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23/07/2018 às 10h29min - Atualizada em 23/07/2018 às 10h29min

Por cirurgias plásticas mais baratas, brasileiros organizam no WhatsApp viagens até Bolívia e Venezuela

Cirurgias plásticas em países vizinhos chegam a custar menos da metade do preço no Brasil

BBC Brasil
'Não existe crise para a cirurgia plástica aqui', diz pessoa que recebe, na Venezuela, brasileiros que desejam fazer cirurgia plástica. ( Foto: Getty)
Ele acredita que os mesmos procedimentos, caso feitos no Brasil, não custariam menos de R$ 100 mil – na Bolívia, conta, saíram por pouco menos de R$ 80 mil.

"No total, paguei pouco menos de R$ 50 mil ao longo desses anos. Eu consigo muitos descontos porque também trabalho como drag queen e gravo vídeos divulgando algumas clínicas."

Javier Barea alerta que os brasileiros devem tomar cuidado para não contratar falsos profissionais.

"Há pessoas que não são médicas e se passam por cirurgiões plásticos. Existem também médicos que não possuem tal especialidade e se oferecem para esse tipo de intervenções. Por isso, orientamos que somente entrem em contato com cirurgiões que pertençam à Sociedade Boliviana de Cirurgia Plástica."

Casos trágicos

Embora as mulheres que conversaram com a reportagem relatem experiências positivas, nem sempre o sonho da cirurgia plástica termina bem.

O caso de morte mais recente foi o da manauara Orquídea Catão Ponds, de 45 anos, que morreu horas depois de passar por uma lipoaspiração na Venezuela, em dezembro.

Segundo o laudo pericial, ela teve tromboembolia pulmonar – um coágulo se forma nas veias, entupindo a artéria do pulmão.

A família contesta o resultado da perícia. "Tenho certeza de que não foi uma tromboembolia pulmonar. Eu a acompanhei, estive lá no momento da cirurgia e vi tudo de errado que aconteceu no dia", relata uma parente dela, que pediu para não ser identificada.

Um ano antes, outra brasileira havia morrido após ser operada pelo mesmo médico, o oncologista Oscar Hurtado. Dioneide Leite, de 36 anos, se submeteu a uma abdominoplastia com ele. O nome de Hurtado não consta na lista de profissionais inscritos na Sociedade Venezuelana de Cirurgia Plástica (SVCP).

A reportagem procurou a entidade para comentar o caso, mas ela afirmou que não poderia responder nesta semana.

Em setembro do ano passado, a mato-grossense Janeane Rodrigues da Silva Fidélis, de 42 anos, morreu em decorrência de cirurgias plásticas feitas na Bolívia. Ela sofreu uma parada cardíaca dois dias depois de se submeter a lipoaspiração e abdominoplastia.

O médico responsável pela cirurgia, o cirurgião plástico Hernán Justiniano Grillo, não respondeu aos pedidos de entrevista. Na época, argumentou que a paciente não relatou, no pré-operatório, que tomava diferentes tipos de medicamentos, dentre eles um para problemas cardíacos.

De acordo com a Sociedade Boliviana de Cirurgia Plástica, o médico está inscrito na entidade. A entidade afirma que todos de morte os casos são investigados pelo Ministério Público da Bolívia, mas são conduzidos em sigilo.

Falta de dados

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica fez uma representação na Procuradoria-Geral da República sobre o "turismo médico", na qual relatou as mortes das brasileiras. Segundo a PGR, não foram encontrados indícios de ilegalidades, e procedimento de investigação acabou arquivado.

Nos últimos cinco anos, foram registradas ao menos oito mortes de brasileiras na Venezuela em decorrência de cirurgias plásticas. Na Bolívia foram ao menos sete em 20 anos, segundo a Sociedade Boliviana de Cirurgia Plástica.

Não há dados sobre as mortes e complicações ocorridas após cirurgias feitas no Brasil, como a da bancária operada pelo "Doutor Bumbum". Apesar dos vários casos relatados na imprensa ao longo dos anos, o Ministério da Saúde, o Conselho Federal de Medicina e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirmam que não possuem estatísticas sobre óbitos ou sequelas graves.

No Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, não há apontamentos de mortes em razão de cirurgias plásticas. Os casos normalmente são notificados de formas distintas, como infecção ou parada cardiorrespiratória, pois não há uma especificidade para as intervenções estéticas.

O dermatologista Érico Pampado Di Santis defendeu uma tese de doutorado que tinha como tema as mortes em procedimentos de lipoaspiração no Brasil. Ele relata que teve dificuldades para encontrar dados sobre os óbitos relacionados às intervenções.

"Obtive pela imprensa (os dados) em uma busca hercúlea de 10 anos. É mais difícil ainda conseguir as certidões de óbito", comenta.

Com base nas pesquisas para a tese, Santis apurou que foram registradas, no Brasil, 102 mortes, de 1987 a 2015, em decorrência de lipoaspiração, em alguns casos associadas a outros procedimentos.

Segundo o dermatologista, não há como afirmar que as intervenções nos países vizinhos são mais arriscadas que as feitas no Brasil. "Não se pode dizer que os riscos são distintos, pelo motivo de não termos no Brasil, e também no mundo, dados consistentes sobre esses casos."

 
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