AtaNews Publicidade 728x90
22/04/2023 às 14h59min - Atualizada em 22/04/2023 às 14h59min

Fui parar na UTI após aplicar Ozempic e quase precisei fazer um transplante de fígado"

A publicitária Fernanda Guimarães contou como a busca pelo emagrecimento rápido a fez recorrer ao medicamento sem indicação médica, e os graves problemas de saúde que isso lhe causou

Assessoria de imprensa
Fernanda Guimarães contou como foi parar na UTI após aplicar Ozempic sem acompanhamento médico — Foto: Arquivo Pessoal
O Ozempic é o medicamento mais comentado do momento: só no TikTok, a hashtag que leva seu nome ultrapassou 600 milhões de visualizações e, quase todos os dias, surge um novo vídeo de algum usuário contando quantos quilos perdeu após fazer uso da caneta que chega a custar mais de mil reais.
O remédio, desenvolvido para o tratamento da diabetes tipo 2, ganhou popularidade para além da sua prescrição médica depois de apresentar resultados para a perda de peso.

No entanto, o medicamento não é recomendado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para essa finalidade, usado para emagrecer de maneira off-label, podendo levar a sérios prejuízos para a saúde.
Foi o que aconteceu com Fernanda Guimarães, que procurou o medicamento, sem orientação médica, como uma saída rápida para perder alguns quilos ganhados durante a pandemia. Ela não imaginava que o remédio poderia acarretar sérios problemas para o seu corpo, levando-a a ser internada na UTI e quase causando uma insuficiência hepática, quando o fígado para de funcionar.

Quase precisei de um transplante de fígado

A publicitária de 29 anos foi internada na unidade de terapia intensiva após aplicar duas doses do Ozempic. Foi depois de assistir vídeos no TikTok e descobrir que algumas amigas estavam utilizando o remédio, que Fernanda pediu o medicamento de presente para o namorado. "Eu tinha ganhado 15 quilos durante a pandemia por conta do sedentarismo e problemas emocionais.

O algoritmo me mostrava vários relatos sobre o Ozempic e, eu, publicitária, acabei caindo no meu próprio trabalho", conta. Depois de muita insistência, seu namorado comprou a medicação, que vinha em uma caixa com seis canetas prontas para serem utilizadas.

Após assistir a relatos sobre como aplicar as seringas, Fernanda decidiu que utilizaria o Ozempic uma vez por semana, aumentando a dose a cada aplicação. "Eu tinha visto no TikTok que, com as doses aumentadas, a perda de peso era mais rápida, então decidi fazer assim." No dia seguinte da primeira aplicação, Fernanda teve dor de cabeça e vômito, efeitos colaterais previstos na bula. "Eu estava me sentindo muito mal, mas pensei que poderia se tratar dos efeitos colaterais normais". Uma semana depois, ela aplicou a segunda dose, desta vez com mais miligramas – o suficiente para provocar sintomas muito mais intensos do que da primeira aplicação. "Eu vomitava muito e sentia dor no abdômen por conta dos vômitos frequentes. Estava me sentindo muito mal."
Por conta do mal-estar, Fernanda decidiu ir ao pronto-socorro, mas não contou aos médicos sobre o Ozempic. "Eles me deram medicamento na veia e me liberaram, mas quando cheguei em casa, voltei a vomitar." Foram várias idas ao hospital para tratar os sintomas. "Foi muito difícil procurar ajuda médica, porque eu sentia vergonha de contar que estava tomando uma medicação por conta própria." Quando os exames de sangue começaram a apresentar alterações no fígado, os médicos pediram que ela fosse internada.

Somente após esse momento Fernanda decidiu revelar que havia utilizado Ozempic. "Foram três dias seguidos indo e voltando para o hospital com muitas dores e vômitos até a internação. O médico disse que, se eu tivesse tomado mais uma dose ou uma quantidade além do 'recomendado', poderia ter tido uma intoxicação gravíssima."

Pela seriedade do quadro, a publicitária foi internada na UTI para que os médicos pudessem monitorar as enzimas do fígado. Caso continuassem subindo, ela precisaria de um transplante. Foram sete dias de internação, tomando medicações para controlar também a dor que sentia por conta de uma pedra na vesícula, descoberta durante este período.

Até hoje, os especialistas não sabem se ela também foi desencadeada pelo Ozempic. "Os médicos disseram que, ao que tudo indica, eu tive uma hepatite medicamentosa devido ao uso do Ozempic. Diferente de outras pessoas que se dão bem com o medicamento, eu tinha uma pré-disposição para desenvolver um problema no fígado e, portanto, não poderia utiliza-lo", explica. Durante a internação, os exames melhoraram e as enzimas do fígado de Fernanda diminuíram, indicando que o órgão estava se recuperando.
Depois de receber alta e passado o susto inicial, a publicitária usou as redes sociais para alertar sobre os perigos de utilizar medicamentos por conta própria, além do extremismo que estamos vivendo para alcançar padrões de beleza. "Vale de alerta pra todo mundo e fica de lição pra mim." A experiência ruim fez Fernanda entender que não existe emagrecimento rápido sem adotar um estilo de vida saudável. Hoje, ela procura ter hábitos alimentares melhores e praticar exercícios físicos.

O Ozempic é um medicamento seguro?
O médico e professor especialista em obesidade, Gabriel Almeida, explica que o Ozempic é o nome comercial de uma das duas medicações do laboratório dinamarquês Novo Nordisk, que contém a substância ativa semaglutida, um agonista receptor do GLP-1 RA, muito semelhante ao hormônio humano GLP-1, que age na produção de insulina e proporciona a sensação de saciedade, induzindo a perda de apetite e, consequentemente, também de peso. Embora seguro para o tratamento da obesidade e diabetes tipo 2, o medicamento não é recomendado para uso off-label para a perda de peso, e nunca deve ser utilizado sem a recomendação médica.

Em um comunicado à imprensa, a Novo Nordisk esclareceu que a Anvisa aprovou a utilização da semaglutida para o tratamento da obesidade, no entanto, o medicamento aprovado para essa finalidade se trata da semaglutida 2,4mg (nome comercial Wegovy™), que ainda não chegou ao Brasil. "É importante ressaltar que a companhia não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off-label, ou seja, em desacordo com a bula de seus produtos. O Ozempic®, aprovado e comercializado no Brasil para diabetes tipo 2, não possui indicação aprovada pelas agências regulatórias nacionais e internacionais para obesidade", diz o texto.

O médico Gabriel Almeida alerta para o uso sem acompanhamento médico do Ozempic: "É preciso esclarecer que nenhuma medicação é segura para tratamento sem acompanhamento médico adequado. Esse medicamento possui contraindicações e efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, intestino preso, baixa energia e indisposição durante o dia. Ou seja, não é indicado para todo mundo, e apenas um profissional médico pode avaliar como – e se – ele pode ser utilizado de maneira segura." O especialista endossa ainda que o tratamento médico da obesidade tem entre seus pilares essenciais a mudança de estilo de vida, que vai desde a busca por uma alimentação saudável, a prática de atividades físicas e suporte psicológico.

Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »