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01/03/2019 às 11h35min - Atualizada em 01/03/2019 às 11h35min

Onde ficam os escorpiões

Estudioso apresenta metodologia para reconhecer formas de infestação desses animais em zonas urbanas

Assessoria de Imprensa
Foto: Divulgação

Escorpiões são animais venenosos encontrados em regiões tropicais do planeta. No Brasil, o escorpião-amarelo responde pelo maior número de acidentes com seres humanos. Os nativos do país são classificados em quatro famílias, sendo os espécimes do gênero Tityu, da família Buthidae, os que provocam o maior número de acidentes. Em 2018, segundo dados ainda não consolidados do Ministério da Saúde (MS), foram registrados 141,4 mil casos. Esses fatos justificam a preocupação das autoridades em considerá-los problema de saúde pública, de notificação compulsória. Ou seja, as secretarias de saúde municipais e estaduais devem informar as ocorrências aos sistemas de registros competentes do MS.

O escorpião do gênero Tityus está amplamente distribuído pelo país, com grande capacidade de se adaptar a áreas urbanas (veja quadro). Além disso, é capaz de secretar um veneno com alto potencial de gravidade. Buscando uma maneira de auxiliar o poder público a notificar os acidentes com aracnídeos (escorpiões, aranhas, carrapatos), o biólogo Angelo Henrique Biazi apresentou a dissertação de mestrado intitulada Análise de agrupamentos para reconhecimento de padrões de infestação de aracnídeos em zonas urbanas, em que desenvolve uma metodologia simples para reconhecer formas de infestação desses animais em zonas urbanas. O trabalho foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, Câmpus de Assis, sob a orientação do professor Fernando Frei.

Utilidade pública

Biazi tomou como base a cidade de Assis, no interior paulista, com aproximadamente 100 mil habitantes, sendo 95% da população residente na área urbana. Assis é quase totalmente urbanizada, com prestação de serviços de distribuição de água tratada, coleta e tratamento de esgoto e coleta e destinação do lixo em praticamente 100% do município.

Em seguida, estratificou a área urbana em macrorregiões, de acordo com critérios socioeconômicos definidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também procurou selecionar as espécies de aracnídeos e os pontos do município que a literatura descreve como favoráveis ao aparecimento de escorpião, entre os quais terrenos baldios, praças, cemitérios, encosta de rios, regiões arborizadas. “A quantidade de amostras foi determinada de acordo com a densidade populacional da região”, explica.

Com essas informações, o autor aplicou o método denominado Reconhecimento de Padrão, utilizando técnicas de Análise de Agrupamentos, baseadas em algoritmos. Segundo Biazi, Análise de Agrupamentos é o nome genérico atribuído a uma variedade de processos estatísticos que procuram elaborar critérios para agrupar objetos, seres humanos, animais, plantas, municípios, entre outros. “Dada uma amostra de diversas regiões geográficas, por exemplo, medidas segundo características variadas, procura-se agrupá-las de acordo com as características semelhantes”, esclarece.

Nesse estudo, o município de Assis foi dividido em seis grupos, onde foram inseridos 85 pontos para coleta de animais, distribuídos geograficamente de forma a representar as diversas características urbanas. Ao final da análise, foram avaliados 25 pontos (Figura 1)
representativos das diversas características urbanas. Os animais capturados tiveram suas identificações realizadas no Laboratório de Insetos Aquáticos da Unesp de Assis.

O estudo apontou que os grupos 1 e 2 tiveram pontos distribuídos por regiões de estratos sociais A, B e C (segundo critérios do IBGE). O grupo 3 é caracterizado pelos estratos sociais B e C. Os grupos 4, 5 e 6 possuem seus únicos pontos nas camadas A, D e C (Figura 2). “A distribuição de escorpiões observada nos pontos de coleta não tem uma relação direta com as condições socioeconômicas. Verificamos que uma mesma família foi encontrada em estratos socioeconômicos diferentes e não existe um estrato com uma única família”, disse o pesquisador. De acordo com o estudo, as várias camadas socioeconômicas estão distribuídas em diversas regiões geográficas, que apresentam variedade na temperatura, umidade, vegetação, pavimentação e presença de resíduos.

 

Biazi destaca que a simplicidade da metodologia adotada a transforma em uma ferramenta de utilidade pública, podendo ser utilizada por agentes de saúde para identificar pontos de infestação não somente por escorpião, como por outros animais. Ele informa que utilizou software livre, em língua portuguesa e com tutorial, fatores que facilitam sua utilização.
 

Adaptação

O estudo apontou a presença de escorpião-amarelo nos diversos estratos sociais, o que equivale a dizer que eles se adaptam ao ambiente, independente de ser úmido e com pouca luz – características de seus locais preferidos. “Os mais venenosos são os que mais se adaptam ao ambiente urbano”, lembra Biazi. Eles são carnívoros e adoram baratas. Assim, manter a cidade e as moradias limpas evita a proliferação desses animais. O pesquisador observa que os escorpiões nunca estão sós. Segundo ele, as infestações costumam ser grandes. “Onde aparece um, pode procurar que existem outros,” completa.

 

QUADRO

O que fazer em caso de acidente

Em caso de acidente com escorpião, a vítima deve procurar um hospital de referência onde pode ser encontrado o soro específico para aquele tipo de acidente, diz o médico veterinário Rui Seabra Ferreira Jr., pesquisador adjunto do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos, uma unidade complementar da Unesp situada no Câmpus de Botucatu. Segundo ele, o ideal é levar o animal para que os profissionais de saúde possam identificá-lo e aplicar o antídoto correto. “O tratamento para picada de escorpião é a aplicação do soro antiescorpiônico. Daí a importância de levar o animal causador do acidente.” Ferreira Jr. Lembra que o soro antiaracnídeo também neutraliza o veneno do escorpião.

“Crianças e idosos costumam ser as vítimas mais graves”, diz Ferreira Jr. “As crianças, em razão do baixo peso, e os idosos, porque o sistema imune já não funciona bem. Dependendo da quantidade de veneno inoculado na criança ela pode entrar em choque por causa da dor, que é muito forte,” lembra. Para o especialista, o sucesso no prognóstico médico depende da rapidez entre o momento do acidente e o início do tratamento, principalmente em crianças e idosos.

De acordo com o especialista, a aplicação de outras substâncias no local atingido não resolve o problema. Segundo ele, também não se deve comprimir a região com elástico, comumente chamado de garrote. “O ideal é a vítima procurar atendimento especializado”, finaliza.

 


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