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12/06/2020 às 16h17min - Atualizada em 12/06/2020 às 16h17min

Covid-19: números mostram que Brasil faz menos testes do que deveria

Além disso, demora na divulgação dos resultados auxilia na imprecisão dos dados

Olhar Digital
Devido ao baixo número de testes RT-PCR realizados para diagnosticar a Covid-19, o número de casos confirmados no Brasil muitas vezes é tratado como secundário por especialistas que analisam a disseminação da doença por aqui.

De acordo com Daniel Lahr, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao G1, o país "está testando brutalmente menos do que deveria. Na melhor das hipóteses, 20 vezes menos do que é considerado adequado. É tão pouco que a amostra pode ser basicamente ignorada".

Por conta disso, especialistas preferem utilizar índices de morte e ocupação de leitos para substituir o de testes justamente pela imprecisão dos dados de contaminados. Essas informações são importantes para determinar, por exemplo, se uma reabertura gradual é a melhor opção ou medidas mais rígidas devem ser adotadas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para saber se um país realiza testes suficientes, basta analisar a taxa de resultados positivos. Do total realizado, 5% ou menos devem apresentar confirmação. No Brasil, por exemplo, essa média é muito maior, chegando a 36,6% de acordo com o sistema da Our World In Data, plataforma adotada pela Universidade Johns Hopkins para montar seu quadro mundial com dados da doença.

Os números no Brasil são altos justamente porque o país realiza testes apenas em pacientes que já estão em situação avançada. Países como Espanha e Itália, por exemplo, apresentam índices de 3,59% e 3,61%, respectivamente. Isso ocorre por conta de medidas de testagem em massa.

Estimativas da Our World In Data apontam que, até a primeira semana de junho, 2,28 pessoas a cada 100 mil habitantes foram testadas no Brasil. Nos Estados Unidos, esse número é muito maior, chegando a 61,59 indivíduos testados a cada 100 mil habitantes.

Como recomendação, a OMS diz que, quanto mais casos um país confirma, mais testes devem ser realizados. O ideal, segundo o órgão, é que o número de testes seja de 10 a 30 vezes o total de infectados. Após o país apresentar um quadro de melhora, o número de exames pode diminuir.

Problemas do país
Devido à situação atual, a realização de testes de detecção é muito importante para determinar a disseminação da doença. Com os resultados, é possível tomar decisões em relação às atividades econômicas e identificação dos doentes para isolamento.

Além dos problemas relacionados ao número de exames realizados, o Brasil enfrenta a demora na divulgação dos resultados. Segundo o Ministério da Saúde, até 2 de junho havia mais de 15 mil testes em situação de análise em Minas Gerais. No Rio de Janeiro, a situação é semelhante, com 11.031 exames aguardando divulgação de resposta – quase o número total de infectados confirmados, que chega a 11.777.

Outro fator decisivo está ligado à falta de clareza na divulgação dos dados. No site criado pelo Ministério da Saúde, são divulgados apenas os casos de laboratórios que utilizam o sistema Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) para registro dos resultados. No entanto, alguns laboratórios públicos e particulares não utilizam a plataforma.

Quando somados, todos esses fatores resultam em um número de mortes que fornece um retrato atrasado da situação. Quando uma pessoa é infectada, segundo Lahr, é necessário de 20 a 25 dias até que ela faleça. Por conta disso, a indicação de óbito ocorre quase um mês após a infecção.
 

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