas hidrovias.

Desmatamento na Amazônia causa seca no resto do Brasil
A devastação ambiental não é um problema exclusivamente local. Por isso, promover queimadas e derrubar árvores – práticas realizadas frequentemente por pecuaristas, madeireiros, grileiros e garimpeiros – interfere no meio ambiente como um todo. Quando esse desmate ocorre na Amazônia, as consequências são ainda piores.

Em julho do ano passado, foram emitidos alertas sobre os efeitos do desmatamento na Amazônia, que estavam chegando ao restante do Brasil. Na época, o país já sofria com a seca causada pela redução nas chuvas. De lá pra cá, a situação só piorou.

Nos últimos dois anos, as regiões Centro-Oeste, Sul e parte do Sudeste, incluindo o estado de São Paulo, registraram quantidades de chuva inferiores à média histórica, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

De acordo com o cientista Antonio Donato Nobre, autor do relatório O Futuro Climático da Amazônia, “a América do Sul está secando devido aos efeitos combinados do desmatamento e das mudanças climáticas”.

O problema ficou mais claro em 2012. “A seca começou no Nordeste e durou quase sete anos de forma muito severa. Depois, em 2014, o abastecimento de água na área metropolitana de São Paulo ficou em condições críticas. Agora, as preocupações estão voltadas para o Sul, onde há quase dois anos as chuvas estão abaixo da média”, explicou a pesquisadora Adriana Cuartas, do Cemaden, em entrevista concedida no ano passado ao portal Mongabay Brasil.

Na época, a pesquisadora informou que a agricultura seria a primeira a sofrer as consequências da estiagem e alertou para um cenário vivido atualmente: o impacto da seca sobre o abastecimento de água e a geração de energia. Especialistas afirmam ainda que a crise pode se intensificar em 2022.

Uma árvore com cerca de 20 metros de copa bombeia aproximadamente 1,1 mil litros de água para a atmosfera diariamente. As massas de ar com vapor da transpiração da floresta amazônica, denominadas “rios voadores”, levam umidade até o Centro-Oeste, o Sudeste, o Sul e países vizinhos. Com o desmatamento, a umidade reduz e a seca surge.

Florestas no chão, animais em sofrimento
Além de causar imensa devastação ambiental, a agropecuária também condena milhões de animais a sofrimento e os impede de viver vidas felizes. Dotados de consciência e capazes de sofrer (conforme comprovado pela ciência), bois, vacas, porcos, frangos, pintinhos e outros tantos animais vivem vidas miseráveis, suportam sofrimento físico e psicológico e são mortos precocemente.

Os animais explorados para consumo humano são submetidos a extremo sofrimento. Maltratados, torturados e covardemente mortos, eles são vítimas da gula e da ganância. Criados para serem mortos, vivem muito menos do que viveriam se não fossem condenados à morte.

No caso dos bois, a indústria, que os vê como mercadorias lucrativas, os queima com ferro quente para identificá-los, os eletrocuta com picanas elétricas para guiá-los de maneira forçada, e os mata precocemente. Após serem queimados e eletrocutados – procedimentos dolorosos que causam sofrimento físico e psicológico -, eles são amontoados em caminhões superlotados.

Em meio aos próprios excrementos e sem espaço para deitar e descansar, eles viajam por horas. Sofrem com a privação de água e alimento, além de suportarem as condições climáticas sem qualquer abrigo. Quando o tormento do transporte chega ao fim, sem que acidentes ocorram, inicia-se a tortura da morte. Em caso de acidentes, os bois são deixados à própria sorte. Veterinários não são acionados e eles agonizam até perderem a vida. Os que sobrevivem são levados de volta ao matadouro.

A vida não é menos tenebrosa para as aves exploradas para consumo humano. Presas em gaiolas minúsculas, nas quais ficam em pé sobre grades desconfortáveis, ou confinadas em galpões superlotados, elas suportam sofrimento inimaginável.

O estresse é tamanho que esses animais costumam mutilar a si mesmos e arrancar partes dos corpos das outras aves em resposta ao abalo psicológico que sofrem. Para evitar a mutilação, os fazendeiros submetem as aves ao processo de debicagem, por meio do qual o bico desses animais é cortado sem qualquer anestesia – procedimento que causa bastante dor.

As galinhas poedeiras são tratadas como verdadeiras máquinas. Os frangos suportam a terrível vida do confinamento até serem mortos. Os pintinhos, por sua vez, por não pertencerem à mesma linhagem dos frangos e por não terem a capacidade de botar ovos como as fêmeas, são mortos ainda filhotes, triturados vivos.

Os porcos também vivem vidas miseráveis. As fêmeas são aprisionadas em jaulas minúsculas, que impedem sua movimentação e nas quais permanecem até o dia em que são mortas. Os filhotes são castrados sem anestesia, muitas vezes na frente das mães, que se desesperam sem poder salvá-los. A verdade é que na indústria não existe animal que não sofra, independentemente da espécie.

Na tentativa de mostrar aos consumidores que a carne na prateleira advém de um animal que só conheceu a dor e o sofrimento, ativistas apelam ao resgate da compaixão de cada um e pedem por mudanças de hábitos. E é justamente esse ativismo que contribui para a atual ascensão do veganismo, que tem recebido cada vez mais adeptos que percebem que é preciso andar na contramão do senso comum para fazer a própria parte e não colaborar com o sofrimento de seres sensíveis, com a destruição do meio ambiente, com o adoecimento próprio devido às doenças decorrentes do consumo de produtos de origem animal – como o câncer e problemas cardíacos -, e com o deterioramento da saúde pública, já que vírus pandêmicos, como o coronavírus, têm relação com a exploração animal – a Covid-19 surgiu em um mercado onde animais vivos e mortos eram vendidos, nada muito diferente do que ocorre nos matadouros brasileiros.

Todo esse ciclo de horror prova que a carne que chega ao prato dos consumidores é resultado de uma vida miserável de um animal que teve seus direitos negados, foi explorado e tratado como um objeto descartável.

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