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02/06/2023 às 16h59min - Atualizada em 02/06/2023 às 16h59min

Campos Neto critica ideia de Lula de implementar moeda comum na América do Sul

Presidente do Banco Central afirmou que medida faria com que inflação e taxa de juros virassem uma ‘mistura’ dos países envolvidos; contudo, ele afirmou que apoia que moedas estrangeiras sejam aceitas por outros países

Assessoria de imprensa
Foto: Divulgação Campos Neto e Lula têm protagonizado diversos embates em relação à condução da política monetária brasileira
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, criticou proposta de criação de uma moeda comum entre os países sul-americanos, defendida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nesta sexta-feira, 2, ele afirmou ser contrário à adoção de moedas comuns de um modo geral. “Sou muito contra, mas sou só um banqueiro central”, declarou.

“Houve dois episódios com tentativas de se criar uma moeda comum no comércio entre o Brasil e a Argentina, e em ambos os casos eu fui contra”,  complementou. Há cerca de um mês, o presidente Lula reforçou seu interesse de retomar a integração sul-americana e criar uma moeda comum para reduzir barreiras de comércio.

Para explicar o motivo de ser contra à medida, Campos Neto adotou uma analogia.  “Às vezes, é muito difícil de explicar. Lembro de explicar para um oficial do governo e não podia usar termos muito técnicos, então disse que uma moeda comum é como uma criança.

Tem DNA do pai e da mãe. É muito difícil ser muito diferente deles. Isso significa que quando você tem uma moeda resultante de duas outras, a taxa de juros será uma mistura dos dois países, a inflação será uma mistura das duas”, indicou. Contudo, ele afirmou que é favorável que moedas estrangeiras sejam aceitas por outros países. “Uma vez que tivermos mais moedas internacionais, podemos pensar em uma completa conversibilidade”, indicou.

A moeda comum gerou controvérsias sobre a necessidade de sua criação, inclusive dentro da própria equipe econômica do governo brasileiro, que não chegou a um consenso sobre a viabilidade da medida.

Especialistas e analistas em economia internacional não veem com bons olhos a criação de uma moeda comum, pelo menos não agora. “Não traria benefícios para o Brasil, mas sim para Argentina.

Para nós, seria mais um risco. Caso seja adotada essa moeda, o real seria o lacro da moeda e teríamos que absorver riscos atrelados a ela”, diz a internacionalista pós-graduada em direito internacional Bárbara Santos, que considera esse projeto desnecessário porque já existe o dólar, além de não ser possível pensar em um projeto igual ao da União Europeia porque o cenário brasileiro é diferente, marcado por uma instabilidade política grande com muitos impeachments, golpes e histórico de ditadura.

“A instabilidade política da América do Sul dificultaria muito a criação de uma nova moeda, ela não traria tantos benefícios e muitos países teriam que se desfazer de políticas que eles têm hoje em dia para adotar políticas comum entre todos os países”. Alberto Pfeifer, coordenador geral do DIS, grupo de análise de estratégia internacional da USP, vê o projeto como um elemento de distração.

“O que é importante para economia brasileira hoje é ter fundamento sólidos e uma agenda de reformas econômicas que facilitem o negócio, as transações, o intercâmbio, os investimentos produtivos brasileiros e estrangeiros no Brasil”, fala. “Criar uma moeda não tem nenhuma vantagem nesse momento, para mim parece mais um expediente retórico para criar um fato que chama atenção. Para os economistas e especialistas, é algo difícil de concretizar e os bancos centrais não gostam muito.”



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