22/01/2020 às 14h06min - Atualizada em 22/01/2020 às 14h06min
Por que a camisa 24 ainda é um tabu no futebol brasileiro
Volante Victor Cantillo, do Corinthians, foi impedido de usar numeração de seu antigo clube por causa de referência à homossexualidade
Vinícius Mendes
Assessoria de Imprensa
Foto: Divulgação O volante colombiano Victor Cantillo, um dos principais reforços do Corinthians para a temporada, sempre usou a camisa 24 no Junior Barranquilla, onde atuava na Colômbia. Porém, ele foi orientado a mudar seu número na chegada ao Brasil pela diretoria do clube.
A afirmação veio do próprio diretor de futebol, Duílio Monteiro Alves, que durante a coletiva de apresentação chegou a brincar com a antiga camisa. “Aqui não tem 24”, disse rindo. Horas depois ele gravou um vídeo pedindo desculpas à torcida pela ironia.
A questão, no entanto, não se limita a ele: há alguns anos, quem vai ver
futebol ao vivo nos estádios brasileiros pode se deparar com gritos homofóbicos quando os goleiros cobram o tiro de meta. Na partida entre Grêmio Osasco Audax e Sport, pela Copa São Paulo de Futebol Júnior, o árbitro chegou a paralisar a partida e pedir ao policiamento do estádio para impedir que xingamentos ao arqueiro do time pernambucano continuassem.
Em 2019, porém, as transmissões dos
jogos ao vivo passaram se posicionar, e o assunto tomou as redes sociais em algumas partidas durante a temporada.
Além disso, a própria camiseta dificilmente é usada pelos times: um levantamento feito recentemente mostrou que, dos 419 jogadores em campo na última rodada da Série A do Brasileirão, apenas um deles usava a 24: o terceiro goleiro do Grêmio. Na Copa Libertadores do ano passado, porém, o Flamengo deu o número para o zagueiro espanhol Pablo Marí, que no Campeonato brasileiro usava a 4.
Mas qual é a questão com a camisa 24? A explicação mais imediata é que o número associa ao que representava o veado no popular jogo do bicho – e o animal, por sua vez, sempre foi associado à homossexualidade.
“O futebol feminino está na vanguarda dessas questões. No masculino, a homossexualidade ainda é um tabu muito grande”, diz o jornalista Guilherme Henrique, de São Paulo. Ele cita os casos de Douglas Braga, ex-jogador do Botafogo que assumiu sua homossexualidade e hoje se aposentou, além da fama que envolvia o volante Richarlyson, do São Paulo.
Alguns clubes vêm tentando mudar esse cenário, como o Bahia, que realizou campanhas de conscientização para a população LGBT em algumas rodadas do Brasileirão do ano passado. “É um avanço para a sociedade e uma forma de desconstruir preconceitos”, finaliza Henrique.