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08/12/2023 às 20h46min - Atualizada em 08/12/2023 às 20h46min

Retirados da natureza: tráfico de macacos ameaçados cresce para suprir demanda de laboratórios

Redação ANDA
Divulgação/Jo-Anne McArthur/We Animals Media
Em 2019, Jonah Sacha, pesquisador da Oregon Health and Science University, enfrentou um contratempo em sua pesquisa sobre transplantes de células-tronco para tratar o HIV. Ao receber uma entrega de 20 macacos das Ilhas Maurício, legalmente importados e aparentemente saudáveis, Sacha descobriu que um deles tinha tuberculose latente. A situação não apenas inviabilizou o uso dos macacos no estudo, mas também levantou dúvidas sobre a origem desses animais, questionando se foram realmente criados em cativeiro, como afirmado pelo fornecedor.

Esse incidente joga luz sobre o obscuro mercado de importação de macacos para pesquisas laboratoriais, uma indústria que enfrenta escassez global e preços elevados, alimentando um comércio ilícito em expansão. A carência de macacos de laboratório não apenas compromete a pesquisa científica, mas também representa uma ameaça à saúde pública, cria riscos de novas pandemias e incentiva o tráfico de vida selvagem.

Os macacos de cauda longa, a espécie mais comercializada para pesquisa de laboratório, são cruciais para estudos sobre doenças infecciosas, neurociência e desenvolvimento de medicamentos. Antes da pandemia, o preço desses animais variava de US$ 2.000 a US$ 5.000; no entanto, a escassez elevou esses custos para cerca de US$ 20.000. A dificuldade em adquiri-los afeta pesquisadores globalmente, comprometendo investigações importantes.

A escassez de macacos resultou em problemas semelhantes na Europa, onde algumas pesquisas foram abandonadas devido à falta de animais. Com a China proibindo o comércio de animais selvagens em 2020, após a pandemia de Covid, o Camboja emergiu como um importante exportador de macacos para suprir a demanda crescente.

No entanto, essa expansão na produção levanta questões sobre práticas sustentáveis e regulamentação. Em novembro de 2022, o Camboja enfrentou um escândalo de contrabando, com milhares de macacos capturados ilegalmente sendo enviados para os EUA, falsamente rotulados como criados em cativeiro. Esse incidente acentua a urgência de abordar as práticas questionáveis e os riscos associados ao comércio de macacos para pesquisa.

A população selvagem de macacos de cauda longa diminuiu 40% nos últimos 30 anos, com previsão de declínio adicional. O uso de macacos capturados na natureza ou provenientes de criação intensiva aumenta o risco de transmissão de doenças entre humanos e animais, configurando uma potencial bomba patogênica.

Diante desses desafios, ativistas dos direitos dos animais pedem o fim do comércio cruel de macacos, alertando para a ameaça à saúde pública e sugerindo alternativas, como investir em tecnologias “órgão em chip”. O relatório das Academias Nacionais dos EUA também propõe a expansão das instalações de criação nacionais para reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros.

Nota da Redação: a exploração de macacos em experimentos é uma prática cientificamente condenável. Além de levantar sérias preocupações sobre o bem-estar animal, essa abordagem desconsidera alternativas modernas e humanitárias, como tecnologias “órgão em chip”. A dependência contínua desses experimentos revela uma falta de progresso na busca por métodos mais éticos e eficazes, representando uma séria falha no compromisso com o avanço responsável da ciência.

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