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29/05/2019 às 14h50min - Atualizada em 29/05/2019 às 14h50min

Moradores de Minas Gerais convivem com 4 barragens da Vale em nível de alerta máximo

Nesta terça, empresa disse que chance de barragem não se romper em Barão do Cocais é "grande", mas manteve nível de alerta 3, o mais alto.

Huff Post
Foto: Divulgação
Quatro meses após a tragédia em Brumadinho que deixou 244 mortos e 26 desaparecidos, a iminência do rompimento de outras 4 barragens da Vale em Minas Gerais tem tirado o sono de quem vive próximo a elas. Os informes praticamente diários indicam situação delicada especialmente na barragem Sul Superior da Mina de Gongo Soco em Barão de Cocais.

A barragem da Mina do Congo Soco viu seu nível de segurança subir de 1 para 2 no início de fevereiro. No fim de março foi de 2 para 3, o mais elevado. A barragem foi a primeira a atingir o alerta máximo depois de Brumadinho. Desde então, a rotina dos 32 mil moradores da cidade mudou completamente. Três simulados de emergência já foram feitos para treinar os moradores de áreas de risco a seguir, pelas rotas de fuga, até pontos de encontro.

Teoricamente eles têm 1h30 a partir do rompimento da barragem para deixarem suas casas antes de o mar de lama chegar. No último simulado, com participação de 1,6 mil pessoas — cerca de 30% da população esperada — , foram necessários 43 minutos para reunir os participantes nos pontos seguros.

Um dos fatores que deixa a população de sobreaviso é a inconsistência das informações. A Defesa Civil Estadual diz que não é possível afirmar qual o tamanho exato da estrutura que pode ruir sobre a mina - o que pode impactar na barragem de resíduos de minério que fica a 1,5 km dali.

Nos últimos dias tem aumentado a velocidade de movimentação do talude que escora a mina. Um estudo da Vale apresentado ao Ministério Público de Minas Gerais, obtido, indica que a possibilidade de rompimento pode gerar uma “inundação generalizada em áreas rurais e urbanas”.

Nesta terça-feira (28), a Vale informou que o risco de desastre total é baixo. Em nota, a empresa informou que as “últimas análises da movimentação do talude norte na cava da mina de Gongo Soco apontam para a maior probabilidade de um deslizamento do material para dentro da cava”. Isso significaria uma menor possibilidade de impacto sobre a barragem.

Ainda assim, a empresa ressalta que, mesmo “que não haja ruptura com a queda do talude, a barragem Sul Superior permanece no nível 3 de alerta”.

O diretor de Operações da empresa, Marcelo Barros, afirma que, mesmo com menor risco de maiores consequências, foram realocados todos os residentes das Zonas de Autossalvamento (ZAS) - áreas que seriam alagadas em menos de 30 minutos ou que estão a menos de 10 quilômetros da estrutura que corre risco. Também foram retirados mais de 3 mil animais e peças de arte sacra dessas regiões.

O chefe do Departamento de Engenharia de Minas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Roberto Galéry, diz que o caso de Barão do Cocais é o resultado de “tristes lições aprendidas sendo postas em prática”. Segundo ele, o monitoramento 24 horas que a empresa tem feito é o principal passo para evitar uma tragédia maior.

“Antecipando o acidente minimiza o dano, seja em termos humanos, físicos, ambientais e patrimoniais.”

Ele ressalta que o fato de monitorar não significa que não vai ter acidente, mas evita vítimas. Para ele, o muro de concreto que a Vale está fazendo para evitar que a barragem seja atingida pode evitar maiores danos.
 
Técnica ultrapassada

Todas as barragens que estão em nível máximo de alerta foram construídas seguindo o sistema de alteamento a montante — o mesmo das barragens do Córrego do Feijão, em Brumadinho, e do Fundão, da tragédia de Mariana, em 2015. Nesse método, erguem-se novas fases da barragem sob rejeitos já depositados e drenados. É, segundo especialistas, o jeito mais barato, instável e ultrapassado.

Galéry ressalta que essa é uma tecnologia que vai ter que ser eliminada. “Vai ser muito difícil alguém propor este tipo de construção em projetos novos e mais difícil ainda que os órgãos reguladores aceitem. É um método que está condenado e há outras opções mais avançadas e seguras disponíveis.”

Em janeiro, a Vale informou que, desde 2015, as 10 barragens que usam este tipo de sistema já estavam inativas e não recebiam mais nenhum rejeito de minério. A barragem de Barão de Cocais, porém, foi paralisada um ano depois, em 2016.

“O grande problema continua sendo essas estruturas porque elas existem, elas continuam aí. O ideal é sair desse tipo de tecnologia e descomissionar as barragens por ordem de prioridade [o processo dura de 1 a 3 anos]. Indústria, órgãos fiscalizadores e a sociedade em alerta não significam que acidentes não venham a ocorrer, mesmo que previstos”, diz o especialista da UFMG.

Em janeiro, o então presidente da Vale Fabio Schvartsman — afastado pouco mais de um mês após a tragédia — afirmou que uma das prioridades seria acelerar o descomissionamento desse tipo de barragem. Segundo ele, naquela data, a Vale tinha laudos de estabilidade e auditorias recentes que comprovavam que as estruturas eram seguras.

No entanto, duas semanas após o rompimento da barragem em Brumadinho, a fiscalização aumentou em cima das outras barragens e o nível de alerta em algumas delas foi subindo. Além da barragem Sul Superior da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, também estão sob alerta as barragens B3/B4, Forquilha I e Forquilha III, todas em municípios de Minas Gerais.

A B3/B4 compõe a Mina Mar Azul, em São Sebastião das Águas Claras, um distrito de Nova Lima. Já as Forquilha I e III integram a Mina Fábrica, em Ouro Preto. Caso haja rompimento de Forquilha I, dois bairros de Belo Horizonte, Maria Tereza e Beija-Flor, podem ser atingidos.
 
Tragédia de Brumadinho

No último dia 25, a tragédia do rompimento da barragem em Brumadinho completou 4 meses. O número de vítimas segue em atualização. Nesta terça-feira (28), mais uma vítima foi identificada e o número de mortos chegou a 244. Com 26 desaparecidos, o trabalho dos Bombeiros continua. Duas equipes ainda estão ativas, com cães farejadores, 110 máquinas pesadas e um drone.

As famílias ainda cobram reparação. De acordo com a Defensoria Pública de Minas Gerais, até 24 de maio foram fechados 21 acordos de indenização individuais das famílias com a empresa. O Ministério Público tem orientado as vítimas para que não aceitem o contrato que a Vale está propondo.

Os inquéritos sobre a tragédia ainda estão em curso. São investigadas 13 pessoas, que ficaram presas ao menos dois dias. A multa de R$ 250 milhões pelos 5 autos de infração aplicados pelo Ibama ainda não foi paga. Já a multa de R$ 99 milhões aplicada pelo governo de Minas Gerais, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, foi paga.

Além da perda de vidas humanas, o desastre atingiu o meio ambiente como um todo. O Rio Paraopeba, afetado pela lama de rejeitos, por exemplo, teve sua morte decretada pela SOS Mata Atlântica. Áreas significativas de Mata Atlântica e Cerrado também foram perdidos.
 
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