No início de janeiro, pesquisadores da Brown University (EUA) conseguiram rastrear pela primeira vez sinais cerebrais associados ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Na ocasião, a equipe registrou os sinais elétricos nos cérebros de cinco pacientes, chegando a identificar a presença ou a ausência de sintomas do distúrbio. Mas quais são esses sintomas? Como o TOC se manifesta no dia e que sentimentos desperta nas pessoas?
Segundo Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP e membro da Associação Americana de Psiquiatria (APA), o cérebro do paciente com TOC apresenta uma deficiência na comunicação entre a parte frontal e as estruturas mais profundas, e essa comunicação é feita principalmente pela serotonina, um neurotransmissor ligado à ansiedade.
O especialista aponta que não está clara a causa desse transtorno, mas que existem fatores que podem aumentar o risco, como o histórico de TOC ou outras doenças psiquiátricas na família e eventos traumáticos. Além disso, é frequente a associação com outras doenças, como depressão, abuso de álcool e até a síndrome do pânico. Para o psiquiatra, o preconceito que atinge os pacientes também tem potencial para piorar o quadro.
"A vida do paciente com TOC, especialmente não tratado, é muito difícil. Os pensamentos incomodam imensamente e os rituais vão tomando muito tempo, a ponto de impedi-lo de trabalhar, estudar e mesmo chegar aos compromissos", descreve o especialista.
Como o TOC se manifesta? Surgimento e sintomas
Especialistas esclarecem pontos sobre o TOC (Imagem: vsoldatov7/envato)
Muitos adultos costumam apresentar sinais do transtorno já na infância, conforme explica o pediatra e neurologista infantil Clay Brites, idealizador do Instituto NeuroSaber. "
A criança apresenta comportamentos que são resultados de pensamentos obsessivos, ou seja: imagina uma situação anormal onde um fato pode desencadear outro, e algo de muito ruim pode surgir", afirma.
Já na infância, o TOC pode se manifestar pelo repetir de movimentos ou processos, que o paciente busca para se sentir bem e aliviado.
"Assim, essas crianças costumam ser excessivamente preocupadas, imaginam as coisas de forma pessimista, irritam-se quando a perfeição não se cumpre ou se desfaz, apresentam aversão por tipos de vestimentas, comidas, limpeza, disposição de objetos", completa o neurologista.
Logo, o transtorno na infância pode gerar alterações bruscas de humor, teimosia excessiva, crises de medo e insegurança, pensamentos frequentes de morte e de perdas, manias alimentares, de organização e de limpeza excessivas, e até mesmo baixa autoestima, promovendo o isolamento na escola e impactando até os pais, que podem restringir o contato com outras pessoas.
De acordo com Scocca, a pessoa sabe que o pensamento não tem lógica, mas é incontrolável. "
O TOC é uma doença psiquiátrica, é um transtorno do comportamento. Se te incomoda estar com o quarto desarrumado, ou se você costuma lavar muito as mãos, não quer dizer que tenha TOC. Não existe ter "um pouco de TOC". É uma doença muito grave, uma das mais limitantes", alerta.
TOC tem cura? Ainda assim, é possível dividi-lo em duas formas, segundo a psicóloga Alessandra Augusto — especialista em terapia sistêmica e terapia cognitiva comportamental: subclínico, em que as obsessões e os rituais se repetem com frequência, mas não atrapalham a vida da pessoa, e o transtorno propriamente dito, em que as obsessões continuam até que o paciente coloque aquela obsessão em prática, em busca de alívio.
Segundo Alessandra, é subjetivo afirmar se o transtorno tem cura ou não, mas os profissionais de saúde mental atualmente já conseguem proporcionar uma vida adequada e confortável ao paciente, por meio de alguns tratamentos e medicamentos que podem atenuar os sintomas.
Um desses tratamentos é a terapia comportamental, que se adapta às necessidades da pessoa, focando mais nos sintomas do TOC, propriamente ditos, do que nas possíveis causas. A ideia desse método é mudar o comportamento e evitar a sensação de insegurança e medo.
O que sente a pessoa diagnosticada com TOC?
O TOC está diretamente relacionado com pensamentos ansiosos (Imagem: microgen/envato)
A jornalista Khaila Zaidan, de 24 anos, foi diagnosticada com TOC aos nove. Em entrevista ao Canaltech, conta que os primeiros sinais que acenderam um alerta em sua família foram algumas '
manias', como a necessidade inexplicável de abrir e fechar a porta inúmeras vezes até se dar por satisfeita, entrar em casa apenas com o pé direito, evitar as rachaduras da calçada ou lavar as mãos excessivamente, até descamar a pele.
"O que passava na minha cabeça era: 'se eu não fizer isso, alguma coisa ruim vai acontecer. A minha mãe vai morrer, eu não vou passar de ano'. Era um mecanismo que eu tinha para conter a ansiedade que eu sentia sobre as coisas que eu não tinha controle", relata a jornalista. "
O que eu lembro de sentir era desespero. Eu tinha medo de que, se eu não fizesse, aquele pensamento ficaria comigo o dia inteiro. A partir do momento em que eu fazia, era um alívio", completa.