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06/01/2024 às 19h32min - Atualizada em 08/01/2024 às 07h11min

Carreira internacional, entre o sonho e a realidade

Marlon Claessen, brasileiro que mora na Europa há 18 anos, conta as verdades sobre trilhar carreira profissional fora do Brasil.

Claudia Feliciana Ramos Ferreira
Marlon Claessen
Marlon Claessen, que está de passagem pelo Brasil desde a SPFW - São Paulo Fashion Week, em novembro, acumula atividades profissionais desde que saiu do Brasil, aos 22 anos de idade, levando consigo o DRT de ator, conquistado aos 16, e um sonho: fazer carreira na Europa.

 
Nas últimas semanas, diversas foram as matérias circulando no Brasil sobre Marlon que, inclusive, concedeu algumas entrevistas ao vivo e, hoje, fala com exclusividade a plataforma Sala de Notícia e veículos que usam a platafroma.
 
Nascido em uma cidade de Goiás, cresceu sem a figura do pai, e perdeu a mãe aos 14 anos, Marlon desembarca em Portugal aos 22 anos de idade em 2006, na cidade de Lisboa para residir com poucos Euros no bolso, mas muitos sonhos e garra.


Chegando em Lisboa
 
Nesse bate papo a seguir com Marlon Claessen, queremos esclarecer a importância de se preparar para uma jornada internacional, tanto academicamente como financeiramente, como é edificante uma experiência internacional, mas também alertar para as dificuldades e perigos. 
 
Como foi sua infância em termos de estudo e cursos extra curriculares? 
Minha infância foi muito simples.
Meu pai nos abandonou quando eu tinha um ano de vida. Minha mãe era caixa de supermercado, depois de um tempo passou a ser merendeira de escola pública.
A figura paterna que eu tive era meu avô, quando faleceu, minha avó e tia que continuaram a me criar.
 
Estudou em escola pública ou particular?
Sempre estudei em escola pública, gostava da educação física, jogava handball e gostava muito de música. Aliás, foi na pandemia que aprendi a tocar piano. Não sou exímio, mas toco bem.
Nunca me encaixei com colegas, que eram bons estudantes em química, matemática e física por exemplo, e eu era atento às artes.
Neste quesito, não creio que para quem tem sonho, tem força de vontade, escola particular faça a diferença.
No segundo grau estudei espanhol, inglês, me dediquei porque eu sabia que eu não ia crescer profissionalmente aqui no Brasil, mas as línguas inglês, espanhol e italiano aprendi sozinho.
Não tive condições de fazer faculdade, mas já no segundo ano do colegial, já comecei a fazer apresentações teatrais profissionais, e a escola ficou em segundo plano na minha vida.


Iniciando o trabalho de modelo fotográfico no Brasil
 
 
Marlon, além do DRT, qual a formação acadêmica tinha na época? 
Tinha o segundo grau completo e tinha meu DRT pois já atuava como ator em teatro aqui no Brasil.  
 
Falava outra língua? 
Falava o básico de Inglês e espanhol, e tentei aprender um pouco do Italiano
 
Foi com emprego ou residência preparados? 
Não fui com emprego e nem residência, mas fui com algo que é uma característica nossa, brasileiros: cara e coragem. Cheguei no aeroporto 160 Euros no bolso e perguntando: o que eu faço agora? risos.
Os primeiros meses só não desisti porque fui resiliente. Eu sou teimoso e isso me ajuda muito, até hoje.
 
Como foi o primeiro emprego na Europa? 
Eu não tinha muitos contatos na moda na Europa, mas conhecia um diretor em Lisboa que inclusive foi um dos profissionais com o qual trabalhei no Brasil, e ele tinha aberto uma escola de formação de atores em Lisboa. Fiz alguns trabalhos com ele e, através dele, comecei a fazer meus primeiros trabalhos.


Primeiro editorial de moda em Portugal em 2009
 
Quais dificuldades enfrentou que acha importante o brasileiro saber?
Estar sozinho em outro país, por si só já é difícil. É onde o filho chora e a mãe não vê, mesmo.
Hoje, para os brasileiros irem para a Europa tem que ter planejamento, o custo de vida é altíssimo e as coisas estão mais complicadas. O poder de compra antes era maior, agora tudo está mais difícil. Portugal e Espanha, se eu tivesse que iniciar agora como fiz no passado, eu pensaria, duas, ou três vezes.
E infelizmente temos que falar: há discriminaçao, eu passei, fui seguido por seguranças dentro de lojas, mercados, e vejo mulheres, crianças passando.
Mas em resumo, vencer sozinho, pra mim, foi a maior dificuldade, sem família, sem amigos, sem rede de apoio e com o emocional por mim mesmo.
Agradeço por minha saúde mental estar intacta.
 
Hoje, quais são as maiores ofertas de emprego para brasileiros na Europa? 
Essa pergunta até me dói.
Conheci muitos brasileiros com diplomas em atividades mais braçais. Imigrantes sem uma boa qualificação são vistos mais em atuações de 14 a 16 horas por dia, em restaurantes, ou como babás e empregados domésticos e mais braçais com o uso da força do corpo mesmo.
Saúde e TI tem uma facilidade maior, profissões com formação técnica acadêmica são mais fáceis. Minha área de moda e artes é muito complicada. Precisa ter indicações e conhecimento para você participar de castings.
  
Estudou na Europa, fez alguma especialização nas áreas que atua ou em alguma língua estrangeira? 
Fiz Comunicação Social, em Lisboa, tenho diploma na área e me qualifiquei para ser apresentador, para atuar na área que eu escolhi na comunicação.
Fiz diversos cursos e especializações.
Meu diploma em Lisboa abriu muitas portas onde me encontro hoje.
Hoje falo Holandes fluente, estudei quatro anos na Holanda então, isso é uma vantagem incrível.


Programa da TV Holandesa em que fui jurado por dois anos

 
Com quanto tempo de trabalho conseguiu se manter com qualidade: pagar aluguel, se alimentar e se divertir? 
Os seis primeiros meses foram muito difíceis.
Quando cheguei em Portugal, o salário mínimo era de 460 Euros. Eu pagava 250 Euros de aluguel, mais energia elétrica, água, comida. No fim de semana as vezes dava para tomar uma cervejinha. Minha amiga Diane, sempre do meu lado, falava: vai melhorar. E melhorou.
Em todos esses anos tenho cinco grandes amigos, feitos nesse momento de início muito difícil e éramos assim: quando um pensava em desistir, o outro vinha, dava um “tapa na cara” um chacoalhão e tudo voltava ao normal.
A partir de 1 ano e meio melhorou. Eu conciliava os trabalhos com diversão, aproveitando a viagem, aí conseguia me divertir mais.
 
Qual conselho da no que tange a se preparar para uma carreira solo internacional? 
Primeiro: estudo, qualificação profissional. Um bom profissional trabalha em qualquer lugar no mundo. Acima de tudo, entenda quem você é, ame o que você faz. Se você estiver em uma área que você não ama, você não se dará bem em nenhum lugar do mundo.
Segundo: documentação
Terceiro: estude o país para onde quer ir, os costumes, como está para imigrantes, calcule na ponta da caneta pois o custo de vida está altíssimo.
Quarto: Determinação, foco e força.
 
Acha que vale a pena ir, hoje em dia, para Portugal ou sugere um outro país? 
Hoje em dia, Portugal, não indico. Se não estiver igual, está pior que o Brasil financeiramente.
O salário mínimo em 700 Euros e um aluguel básico em 600 Euros, já foi seu salário.
Hoje em Portugal, moram até 15 pessoas em um imóvel para conseguir dividir os custos e sobreviver.
Sugiro pensar na Dinamarca, Suécia, lembrando da necessidade de ter outro idioma comercial, ou seja, o inglês.
 
Marlon, para finalizar, que mensagem dá aos pais que possuem filhos que desejam trabalhar fora do Brasil em atividades como baby sitter, doméstica, piscineiro, jardineiro, em prol de angariar recursos para estudos acadêmicos fora do país?
 
Morar sozinho em um novo país não é fácil. Você, imigrante, precisa se adaptar ao local que está chegando, não o contrário, então, filhos que foram criados cercados de muito cuidado, é complicado.
Se for dividir residência, se preparar, dividir com conhecidos. Já vi de tudo na Europa: pessoas diferentes, com criações e hábitos diferentes, quartos sendo furtados para suprir hábitos de vícios, por exemplo.
 
Nota do entrevistado: Não me acho melhor por ter ido para a Europa pra vencer e ter uma vida melhor. Eu gostaria de ter conquistado tudo aqui, no meu país.
Para quem não sabe onde quer chegar, qualquer lugar serve. Eu nunca fui assim. Eu tirei água das pedras. A vida é uma escola. Todo dia te dá uma lição. Você não é melhor e nem menor que ninguém. Temos também que viver mais o agora e não só focar no futuro. O presente de deus é o hoje. Também temos que aproveitar o hoje. A felicidade está no caminho, não lá na frente no que achamos ser a chegada.


Portugal Red Carpet 2023

 
Contato com a imprensa: Claudia Ramos 21 96652-1414 ou 11 99397-0551
Para saber mais: @marlonclaessen

 

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