O uso de antidepressivos é cada vez maior, assim como a busca por assistência psicológica
Pandemia, coronafobia e solidão Não podemos menosprezar a influência que a pandemia de covid-19 teve sobre a população em geral — incluindo quadros desagradáveis, como de coronafobia (ansiedade excessiva em relação a contrair o coronavírus), ansiedade, fadiga pandêmica (reação de esgotamento diante de uma adversidade constante e não resolvida) etc.
Diante de tal cenário, a pergunta é: essas situações teriam afetado particularmente estas duas gerações?
A solidão possui relação direta com a tristeza. É verdade que isso se aplica a qualquer idade, mas a necessidade de se relacionar com os demais é maior na juventude. E é por isso que as medidas específicas de prevenção do contágio do coronavírus afetaram particularmente esta população.
Ansiedade social Por outro lado, a solidão desse momento se contrapõe agora com o retorno à vida social, muitas vezes provocando ansiedade entre adolescentes e jovens. A isso se chama ressaca social. Minha experiência pessoal no consultório revelou que muitas pessoas dessa idade manifestam desde então a sensação de não conseguir "
conectar-se" com seus pares.
Elas sentem que não se divertem em situações sociais com muita gente e sofrem ansiedade quando estão rodeadas de pessoas que acabaram de conhecer.
Redes sociais As redes sociais se converteram em um refúgio para muitos jovens que se sentem mal. Cabe destacar que o uso adequado das redes sociais é positivo. Graças a elas, em parte, a desconexão social durante o confinamento não foi total.
Mas há dois fatores que podem afetar negativamente os jovens: - Uso excessivo ou como forma de evitar momentos de ansiedade. Isso pode fazer com que se refugiem nas redes para evitar situações sociais presenciais.
- Uso enviesado. Essa situação poderia expô-los apenas a conteúdos com os quais possam se comparar negativamente, incluindo publicações que demonstrem expressões de dor emocional por pessoas desconhecidas (por exemplo, imagens de automutilações). Frustração profissional Os millennials foram educados em uma "
meritocracia" muito voltada para o sucesso socioeconômico e profissional condicionado ao esforço. A maioria deles certamente ouviu frases como
"se você se esforçar, conseguirá o que deseja". É uma geração que se esforçou para atingir seus objetivos de vida, mas, em muitos casos, com resultados frustrantes. Os estudos universitários foram equiparados ao sucesso profissional, mas, ao final do período de estudos, ocorreu uma crise econômica que não permitiu a eles se desenvolver no trabalho. Agora, eles podem ter medo de que o mesmo aconteça devido à pandemia.
Preocupações globais Entre os assuntos que preocupam os millennials e a geração Z, encontram-se o feminismo, a eco-ansiedade, os direitos LGBTQIA+, a migração... São gerações que se preocupam com o global, e não apenas com o particular. Pensam mais além e sentem ansiedade por mais coisas do que as particulares e individuais.
Estas preocupações globais e a possibilidade de se comunicar pelas redes oferecem a eles uma sensação de pertencimento que é muito positiva. Faz com que se sintam parte de um todo e compreendidos pelos demais. Mas eles não só se preocupam, como também procuram soluções. E, muitas vezes, sentem uma responsabilidade excessiva por situações que são globais e de mais difícil solução, o que, por fim, causa ansiedade.
Maior reconhecimento dos próprios sintomas Uma das razões pelas quais se fala mais em depressão e ansiedade nestas gerações é o fato de que as pessoas que sofrem desses transtornos discutem a questão com mais naturalidade e reconhecem mais facilmente seus sintomas.
De fato, a saúde mental já é um assunto bastante comentado nas redes sociais, plataformas em que há maior presença de jovens. Isso é positivo porque, quando uma pessoa reconhece que não está bem, ela pode pedir ajuda.
Na verdade, foram estas gerações que quebraram o tabu que rondava os cuidados com a saúde mental. Agora são eles que mais (e mais abertamente) falam em fazer terapia. Também são os que mais a recomendam e mais reconhecem seus próprios problemas.
Esta é a geração deprimida porque é a geração que reconhece seu mal-estar sem vergonha, nem medo.