As pesquisas preliminares sobre o comportamento das vacinas diante da ômicron trazem boas e más notícias: a nova variante do coronavírus parece ter mais capacidade de escapar da imunização, mas até o momento os dados indicam que os imunizantes ainda protegem em grande medida contra eventuais casos graves de covid-19.
Além disso, quem já teve a oportunidade de tomar a dose de reforço parece estar mais bem protegido contra o vírus, inclusive contra a nova variante. A ômicron causa preocupação porque tem um número muito maior de mutações do que as variantes anteriores do coronavírus.
Na última quarta-feira (8/12), as empresas Pfizer e BioNTech apresentaram dados próprios, ainda preliminares, indicando que a proteção da vacina de fato cai drasticamente diante da nova variante.
No entanto, dizem, a dose de reforço do imunizante aumentaria consideravelmente a defesa do sistema imunológico contra a ômicron.
"Plasma de indivíduos que receberam duas doses da vacina atual contra covid-19 teve, em média, uma redução de mais de 25 vezes na neutralização contra a ômicron em comparação (com as formas anteriores do vírus), indicando que duas doses (da Pfizer) podem não ser suficientes para proteger contra a infecção da ômicron", afirma comunicado das empresas — ressaltando, porém, que
"indivíduos vacinados ainda parecem estar protegidos contra as formas mais graves da doença". A aparente boa notícia é que a dose de reforço da Pfizer faria recuperar essa proteção.
"Segundo dados preliminares, a terceira dose provê um nível parecido de anticorpos neutralizantes contra a ômicron do que as duas doses contra (as demais formas do vírus)", além de manter a proteção contra formas mais graves da covid-19, ainda segundo as duas fabricantes.
As empresas acrescentaram que estão desenvolvendo uma vacina específica contra a variante ômicron, a ser entregue em até cem dias, dependendo de aprovação de órgãos reguladores.
Estudo na África do Sul Na terça-feira, um pequeno estudo ainda em fase pré-print (ou seja, não revisado por outros cientistas) realizado na África do Sul — onde a Ômicron foi identificada e tem avançado rapidamente — chegou a conclusões que apontam na mesma direção.
OMS argumenta que as vacinas mantêm seu poder de proteger contra formas graves da doença e contra hospitalizações
A partir da análise dos anticorpos de 12 pessoas que receberam a vacina da Pfizer (sendo que metade delas havia sido também previamente infectada pelo coronavírus e a outra metade, não), os pesquisadores notaram que os anticorpos produzidos pelas pessoas eram muito menos eficientes em impedir a infecção contra a ômicron.
No entanto, a percepção do autor do estudo, Alex Sigal, virologista do Instituto de Pesquisa em Saúde na África em Durban, é de que
"embora eu ache que vai haver muita infecção, não tenho certeza de que isso vai se traduzir em sistemas (de saúde) colapsando", disse ele ao The New York Times. "
Minha suspeita é de que conseguiremos ter (a situação) sob controle." A boa notícia, aqui, é que o virologista temia inicialmente que, diante de um vírus tão mutado, as vacinas se provassem totalmente ineficazes — mas isso não aconteceu.
Sigal acrescentou que ainda será necessário estudar melhor os efeitos de doses de reforço das vacinas, mas sua suspeita é de que "
quanto mais anticorpos você tiver, melhor você vai se sair" contra a nova variante.
Além disso, vale lembrar que as vacinas desencadeiam uma reação imune que vai muito além da produção de anticorpos — reação esta que não é mensurada pelos estudos listados aqui.
"As vacinas ainda têm alta probabilidade de proteger a maioria das pessoas contra formas graves da doença porque treinam muito mais o sistema imunológico do que para a produção de anticorpos neutralizantes", explica o repórter da BBC especialista em ciência e saúde James Gallagher.
"As células T, que agem diante de uma infecção, são melhores em lidar com variantes uma vez que atacam diferentes partes do vírus". "O que é importante enfatizarmos aqui é que a imunidade não se perde", disse, no Twitter, a imunologista Letícia Sarturi, ao comentar os dados de que a ômicron parece escapar mais da imunização.
"Anticorpos neutralizantes funcionam, imunidade celular também vai funcionar porque células T de memória não são 'enganadas' tão facilmente por variantes. Elas se ativaram por pedacinhos muito pequenos da proteína spike, então, mesmo que ocorram mutações, células T podem responder porque nem todos os pedacinhos da proteína mutaram. Variantes são uma ameaça ao controle da pandemia, mas variantes não vão comprometer completamente o que ganhamos com a imunização." Doses de reforço Há, ainda, um outro estudo ainda preliminar (e sem revisão de pares) e patrocinado por fabricantes de vacinas, que avaliou especificamente a eficácia de doses de reforço (no caso, as da Pfizer e da Janssen) em 65 indivíduos.
Embora não seja específico sobre a ômicron, o estudo sugere que a dose adicional da vacina
"aumenta as respostas de anticorpos em pessoas que haviam sido vacinadas ao menos seis meses antes" com a vacina da Pfizer.
No entanto, os pesquisadores ressaltam que a duração desse aumento na imunidade ainda é desconhecida. Ainda será necessário fazer mais estudos sobre como essas e as demais vacinas se comportam perante a ômicron — e, também, como a dose de reforço pode aumentar a proteção das pessoas.
Por enquanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) argumenta que a expectativa é de que as vacinas continuem sendo efetivas contra a ômicron.
"Temos vacinas altamente eficientes, que se provaram eficazes contra todas as variantes até agora, em termos de (prevenção de) formas severas (da covid-19) e hospitalizações. Não há motivos para crer que será diferente" com a ômicron, afirmou à agência France Presse Mike Ryan, diretor de emergências da OMS.
Mesmo assim, governos e cientistas seguem em alerta para monitorar os efeitos da ômicron à medida que ela avança.
"Uma grande e repentina onda da ômicron ainda pode causar problemas, mesmo que cause apenas sintomas moderados para a maioria das pessoas", explica o repórter James Gallagher. "Se os poucos que tiverem casos graves de covid-19 se infectarem com a ômicron ao mesmo tempo, isso pode voltar a colocar pressão sobre os sistemas de saúde."