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16/04/2024 às 16h24min - Atualizada em 17/04/2024 às 05h44min

Samba com afeto e devoção

Grupo baiano Samba pra Rua lança o single ‘7 Toques para Ogum’ no Dia de São Jorge, 23 de abril: o orixá, no sincretismo religioso, está associado ao santo do catolicismo em vários estados brasileiros

André Gomes
Na foto, a compositora Ana Flauzina e o grupo Samba Pra Rua. Divulgação: André Frutuoso
Sucesso no circuito alternativo de Salvador, o grupo Samba pra Rua escolheu o Dia de São Jorge, celebrado em 23 de abril, como a data para o lançamento de sua nova música: ‘7 Toques para Ogum’, que chega às plataformas digitais de todo o país exaltando a força dos toques ancestrais evocados nos tambores das religiões de matriz africana, com arranjos que privilegiam os instrumentos de percussão.

Idealizadora do grupo, a professora-doutora Ana Flauzina, militante da causa negra, é quem compõe as canções autorais da banda – que já fez parcerias com nomes conhecidos como o cantor e compositor carioca Renato da Rocinha. “Essa nova canção celebra Ogum, que é sincretizado com São Jorge em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. A relação entre o orixá e o santo católico está em elementos como a batalha, a espada e a coragem. Na mitologia Iorubá, o orixá tem um temperamento forte, com energia de guerra e de personalidade justiceira. Para a umbanda, Ogum é considerado o soldado e patrono dos exércitos”, observa Flauzina.

“7 Toques para Ogum é uma canção que fala de fé, de proteção, uma canção banhada pelo sincretismo religioso”, continua. Um trecho do novo single já dá este recado: Abro a porta da vida pra estrada percorrer, fecho o meu corpo e me benzo na encruzilhada sem nada temer.

O Dia de São Jorge é celebrado em todo o mundo com missas e procissões. São Jorge é considerado pela Igreja Católica padroeiro dos cavaleiros, soldados, escoteiros, esgrimistas e arqueiros. As relíquias de São Jorge encontram-se em diversos lugares do mundo.

Advogada e doutora em Direito – fez doutorado e pós-doutorado nos Estados Unidos, Ana Flauzina resolveu, fora de seara acadêmica, há dois anos, se aventurar pelo mundo do samba, dando vazão ao seu lado compositora. “Componho sambas de vários estilos e temos escolhido, no grupo, fazer arranjos que privilegiem a percussão e a força dos toques ancestrais evocados nos tambores das religiões de matriz africana. Esse universo mitológico é uma grande temática das músicas que crio”, diz a compositora.

Música que resgata ancestralidade do povo negro
São dela faixas recentes lançadas pelo grupo Samba pra Rua, como o single que leva o nome da banda, com participação de Aloísio Menezes; e ‘Lição do Mar’, faixa com participação do cantor e compositor carioca Renato da Rocinha (lançada em 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá). No dia 23 de abril, Dia de São Jorge, será lançado o novo single do grupo, intitulado ‘7 Toques para Ogum’, outra composição de Ana.

“É importante dar visibilidade às compositoras negras”
“É importante dar visibilidade às compositoras negras. Este é um espaço predominantemente ocupado por homens. Minhas canções surgem com inspiração em artistas como Dona Ivone Lara, Nelson Rufino, Leci Brandão e Zeca Pagodinho. Componho sambas de vários estilos e temos escolhido, no grupo, fazer arranjos que privilegiem a percussão e a força dos toques ancestrais evocados nos tambores das religiões de matriz africana. Esse universo mitológico é uma grande temática das músicas que componho”, diz a compositora.

Ana Flauzina: poesia com sincretismo religioso
Em suas apresentações ao vivo, o grupo Samba pra Rua tem repertório que vai do samba carioca ao samba do Recôncavo baiano, passando pelo samba duro e batuques dos blocos afros. Não faltam também canções de sambistas consagrados como Zeca Pagodinho, Dona Ione Lara, Péricles, Leci Brandão e Xandy de Pilares, além de canções autorais.
A expectativa é de que, após o lançamento destes singles, o grupo disponibilize um EP com sete faixas, até o meio do ano. O grupo é formado por Aisha Araújo (voz); Déia Azevedo (percussão); Deyze (voz e percussão); Geovana Franco (cavaquinho); Gilvã Oliveira (voz e percussão); Ruan de Souza (violonista) e Serguinho Pam (voz e percussão).

 “Ocupar as ruas é também salvar vidas”
Idealizadora do projeto Samba pra Rua ­– roda de samba itinerante que tem ocupado e trazido visibilidade a lugares abandonados da cidade desde maio de 2022 –, Ana Flauzina vê o samba como ferramenta transformadora. “Ocupar as ruas é, de alguma forma, também salvar vidas e trazer alento à juventude negra, refém da rotina de violência da cidade”, observa a professora e compositora. “O samba é a língua franca da população negra do Brasil”, continua. “O samba é artefato cultural de resistência. Fez e faz parte da maneira como a população negra se afirma e resiste ao racismo no Brasil. Ele é uma espécie de autobiografia autorizada das vivências das pessoas negras e nele cabem nossas histórias de luta, conquistas, dificuldades, alegrias e dores”, analisa a idealizadora do projeto, que pretende viajar com ele para outras cidades, como o Rio de Janeiro.
O projeto Samba para a Rua tem ingressos a preços acessíveis e a premissa de formar espaços de convivência e resistência do povo negro na capital baiana. A ideia tem dado tão certo que o projeto já entrou para o calendário cultural da cidade, com suas rodas de samba mensais, cheias de charme, negritude e ancestralidade.
 
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