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02/04/2018 às 09h14min - Atualizada em 02/04/2018 às 09h14min

BARULHO MORTAL: Cão se desespera com fogos de artifício e morre pendurado em suporte de vaso ao tentar fugir

Política e Mais
Foto: Divulgação

Ao sair do cinema, no início da noite do último domingo, 25 de março, o bailarino Brenno Fabris Pinheiro, 22 anos, não tinha ideia da cena de terror que o aguardava ao chegar em casa. Ao tentar fugir do pavor que o barulho dos fogos de artifício lhe causava, Taj, seu Border Collie de seis anos, terminava morto enganchado em um suporte de vaso.

O drama do cão dócil e brincalhão começava com a partida entre São Paulo e Corinthians, pelo campeonato paulista, na tarde daquele domingo de outono. Animados, os torcedores soltaram fogos durante e após a partida que deu a vitória aos são-paulinos. Taj tinha horror ao barulho do espocar dos fogos de artifício e aquilo foi uma tortura para ele.

Desesperado, tentou pular do pergolado, onde sua família mantém vasos de orquídea, para o telhado, mas um dos suportes das plantas, de ferro, acabou preso à sua patinha dianteira esquerda. Ele ainda lutou pela vida, debatendo-se contra o muro, onde as marcas de sangue de suas patas deixam o cenário ainda mais triste. Não se sabe quanto tempo durou sua agonia, mas Taj ficou pendurado pela pata até a morte.

Ao chegar em casa, os donos entraram em desespero. Seu cão estava morto! Eles tinham feito de tudo para amenizar o sofrimento do cão nas datas que os fogos de artifício são mais comuns, durante as festas juninas, campeonatos de futebol, virada do ano. Nestes períodos, cercavam-se de cuidados. Aumentavam o volume da televisão e deixavam Taj atrás do aparelho, para que ele não ouvisse o barulho dos fogos. Ou, então, o colocavam dentro do carro, com o som ligado – foi assim que o Border Collie passou os dois últimos réveillons.

Todos os cuidados, segundo o dono de Taj, era para evitar que se repetisse o sofrimento do animal. Ele já havia se machucado outras vezes trombando nos móveis e objetos; já escalara muro e fugira por debaixo do portão, sempre na tentativa desesperada de se ver livre do barulho dos fogos de artifício.

“Ele sempre teve um medo acima do comum do barulho dos fogos, por isso, mudamos a nossa vida por ele. Fazíamos de tudo para que ele não sofresse com isso, muitas vezes, ele ficava na nossa cama até acabar uma dessas sessões de tortura”, recorda-se.

Brenno relata que retirou de casa tudo que pudesse machucá-lo, caso se debatesse em um momento de desespero. “Ninguém imaginava que isso pudesse acontecer, eu cheguei em casa às 18h e vi meu cão morto, após passar por uma grande agonia. É tudo muito triste”, afirma, contando que pegou Taj com um ano e meio de idade, em 2014, em uma escola de adestramento, onde a antiga dona tinha deixado o animal, por não conseguir lidar com o comportamento do cão em relação aos fogos.

Casos de sofrimento como o do Taj, infelizmente, ocorrem com frequência entre os cães, segundo o veterinário e vereador Arlindo Araújo (PPS). Em sua clínica, é comum receber pacientes que se acidentam e se machucam ao tentar fugir do barulho dos fogos. “É um transtorno absurdo. Infelizmente, é muito comum o cachorro morrer numa situação dessas”, afirma. Muitos cães fogem e acabam perdidos também, segundo Araújo.

Ele relata o caso de um cachorro, cuja dona estava trabalhando na virada do ano. Desesperado com o estrondear dos fogos, o animal pulou a cerca elétrica e se cortou. Fugiu para a casa do vizinho, quebrou a porta de vidro da residência, se machucou e sujou o lugar todo de sangue. Quando o dono da casa chegou, achou que alguém tinha morrido no local e chamou a polícia. Foi quando encontraram o cachorro todo ensanguentado. Neste caso, o cão teve um final feliz, pois foi socorrido, passou por uma cirurgia, foi medicado e está a salvo.

Apesar da discussão em torno da matéria, que possui lei federal e estadual autorizando o comércio e soltura de fogos no País, outros municípios paulistas proibiram fogos de artifício que façam barulho – é o caso de Campinas e Bálsamo.

REDES SOCIAIS

Após o drama de Taj, sua antiga dona, Silvia Zanatta, e a jornalista Nany Fadil decidiram criar a página “Não aos fogos de artifício” no Facebook, que tem 197 seguidores. “A gente espera chamar a atenção e conscientizar as pessoas sobre o problema, que pode ser minimizado. Se mais pessoas souberem o mal que os fogos fazem, podem deixar de comemorar desta forma”, afirma Nany.

A jornalista lembra que não são apenas os cães que sofrem com os estampidos dos fogos. “Os gatos sofrem muito, crianças, idosos, autistas também, e pássaros morrem com os tímpanos estourados”, cita.

O dono do Taj aprovou a iniciativa e espera que a história de seu cão ajude a conscientizar as pessoas dos problemas causados pelos fogos. “Não precisa acabar com os fogos, mas com o barulho deles. Tem uma forma de melhorar isso sem prejudicar ninguém, é só tirar o barulho”, reitera.

VENDA DE FOGOS EM ARAÇATUBA FOI REGULAMENTADA NO ANO PASSADO

Até o ano passado, a venda e a soltura de qualquer tipo de fogos de artifício eram proibidas em Araçatuba por uma lei municipal de 1994, sancionada pelo então prefeito Domingos Andorfato. As empresas que comercializavam fogos na cidade estavam amparadas por uma liminar (decisão provisória) obtida na Justiça.
 

Sabendo dos transtornos que a situação provoca, Arlindo Araújo propôs, em maio do ano passado, um projeto de lei que proibia em Araçatuba o manuseio, a utilização, a queima e a soltura de fogos de artifício com estampido. Em sua justificativa, ao apresentar o projeto, o vereador explicou que os cães possuem audição muito acurada e sensível. “O cão sofre mais porque ouve mais. Se a gente que tem audição normal já se incomoda com o barulho, imagina o cão”, comenta.

Ele lembra também que há os animais cardiopatas e idosos, além dos que se machucam tentando fugir do estrondo dos fogos. “Isso sem contar as pessoas que estão em casa se convalescendo de um infarto e os recém-nascidos”.

O projeto foi aprovado por unanimidade na Câmara, mas acabou vetado pelo prefeito Dilador Borges (PSDB), após pressão de comerciantes do setor. Curiosamente, depois de aprovar a proposta, os vereadores mantiveram o veto do prefeito (só votaram contra o veto o autor do projeto, Arlindo, e o vereador Flávio Salatino, do PMDB). O pepessista disse que pretende rediscutir a matéria na Câmara.

Em dezembro do ano passado, a Câmara aprovou um projeto de lei apresentado pelo vereador Almir Fernandes Lima (PSDB), regulamentando a fabricação e o comércio de fogos de artifício na cidade. A proposta foi feita com o auxílio do presidente da Assobrapi (Associação Brasileira de Pirotecnia), Eduardo Tsugiyama.

O projeto, que agora é lei, proíbe a instalação de fábricas de fogos de artifício na área urbana de Araçatuba. Já o comércio de fogos deve ser autorizado por meio de uma licença municipal de localização e funcionamento com validade de um ano. As lojas precisam seguir algumas exigências, como funcionar em prédios de alvenaria e a uma distância mínima de cem metros de hospitais, creches e asilos. Com a nova lei, a venda de fogos em Araçatuba triplicou, segundo comerciantes do setor.
 

 

 


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