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28/02/2023 às 08h33min - Atualizada em 28/02/2023 às 08h33min

Iniciativas no Senado buscam ajudar brasileiros com doenças raras

Agência Senado
Laissa Vasconcellos, portadora de Atrofia Muscular Espinhal (AME), na comemoração do Dia Mundial das Doenças Raras no Senado, em 2020 (Foto: Divulgação/Agência Senado/Jane de Araújo)
O Dia Mundial das Doenças Raras será lembrado ao redor do mundo nesta terça-feira (28). A estimativa do Ministério da Saúde é que existam, pelo menos, 13 milhões de brasileiros com essas enfermidades. Para 95% deles, não há um tratamento específico. No Senado, a preocupação em ajudar os brasileiros que sofrem com essa condição está presente em várias iniciativas – como audiências públicas, criação de subcomissões e apresentação de projetos.

Doenças raras são definidas pelo número reduzido de pessoas afetadas: até 65 indivíduos a cada 100 mil pessoas, pelo critério adotado no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas doenças são caracterizadas por uma ampla diversidade de sinais e sintomas, que variam de enfermidade para enfermidade, assim como de pessoa para pessoa afetada pela mesma condição.

A senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) aponta que, no caso das doenças raras, o que mais se vê é a exclusão. De acordo com ela, falta conhecimento da sociedade como um todo sobre a realidade de milhões de brasileiros que têm uma doença rara e não conseguem ter acesso a diagnóstico precoce, tratamento adequado e multidisciplinar, além de medicamentos e informação correta e de qualidade.

— Não é possível pensar em política de inclusão sem incluir — registra a senadora, que é cadeirante, à Agência Senado.

O projeto que trata da Política Nacional para Doenças Raras (PLC 56/2016) foi modificado no Senado e devolvido à Câmara dos Deputados em 2018. Na visão de Mara Gabrilli, falta vontade política para que essa proposta volte a tramitar. A senadora explica que a Política Nacional é muito relevante e prevê, entre outras medidas, que cada estado deverá estruturar pelo menos um centro de referência em doenças raras para atenção à população. Além disso, determina a criação de um núcleo de especialistas e de comitês para ampliar a capacitação para tratamento e encaminhamento dos pacientes, assim como para fornecer suporte às famílias.

Apesar das críticas, a senadora destaca boas iniciativas. Ela cita a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, instituída pela Portaria 199/2014 do Ministério da Saúde, e a lei estadual 17.618, de 2023, de São Paulo, que criou a Política Estadual de Fornecimento Gratuito de Medicamentos à Base de Canabidiol. Segundo Mara, a lei paulista é um passo importante e pioneiro e que pode se tornar espelho para o restante do país, já que atenderá um grande número de pacientes de doenças raras. 

— É se espelhando em avanços e encarando os desafios que devemos celebrar esse Dia Mundial das Doenças Raras, unindo forças e dando cada vez mais voz e alcance a brasileiros — afirmou a senadora.

Subcomissão
O senador Flávio Arns (PSB-PR) registra o fato de a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) ter uma subcomissão específica voltada para este tema. A Subcomissão de Acompanhamento das Políticas Públicas para as Pessoas com Doenças Raras funcionou em caráter temporário entre 2019 e 2021, quando se tornou permanente. No último biênio, o colegiado foi presidido pela senadora Mara Gabrilli.

Para Arns, a subcomissão é muito importante, diante do grande número de doenças raras identificadas e de cidadãos com essas enfermidades. O senador diz que o número de brasileiros com doenças raras pode chegar a 15 milhões. Ele lembra a importância do diagnóstico precoce, do acesso aos medicamentos, da orientação de atendimento, dos acompanhamentos complementares e do apoio para a família. Esse conjunto de ações, ressalta Arns, pode ajudar o paciente a estabilizar sua doença.

— Se os direitos humanos são respeitados, a família fica mais tranquila e a pessoa com doença rara vai ser mais bem atendida, para exercer em plenitude sua cidadania, que é o que a gente deseja — declarou o senador.

No início do ano passado, em uma audiência pública da CAS, os debatedores pediram a incorporação, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), da medicação para a lipofuscinose ceróide neuronal tipo 2 (CLN2), mais conhecida como doença de Batten. A doença de Batten é causada por alterações em diversos tipos de genes, gerando perdas neurodegenerativas. Flávio Arns e Mara Gabrilli foram os autores do requerimento para o debate.

Leis e projetos
Uma das bandeiras do senador Romário (PL-RJ) é a defesa dos direitos da pessoa com deficiência ou com doenças raras. Foi ele o relator do projeto que derrubou o chamado “rol taxativo” para a cobertura de planos de saúde (PL 2.033/2022). A recusa das operadoras em atender determinadas demandas atingia, de forma específica, as pessoas com doenças raras. O projeto, que deu origem à Lei 14.454, de 2022, foi aprovado no Senado em agosto do ano passado.

É de iniciativa de Romário o projeto que institui a Semana Nacional da Informação, Capacitação e Pesquisa sobre Doenças Raras (PL 1.491/2022), a ser comemorada na última semana do mês de fevereiro. O substitutivo da Câmara dos Deputados ao projeto aguarda votação na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).

Romário também é autor do projeto (PLS 682/2015) que deu origem à lei que criou o Dia Nacional de Luta Contra a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) (Lei 13.471, de 2017). A data escolhida foi 21 de junho, mesmo dia em que é comemorado o evento em outros países do mundo. A lei que institui o Dia Nacional de Combate ao Preconceito contra as Pessoas com Nanismo (Lei 13.472, de 2017), em 25 de outubro, também tem origem em um projeto do senador Romário (PLS 657/2015).

A senadora Leila Barros (PDT-DF) é autora do projeto que torna obrigatória a notificação às autoridades sanitárias dos diagnósticos, agravos e eventos em saúde relacionados a doenças raras, devendo os estabelecimentos de saúde informar e treinar os seus profissionais quanto aos procedimentos de notificação (PL 4.691/2019). Aprovado no Senado em novembro de 2021, o projeto foi enviado para a análise da Câmara dos Deputados.

Outra proposta, de autoria do senador Chico Rodrigues (PSB-RR), estabelece e regulamenta a profissão de cuidador de pessoa com doença rara (PL 76/2020). A matéria está em análise na CAS, e também se aplica a cuidadores de idosos, crianças e pessoas com deficiência.

O Senado também está analisando o projeto que obriga os serviços de saúde a fornecerem aos pais de recém-nascidos com doenças raras informações sobre serviços referenciais e especializados para a condição da criança (PL 3.219/2019). O texto veio da Câmara dos Deputados e ainda aguarda despacho às comissões.

Datas e dados
O Dia Mundial das Doenças Raras foi instituído em 2008 pela Organização Europeia de Doenças Raras. O dia escolhido foi 29 de fevereiro, por ser este um dia raro no calendário. Nos anos não bissextos, a comemoração ocorre no dia 28 de fevereiro. Há cerca de 7 mil doenças raras descritas, sendo 80% de origem genética e 20% de causas infecciosas, virais ou degenerativas. Apenas 3% dessas doenças têm tratamento cirúrgico ou medicamentos regulares que atenuam sintomas. Cerca de 75% delas ocorrem em crianças e jovens. Os dados são do Ministério da Saúde. A Biblioteca Virtual em Saúde, do ministério, mantém uma lista com várias enfermidades que são consideradas doenças raras.
 
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