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24/01/2019 às 16h04min - Atualizada em 24/01/2019 às 16h04min

Com medo, Jean Wyllys desiste de mandato como deputado federal

Wyllys está com medo das ameaças que tem recebido.

MBL News
Foto: Divulgação
O deputado federal Jean Wyllys vai desistir de seu terceiro mandato como deputado federal. É o que disse em entrevista para a Folha de São Paulo.

Wyllys vive sob escolta policial desde o assassinato da vereador Marielle Franco, também de seu partido. Ele diz sofrer ameaças de morte e seu medo de continuar no país se intensificou com as informações de que familiares de um ex-PM suspeito de chefiar uma milícia trabalharam para o senador eleito Flávio Bolsonaro.

“Me apavora saber que o filho do presidente contratou em seu gabinete a esposa e a mãe do sicário. O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim”, disse em entrevista.

O parlamentar também reclama de ter sido alvo de fake news.

“A pena imposta, por exemplo, ao Alexandre Frota não repara o dano que ele produziu ao atribuir a mim um elogio da pedofilia. Eu vi minha reputação ser destruída por mentiras e eu, impotente, sem poder fazer nada. Isso se estendendo à minha família. As pessoas não têm ideia do que é ser alvo disso”.
Frota foi condenado na ação a pagar R$ 295 mil a Jean Wyllys.

A falta de liberdade é o fator que mais pesa na decisão do psolista.

“Como é que eu vou viver quatro anos da minha vida dentro de um carro blindado e sob escolta? Quatro anos da minha vida não podendo frequentar os lugares que eu frequento?”.

A Folha perguntou quando que Jean Wyllys decidiu abrir mão de seu mandato:

“Eu já vinha pensando em abrir mão da vida pública desde que passei a viver sob escolta, quando aconteceu a execução da Marielle. Antes disso, havia ameaças de morte contra mim e, curiosamente, não havia contra ela. Nunca achei que as ameaças de morte contra mim pudessem acontecer de fato. Então, nunca solicitei escolta.

Mas, quando rolou a execução da Marielle, tive noção da gravidade. Além dessas ameaças de morte que vêm desses grupos de sicários, de assassinos de aluguel ligados a milícias, havia uma outra possibilidade: o atentado praticado por pessoas fanáticas religiosas que acreditavam na difamação sistemática que foi feita contra mim.”

Também perguntaram a ele se a eleição de Bolsonaro contribuiu para a decisão de não assumir um novo mandato:

“Não foi a eleição dele em si. Foi o nível de violência que aumentou após a eleição dele. Para se ter uma ideia, uma travesti teve o coração arrancado agora há pouco. E o cara [o assassino] botou uma imagem de uma santa no lugar.

Numa única semana, três casais de lésbicas foram atacados. Um deles foi executado. A violência contra LGBTs no Brasil tem crescido assustadoramente.
O [ex-presidente do Uruguai] Pepe Mujica, quando soube que eu estava ameaçado de morte, falou para mim: “Rapaz, se cuide. Os mártires não são heróis”. E é isso: eu não quero me sacrificar.

A violência contra mim foi banalizada de tal maneira que Marilia Castro Neves, desembargadora do Rio de Janeiro, sugeriu a minha execução num grupo de magistrados no Facebook. Ela disse que era a favor de uma execução profilática, mas que eu não valeria a bala que me mataria e o pano que limparia a lambança.

Na sequência, um dos magistrados falou que eu gostaria de ser executado de costas. E ela respondeu: “Não, porque a bala é fina”.

Veja a violência com homofobia dita por uma desembargadora do Rio de Janeiro. Como é que posso imaginar que vou estar seguro neste estado que eu represento, pelo qual me elegi?”

Jean Wyllys já está fora do Brasil e diz que não pretende voltar.


 
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