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25/09/2018 às 15h37min - Atualizada em 25/09/2018 às 15h37min

Censura Seletiva – Funk do Bolsonaro

Dr. Bady Curi Neto
Assessoria de Imprensa Naves Coelho
Segundo publicado na página eletrônica do Estadão, em 24 de setembro, apoiadores de Jair Bolsonaro se reuniram em marcha da família no domingo (23), em Recife, onde em apoio ao candidato à Presidência da República, entoaram cânticos com ofensas.

A música cantada é na realidade uma paródia do funk “Bonde na Favela”, do MC Reaça, que de forma jocosa e dentro da liberdade de expressão do humor sarcástico, ressalta a direita e debocha as feministas.
Consta na letra os seguintes versos: “Dou pra CUT, pão com mortadela/E pras feministas, ração na tigela/As mina de direita, são as top, mais bela/Enquanto as de esquerda têm mais pelo que cadela” e “Maria do Rosário não sabe lavar panela/Jandira Feghali nunca morou na favela/Luciana Genro apoia os sem-terra/Mas não dá o endereço pra invadirem a casa dela”.

Em nota, a Comissão da Mulher Advogada da OAB de Pernambuco manifestou seu total repúdio à música, concluindo que: “Em tempos em que, a cada dois segundos, uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil, segundo dados do Relógios da Violência do Instituto Maria da Penha, não se pode admitir que, sob o manto da liberdade de expressão, qualquer partido político, seja ele de direita ou de esquerda, ofenda publicamente uma coletividade de mulheres, reforçando a cultura machista e misógina que, infelizmente, ainda insiste em matar muitas mulheres todos os dias”.

A paródia, via de regra, tem como objetivo a comédia, o humor, mesmo que picante, realizado a partir de um poema, música, filmes e outras formas de arte, em que se mantém a estrutura, modificando o sentido. A paródia, ao contrário do plágio, tem seu viés crítico e sátiro, enquanto este é a imitação ou apropriação indevida de um texto, música, etc.
Faz-se necessário essa distinção, pois os ouvintes da paródia sabem que a intenção é satirizar, fazer graça, utilizar-se do humor, não tendo o condão da ofensa direta. Seria uma piada, que pode ser interpretada de mau gosto, mas, comumente, sem a intenção da agressividade direta e gratuita.

O que a feministas de plantão, com ouvidos tão sensíveis diante do humor, manifestaram quando o ex-presidente Lula, hoje presidiário, referiu-se às feministas do PT: “Cadê as mulheres de grelo duro do nosso partido? ”.

O que diriam as feministas quando as letras de funk, cantadas em todas as classes sociais, tratam diretamente as mulheres como objeto sexual, cadelas, vagabundas e outros adjetivos?

Apenas alguns exemplos, de cuja as letras, me permito, mesmo que constrangido, a transcrevê-las, pois as demais são impublicáveis: O Mc MM, na letra “Adestrador de Cadela”, utiliza dos seguintes versos: “Sabe aquelas minas cachorras, piranhas, sapecas? ”; “pega, bota na tcheca e depois solta na banguela”. O Mc Jhey, em música “Predador de Perereca” canta “pra três ela senta, nós três ela mama” e “sapeca a pepeca, divide essa tcheca”.

O machismo, a misoginia e qualquer outra forma de preconceito deve ser combatida com veemência, mas, falar de uma paródia, sem combater a degradação moral das músicas acima, deixa transparecer, mesmo que não o seja, que o combate não é ao humor e sim aos apoiadores do candidato. 

Bady Curi Neto, advogado fundador do Escritório Bady Curi Advocacia Empresarial, ex-juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG)
 
 

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