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25/11/2022 às 11h28min - Atualizada em 25/11/2022 às 11h28min

RELIGIÃO: USO DAS BOAS PRÁTICAS SIM; SUBSERVIÊNCIA ÀS MANIPULAÇÕES ESCUSAS DE PESSOA, GRUPOS OU ENTIDADES NÃO.

MENILDO JESUS DE SOUSA FREITAS.
Entende-se que há distinção clara entre a fé e religião. A fé está associada a individualidade, ou seja, quando o indivíduo acredita fortemente em algo, ainda que possa não dispor de qualquer evidência de que seja real ou verdadeiro o objeto da sua fé. Etimologicamente a palavra tem origem grega, cujo significado é confiança ou pleno convencimento. A fé pode derivar ou estar atrelada a razões ideológicas, emocionais, religiosas ou qualquer outra motivação.
 
Já religião é reunião de dogmas, ritos e práticas doutrinárias ou conjunto de crenças que, ao longo da história, estão vinculadas ao sobrenatural, ao divino ou descrito como sagrado. O usual é que a religião, seja qual for, requer dos seus adeptos a fé. Em síntese, a fé tem por alicerce a concepção íntima de cada indivíduo na confiança em algo. Já a religião busca, através de uma organização materialmente estruturada ou sistema organizado, manter-se sob a concepção ou construção da fé em algo imaterial ou divino. Por necessitar se mostrar formalmente presente, ou seja, expor-se fisicamente em locais destinados às práticas religiosas como igrejas, centros de cultos, templos ou outra denominação que se possa lhes atribuir, a religião é concebida, constituída e conduzida por homens e mulheres, seres não divinos.
 
No Brasil tem supremacia, dentre as diversas religiões aqui existentes, a religião cristã, seja na sua concepção católica, seja na sua concepção outrora denominada protestante, hoje difundida e disseminada por diversas seitas autodenominadas de evangélicas. Mas fato é que o pressuposto basilar por ela propugnado pelos homens e mulheres que a conduzem, visando justificar comportamentos, atos e ações impostos e cobrados dos indivíduos que frequentam os espaços destinados aos seus ritos, é a interpretação que fazem de livros seculares que se reportam a períodos longínquos, cujo conteúdo ou escritos têm relação direta com contextos remotos e muito específicos, abrangendo costumes que não guardam quaisquer consonância com os dias atuais, como, por exemplo, o patriarcado arcaico descrito naqueles livros em que a figura feminina é vista ou tida apenas para procriar, ser mãe e esposa com dever servil ao marido seu amo e senhor.
 
Por outro lado, não se pode deixar de enaltecer o ensinamento de boas práticas disseminadas, ainda que nem sempre seguidas ou praticadas até mesmo por aqueles que as difundem, como, por exemplo, o amor ao próximo o qual entende-se deva ser incondicional, ou seja, independente de crença ou convicção contrária a minha, do sexo ou preferência sexual, da condição social, patrimonial ou financeira. Citam-se, também, o perdão, a caridade etc. Mas, na prática, fundamentalistas distorcem esses ensinamentos e valores e, agindo no sentido inverso, promovem a disseminação de preconceitos e, em alguns casos, até do ódio contra tudo e contra todos os contrários as suas ideias sectárias e inflexíveis.
 
Vê-se que comumente ocorre em grande proporção, infelizmente, a busca desesperada de determinados indivíduos por espécie de escudo ao se verem ou se encontrarem ao desamparo social, econômico ou sob outro pesado fardo pessoal psicológico ou material. Ou seja, buscam sair de situação aflitiva através simplesmente ou unicamente da religião, o que segundo Hegel (HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich), trata-se de verdadeiro escárnio supor ou fazer crer que todo movimento contra situação adversa ou sofrimento ante problema qualquer possa ser rechaçado, extirpado pelo simples fato de o oprimido buscar ou encontrar consolo na religião. Não se pode esquecer que a religião, como exposto, materializada e formalmente organizada é mantida por homes e mulheres terrenos que podem, por desvio de conduta ou caráter, buscar impor-se mediante a prática da mais dura e cruel das servidões com uso e o peso da pressão de crença ou superstição, promovendo, ao contrário do desejado ou esperado pelo individuo, a sua degradação.
 
Entende-se como assertiva outra manifestação de Hegel, na qual expõe que a pessoa não deva simplesmente aceitar doutrina religiosa sem que antes busque compreendê-la e possa justificá-la racionalmente. Para ele, independentemente da doutrina, para que se possa aceitá-la deve ela passar pela intensa reflexão da pessoa, não podendo ser aceita meramente com base na autoridade ou suposta autoridade de pessoa qualquer ou de entidade religiosa.
 
Apenas com a liberdade de pensar, do livre arbítrio, dentro do permissível pelas normas a todos impostas, é possível pensar e agir no curso da história quando os fatos se apresentam e acontecem, amparados, portanto, na essencial e indisponível prerrogativa de cada indivíduo ser o autor da sua história e da História, ou seja, que cada um de nós possamos ser sujeitos da História. Sem a consciência da liberdade e da sua importância, devidamente lastreada no conhecimento, o indivíduo deixa-se conduzir pela necessidade do instinto e pode se tornar mero objeto ou marionete de pessoas ou grupos, inclusive os denominados ou autodenominados religiosos.
 
O Estado, como preconizado pela constituição federal vigente, deve se manter laico. Assim, gestores públicos e pessoas ou entidades religiosas devem atender os anseios e demandas que lhes são afetas, mas dissociados uns dos outros e dentro dos limites de suas atribuições, competências ou outorgas. A história é evolução ou revolução, ainda que em dados momentos seja cíclica, ou seja, assistamos a repetição parcial ou a total do ocorrido no passado, mas certo é que há sempre progresso que se apresenta conforme os níveis de cultura, conhecimento e consciência social, cuja mola propulsora e sempre a liberdade de modo geral e, de modo específico, a liberdade consciente de pensar.
 
 MENILDO JESUS DE SOUSA FREITAS.
Contador. Mestre em Ciências Contábeis. Membro da Academia Mineira de Ciências Contábeis. Perito Contador aposentado do Ministério Público da União. Professor Universitário.
[email protected]. Acesso currículo LATES/CNPQ: http://lattes.cnpq.br/3513686790576392

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