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13/05/2024 às 09h16min - Atualizada em 13/05/2024 às 09h16min

Cheias no RS: perfis nas redes sociais auxiliam no reencontro de animais perdidos com seus tutores

Correio do Povo
Foto: Ache seu pet POA / Reprodução
Quem tem um animal doméstico sabe que a expressão “faz parte da família” não é uma frase exagerada. Muito pelo contrário. Assim, é de se imaginar que, em meio a tantos dramas vividos pelos gaúchos nessas últimas semanas em função das chuvas que castigam o Estado, o desencontro forçado com os pets têm sido motivo de preocupação para muitos tutores que, na pressa de sair de casa por causa da velocidade e da força das águas, não conseguiram levar junto o cachorro ou o gato, por exemplo.

Milhares de animais foram resgatados ao longo destes dias trágicos e alguns passaram a ter um lar temporário na casa de voluntários. E muitos foram deslocados para abrigos e lá permanecem à espera do tutor. Para auxiliar neste processo de reencontro, vários perfis em redes sociais, principalmente no Instagram, têm sido criados estabelecendo uma espécie de banco de dados que busca facilitar a tarefa tanto de quem está à procura do bichinho perdido, como de quem resgatou os animais e tenta encontrar seus tutores.

A fotógrafa Érica Moraes percebeu logo nos primeiros dias das cheias em Porto Alegre e Região Metropolitana que a situação em relação aos animais resgatados estava saindo do controle e se tornando mais complexa do que qualquer um podia imaginar. “Percebemos que o buraco era bem mais embaixo. Começamos a nos perguntar como eles encontrariam seus tutores novamente, já que muitas vezes não se sabia nem de onde eles tinham vindo”, conta ela, idealizadora, ao lado da amiga Jo Brandi Vieira, do “Tô Salvo Pet POA”, que reúne fotos tanto de animais resgatados como daqueles pets que os donos disponibilizam algum registro na esperança de que alguém saiba o paradeiro. “Já estávamos seguindo um perfil que divulga pessoas desaparecidas e resgatadas, o que nos motivou a criar um perfil para animais também”, completa ela.

O ponto de partida para a administradora e bancária Fernanda Santiago de Souza não foi muito diferente. Ainda que não corresse risco de alagamento, ela própria teve que sair de Cachoeirinha, onde mora, e ir para a casa dos pais, em Gravataí, dadas as condições em função das cheias e passou a atuar como voluntária em vários locais.

Até que na segunda-feira passada, estava com a amiga Kerolain, no abrigo criado na Ulbra, em Canoas: “Estava um caos. Não sabiamos nem por onde começar. Era um monte de caminhão chegando com os animais. Pensei: ‘como os donos vão encontrar esses pets?’. Pergutamos se já tinha um perfil de Instagram, não tinha. Pediram então para a gente fazer porque eu estava com internet no celular”. E assim nasceu o “Ache seu Dog Ulbra”, que conta com quase três mil seguidores e foca nos animais que estão no galpão do fundo do abrigo da universidade em Canoas.

Os dois perfis são apenas alguns exemplos. Quem jogar termos como “ache”, “pet”, “salvo” ou “resgate” no Instagram vai achar vários outros, alguns com abrangência mais específica, outros mais amplos. Na essência, o princípio é o mesmo em todos: fotos de cachorros e gatos com algumas informações como características e localização – onde estão no caso dos resgatados; onde estavam no caso dos perdidos.

Alguns, como o “Ache seu Pet POA”, criam várias categorias de acordo com os locais para facilitar a busca a quem acessa o conteúdo. Em menos de uma semana, o perfil já tem 574 publicações e é seguido por mais de 2,2 mil usuários.

Érica, do “Tô Salvo Pet POA” dá algumas dicas que podem ajudar o reconhecimento dos pets. “Ao entrar em contato, é importante prestar atenção à qualidade das informações compartilhadas. No caso de um cão desaparecido, envie fotos nítidas que mostrem as principais características do animal e, se possível, de vários ângulos. O mesmo vale para um cão resgatados. Neste momento, precisamos encarar a fotografia como um poderoso instrumento de identificação. Além disso, é fundamental fornecer informações claras, como contato e localização”, explica.

INTEGRAÇÃO PARA TER MAIS ALCANCE
Uma das características do povo gaúcho mais exaltadas nestes últimos dias é a capacidade de união em torno de uma causa maior. A lógica segue valendo no caso dos perfis sobre animais perdidos e resgatados.

As contas no Instagram são muitas, mas o que se vê não é uma concorrência entre elas para ver quem consegue o melhor engajamento, algo tão comum em outras categorias. Aqui o foco é no alcance. Não por acaso, as parcerias são tão frequentes. “Não houve uma comunicação ou combinação para fazer isso. De repente estávamos já criando collabs no Instagram para as publicações irem para todas as páginas. Não existe negar, sabe? O ideal é que se esteja no máximo de páginas possível, facilitando o encontro desses animais com suas famílias”, revela Lauren Menger, responsável pelo “Ache seu Pet POA” ao lado das amigas Thuany e Carolina.

Vale a ressalva de que nem todos os perfis têm uma conexão direta com os abrigos, servindo apenas como meio de campo entre as duas pontas e oferecendo a divulgação como sua grande contribuição em um momento de tantos esforços. Mas há sim aqueles mais específicos que vivem a rotina dos lugares.

Fernanda, do “Ache seu Dog Ulbra”, conta que os animais resgatados recebem atenção especial principalmente no momento da chegada, com um acompanhamento mais demorado para ver as necessidades de cada um. Mais tarde, se a pessoa responsável aparecer, alguns questionamentos são feitos antes do cachorro voltar para a família. “A gente pede para descrever algumas caracteristicas especificas para confirmar que realmente a pessoa é o tutor. Só libera a partir disso, tem que comprovar de alguma forma que o ‘dog’ é seu”, explica ela.

Quando tudo dá certo, bem, aí o sentimento é o melhor possível para quem tanto fez para o reencontro acontecer: “É uma sensação absurda. Ficamos muito felizes e emocionadas. Eu chego em casa, olho minhas duas gatas e fico pensando o que eu faria se perdesse elas, ia ficar desesperada. Então me coloco muito no lugar destes donos”, descreve Fernanda.

O EXEMPLO QUE VEM DE MINAS
De Minas Gerais, vem outra ferramenta que já é utilizada há mais tempo e pode auxiliar também para que os reencontros entre os bichos e seus donos aconteçam o quanto antes nas tragédias do RS. O que muda aqui, no entanto, é a plataforma. Em vez das redes sociais, um site propriamente dito. No caso, o I Love You, Pet, ou simplesmente ILY. Criado pelo desenvolvedor Tiago Braga, a página é voltada para pets em geral, servindo como uma espécie de planilha organizacional com dados, por exemplo, sobre vacinas. No entanto, é o seu mecanismo de busca de animais perdidos que se destaca.

Tiago explica que inicialmente o usuário preenche um cadastro – tudo de forma gratuita. Se o dono perdeu o seu pet, ele coloca na plataforma, as características do bichinho, tal qual os perfis do Instagram. Então começam as diferenças. No ILY, existe a possibilidade de a pessoa se cadastrar para receber alertas, de acordo com a localização, sobre animais perdidos. O raio de busca quem vai delimitar é o próprio usuário. Outras pessoas inscritas no mesmo site, quando entram na região citada recebem uma mensagem sobre o animal, o que pode ajudar no processo.

No caso das enchentes no RS, o desenvolvedor mineiro revela que tem tentado entrar em contato com o maior número possível de pessoas que têm resgatado animais das águas e casas abandonadas, sugerindo que façam também o cadastro na plataforma, para ampliar as chances de serem encontrados. “Quanto mais pudermos mapear, catalogar, colocar a foto, raça, sexo, espécie, mais teremos um grande banco de dados”, explica.

A plataforma ILY já conta com uma área específica para os casos de animais perdidos no Rio Grande do Sul, que já conta com 50 registros de animais resgatados no Estado. Caso algum dos pets seja identificado, há a possibilidade de se estabelecer contato com os abrigos ou responsáveis por várias vias: WhatsApp, Instagram ou X (Twitter).

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