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29/01/2024 às 07h59min - Atualizada em 29/01/2024 às 07h59min

Trabalho voluntário de combate ao câncer de Araçatuba chega aos 60 anos

Santa Casa Araçatuba
Divulgação
O trabalho de voluntárias que atuam no combate ao câncer em Araçatuba está completando 60 anos de um serviço essencial aos pacientes que fazem tratamento no CTO (Centro de Tratamento Oncológico) da Santa Casa ou em outros centros de atendimento do Estado de São Paulo. Criado como um dos braços da Rede Feminina de Combate ao Câncer Nacional, a unidade de Araçatuba se notabilizou pelo acolhimento das voluntárias, reconhecidas tanto pelo icônico jaleco em tom rosa quanto pela assistência oferecida aos doentes e familiares.

A Campanha de Combate ao Câncer de Araçatuba (CCCA), denominação que em 2001substituiu a de Rede Feminina de Combate ao Câncer, também investe em melhorias na logística das unidades que integram o Serviço de Oncologia da Santa Casa de Araçatuba e de outras unidades do complexo hospitalar.

O provedor do hospital, Petrônio Pereira Lima, define a atuação da CCCA como "muito importante para o CTO, com aportes que ajudam a humanizar os atendimentos, e para os pacientes e familiares, que recebem das voluntárias o amor e a solidariedade necessários para enfrentar a doença mais fortalecidos”.

História

Tudo começou oficialmente em 17 de agosto de 1964, quando a presidente nacional da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Carmem Prudente, nomeou  a senhora Virgília Campos Botelho Martins presidente da recém-criada unidade de Araçatuba, uma das centenas que surgiram nos anos 60 e 70 no Estado de São Paulo a pedido da própria Carmem.

As primeiras equipes de voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Araçatuba, muitas das quais ocuparam a presidência nos anos e décadas seguintes, foram lideradas pelas senhoras Eponina Rocha, Marta Marques de Oliveira, Neide Avezum e Aparecida Marçal, respectivamente esposas dos médicos Plácido Rocha, Oscar Herculano Marques de Oliveira, Lélio Avezum e Claudino Marçal; e Laura Cintra, esposa do advogado Célio Rodrigues de Araújo Cintra.

Em 60 anos de garantia de tratamento digno aos pacientes, o voluntariado do combate ao câncer contou com o trabalho de centenas de mulheres, como Mary Lúcia Aguiar, Laura Cintra, Lúcia Sundfeld, Gláucia Furquim, Dalva Lemos, Ineida Benez do Prado e Rachel Foizer Sgarbosa.

Dificuldade

Na época, o Hospital do Câncer em São Paulo era a principal referência para um tempo em que as estatísticas da doença ainda não eram alarmantes, mas havia poucos centros de tratamento no interior do país.

E foi exatamente para facilitar o acesso de pacientes do interior ao hospital criado em 1953 pelo marido dela, o médico Antônio Prudente, que no início dos anos 1960 a jornalista Carmem Prudente abriu mão da carreira para se dedicar exclusivamente ao combate ao câncer e conclamou a formação de grupos de voluntárias no interior do Estado de São Paulo.

A Rede Feminina de Combate ao Câncer de Araçatuba foi um desses grupos e até 1971 atendia os pacientes e seus familiares no Centro Social São José. A unidade municipal funcionava em um prédio da rua Tiradentes, nas proximidades da atual agência do Banco Itaú.

Os bons resultados do trabalho da Rede e o crescimento do número de pacientes internados por causa da doença atraíram a atenção do provedor da Santa Casa de Araçatuba, Carlos Castro Neves (1955-1980), que em 1971 convidou o grupo voluntário para atuar no hospital. Na ocasião, ele cedeu a sala da provedoria para as ações da Rede. “A sala da provedoria estava recém-construída e ainda nem tinha acabamento, mas as voluntárias colocaram os móveis necessários e uma vez por semana faziam suas reuniões e atendiam os pacientes e familiares”, relembra Jair Garcia Negri, que atuou por 46 anos no hospital.

Contribuição

A chegada das voluntárias ao hospital ampliou o olhar sobre as necessidades dos pacientes oncológicos numa época em que a estrutura disponível na Santa Casa de Araçatuba se restringia à assistência por médicos generalistas. Decorridos 53 anos do início da atuação da Rede Feminina de Combate ao Câncer na instituição, o hospital se tornou referência de tratamento especializado de todos os tipos de câncer, com exceção de câncer de olho, para pacientes de 40 municípios da região de Araçatuba.

Expansão

As atividades da Rede Feminina na Santa Casa de Araçatuba passaram a ter novas demandas a partir de 1992, quando chegaram os primeiros especialistas em Oncologia, dando início ao ciclo de cirurgias específicas de alguns tipos de câncer, que atraíram pacientes da região.

Em 1994, durante a administração do provedor Wilson Bedaque (1992-1997), foram iniciados os tratamentos radioterápicos na Central de Radioterapia. Com a instalação do CTO (Centro de Tratamento Oncológico) em agosto de 2002, também em prédio construído pelo governo paulista durante a administração do provedor Jaime Monçalvarga (2000 -2018), o grupo ganhou uma sala própria para suas atividades.

A mudança do nome para Campanha de Combate ao Câncer de Araçatuba aconteceu em 2001, quando também foi criada uma pessoa jurídica para poder receber recursos do McDia Feliz, ação social anual realizada pelo McDonald's. Durante cinco anos, a CCCA foi uma das beneficiadas.

Importância

O administrador da Santa Casa de Araçatuba, Luiz Otávio Barbosa Vianna, também destaca a importância do trabalho realizado pelas voluntárias do CCCA. “Elas atuam incansavelmente em ações primordiais de apoio aos pacientes e seus familiares, buscando reduzir a angústia e a ansiedade que normalmente chegam junto com o diagnóstico e permanecem durante toda a jornada do tratamento”, destaca.

Somente em 2023, a Campanha de Combate ao Câncer atendeu 1.946 pacientes no CTO da Santa Casa de Araçatuba, incluindo 109 crianças e adolescentes. Nesses atendimentos, é oferecido apoio em necessidades específicas como alimentação básica ou especial e medicamentos e exames diferenciados não cobertos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Também são atendidos casos de medicamentos nem sempre disponíveis no hospital nos momentos mais adequados às necessidades dos pacientes.

Experiência

Dona Ana de Oliveira Siqueira, 77 anos, de Araçatuba, sabe bem a importância do apoio oferecido pelas voluntárias. Uma das primeiras pacientes que a Campanha cadastrou quando da instalação no CTO, ela luta contra um câncer de pele há exatos 22 anos. Além das idas ao CTO para consultas pontuais e exames, a cada dois meses vai à sala das voluntárias para buscar principalmente protetor solar, -“se não o câncer volta”-, leites especiais, medicamentos, cesta básica. “Aqui eu recebo tudo o que preciso”, afirma a paciente.

Gláucia Diniz dos Santos, de Araçatuba, frequenta a sala da CCCA há menos tempo, mas o que recebe das voluntárias tem a mesma importância. Seu filho de 16 anos iniciou tratamento de câncer em 2020 e desde então a família passou a receber o suporte das voluntárias. "Elas ajudam demais a gente e isso é muito importante”, afirma, ao citar o recebimento de medicações e suplementos alimentares dentre os itens que retira na unidade.

Já Sílvia Teixeira acompanha o marido pela segunda vez, num período dez anos, no CTO onde ele faz tratamento de câncer de garganta após ter sido curado de neoplasia na bexiga. “Sempre que ele precisa de Ensure, venho aqui buscar”, conta, referindo-se ao suplemento alimentar que no ano passado registrou demanda de 1.620 latas. "É muito importante essa ajuda que elas (voluntárias) dão pra quem não tem uma renda boa."

Cateter

A Campanha de Combate ao Câncer também patrocina a compra de portocath, cateter implantado no paciente para facilitar infusão de medicamentos de quimioterapia, evitando o sofrimento com picadas de agulha a cada sessão e na coleta de sangue para exames.

A voluntária Renata Benez Rocha, que atua há quase 20 anos no grupo, informa que o CCCA também tem interesse em pagar os serviços dos profissionais médicos especializados em implantação de portocath. “Com isso, ajudaremos a fila a andar mais rapidamente”, argumenta.

Em 2023, a Campanha de Combate ao Câncer de Araçatuba investiu R$ 930 mil em assistência direta aos pacientes e seus familiares, na aquisição de materiais para tratamento e equipamentos para o CTO e outras frentes de atendimento, reformas de quartos e doações para campanhas realizadas pelo hospital. O valor também inclui doações de suprimentos para a Casa de Apoio São Francisco, moradia temporária que oferece pernoite e refeições aos pacientes oncológicos e acompanhantes da região.

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CCCA foi fundamental para a construção da Casamata

Com 53 anos de atuação na Santa Casa de Araçatuba, as voluntárias do combate ao câncer têm um histórico de investimentos em apoio ao hospital em situações que precisaram ser solucionadas rapidamente.

Uma das intervenções ocorreu em meados dos anos 1990, quando o hospital não tinha recursos próprios para instalar uma Casamata no então recém-construído prédio da Central de Radioterapia.

Esse espaço, que impede a propagação das radiações, era fundamental para abrigar uma bomba de cobalto, tecnologia avançada na época para tratamentos radioterápicos. Graças à iniciativa da então Rede Feminina de Combte ao Câncer, que fez uma doação em dinheiro e mobilizou a comunidade com uma “Campanha do Cimento”, aliada a outras ações, foi construída a primeira Casamata no hospital.

Nova ajuda

Quinze anos depois, o equipamento ficou obsoleto e foi substituído por um acelerador linear doado ao hospital pelo Ministério da Saúde. Como a Casamata não era adequada para receber o novo equipamento e o hospital não tinha recursos financeiros para promover a adequação, a CCCA entrou novamente em ação.

Sob a presidência de Ineida Benez do Prado, em 2011 a entidade doou R$ 80 mil ao hospital e iniciou uma mobilização para obter contribuições, conseguindo R$ 300 mil. A quantia não era suficiente, mas a mobilização das voluntárias atraiu a atenção do MPT (Ministério Público do Trabalho), que destinou R$ 1,3 milhão para a Campanha, dinheiro proveniente de um acordo feito com a Cosan S/A.

Com o recurso, a obra pôde ser realizada, o equipamento foi instalado e até hoje segue sendo utilizado para atender a demanda média de 65 a 75 pacientes/mês registrada em 2023.

Voluntárias também contribuem para reforma de apartamentos no hospital

O administrador da Santa Casa de Araçatuba, Luiz Otávio Barbosa Vianna, destaca que as voluntárias da Campanha de Combate ao Câncer de Araçatuba "têm contribuído enormemente com a própria Santa Casa, patrocinando reformas, adequações e aquisição de equipamentos e insumos que beneficiam os pacientes em tratamento de câncer”.

Nos mandatos das presidentes Rachel Foizer Sgarbosa (falecida em 2021) e Sueli Martinho dos Santos, atualmente no exercício do cargo, o grupo financiou a reforma de cinco apartamentos da Unidade de Internação 2. A ala é exclusiva para internação de pacientes do SUS.

O grupo também doou quantias significativas destinadas à compra de poltronas para quimioterapia e à reforma do sistema de energia que abastece os aparelhos de climatização instalados em todo o complexo hospitalar. Essas contribuições foram feitas por meio de doações para as campanhas realizadas pelo hospital em 2022 e 2023.

Além disso, recentemente a CCCA reformou e mobiliou um quarto de internação no hospital. “Investimos nessas reformas por entender que pacientes oncológicos também utilizam esses leitos e merecem desfrutar de conforto e inovações”, explica a voluntária Renata Rocha.

Insumos

O grupo também financia compras de equipamentos  que o hospital utiliza em atendimentos gerais e são primordiais para pacientes oncológicos. “Acabamos de comprar desfibriladores para o pronto-socorro utilizar em situações de emergências cardíacas, que podem ocorrer em pacientes com câncer”, explica Renata.

Fontes de recursos

Para realizar as ações que garantem mais chances de cura e qualidade de vida aos pacientes atendidos pelo Serviço de Oncologia da Santa Casa de Araçatuba, a CCCA mantém há vários anos dois eventos que  geram boa parte dos recursos: a “Feiju”, feijoada que reúne a sociedade araçatubense e chegará à 17ª edição neste ano; e o “Leilão da Solidariedade”, organizado pela Central Leilões, cuja renda é dividida dentre várias instituições assistenciais de Araçatuba, uma delas a Campanha de Combate ao Câncer.

Por fim, a Campanha tem em seu quadro de associados voluntários que fazem doações mensais em dinheiro. “São pessoas que fazem doações a partir de R$ 5,00, mas temos doações pontuais de até R$ 5.000,00, algumas feitas anonimamente por pessoas que não estão no quadro de associados, mas certamente por razões pessoais são tocadas pela causa que realizamos em apoio a pessoas que estão enfrentando um tratamento de câncer”, explica Renata.

Credibilidade

O provedor da Santa Casa, Petrônio Pereira Lima, destaca que esse sucesso ocorre porque as voluntárias da Campanha são organizadas e têm credibilidade tanto para a arrecadação de fundos junto à comunidade quanto nas promoções que realizam. “Por tudo isso, a atuação da Campanha de Combate ao Câncer vai além das demandas do CTO e dos pacientes oncológicos."

De acordo com ele, essas ações têm alcançado cada vez mais as necessidades do hospital, beneficiado com recursos para reformas, adequações e equipamentos. “É um trabalho digno de elogio e gratidão da diretoria da Santa Casa de Araçatuba”, afirma.

Motivação

Para garantir o suporte necessário à média de 120 pacientes/dia do CTO e da Central de Radioterapia, dez voluntárias se revezam às segundas e quartas-feiras para atendimentos na sala da Campanha de Combate ao Câncer de Araçatuba, que funciona no prédio do CTO.

Cada uma tem um motivo para estar em um hospital que registra média de 70 casos novos de câncer por mês e realizar esse trabalho, que é lidar diretamente com pessoas que, na maioria dos casos, enfrenta o momento mais difícil de suas vidas: o câncer para muitos é uma doença que equivale a uma sentença de morte.

A presidente da Campanha, Sueli Martinho dos Santos, por exemplo, conheceu o trabalho das voluntárias há 17 anos quando passou a acompanhar seu marido que estava com câncer. Gostou tanto do que recebeu, que se tornou uma delas. Viúva há 11 anos, Sueli descobriu um câncer em 2018. “Estou bem e a cada seis meses faço os exames de monitoramento necessários. Tenho enfrentado cada etapa com fé e esperança, que me motivam a estar aqui para além do apoio material e oferecer essa mesma esperança aos pacientes”, conta, ao relatar os seis anos de luta contra a doença.

Parte da nova geração de voluntárias, que a ex-presidente Rachel Foizer Sgarbosa definia como sendo “pessoas que separam um tempo de seu tempo para se doar", foi gerada justamente pelos gestos de bondade das pioneiras.

Renata Benez Rocha representa a terceira geração de mulheres de sua família que atuam incansavelmente na luta contra o câncer. A avó dela, Eponina Rocha, a mãe, Ana Maria Benez Rocha, e a tia, Ineida Benez do Prado, presidiram a Rede Feminina por muitos anos.

“Um dia, minha tia disse que só deixaria a Rede se eu assumisse um cargo. No começo, relutei um pouco e cheguei a pensar que não daria conta de lidar com tanto sofrimento. Felizmente, superei isso e estamos aqui de corpo e alma”, afirma Renata.

Ela revela que o trabalho tornou-se renovador em sua vida. “É impossível entrar aqui nesta sala e não sair melhor ao final do expediente." Para executar o trabalho, Renata segue contando com o apoio da mãe. A tia, Ineida Benez do Prado, faleceu em maio de 2023.

Exemplo

O provedor da Santa Casa, Petrônio Pereira Lima, considera elogiável a estratégia que as voluntárias utilizam para ajudar os pacientes a terem uma vida melhor, um tratamento humanizado e a família fortalecida.

“Elas pensam em tudo, desde a logística do transporte ao local do tratamento à acomodação dos pacientes e acompanhantes que precisam pernoitar fora de suas cidades de origem. Elas cumprem com amor a missão de ajudar pessoas com câncer a viverem melhor”, finaliza

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