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24/04/2022 às 18h01min - Atualizada em 24/04/2022 às 18h01min

Brasil tem 3ª gasolina mais cara do mundo, calcula consultoria

Mesmo com sucessivos aumentos, preço da gasolina ainda está mais baixo que paridade internacional

BBC
Foto: Marcello Casal Jr
O aumento nos preços de combustíveis é um fenômeno global, mas a forma como os consumidores sentem seus efeitos tem variado entre os países.

A consultoria Oxford Economics tentou medir essa diferença confrontando o valor do litro da gasolina com o poder de compra em 30 países, calculando qual fatia ele representa da renda da população local.

O Brasil aparece entre os três primeiros da lista. Um litro de gasolina corresponde a 9% do salário médio diário do país, percentual menor apenas do que o registrado nas Filipinas (19%) e na Indonésia (13%).

'Gasolina do Brasil é terceira mais cara do mundo depois de ajustada pelo poder de compra', diz título do gráfico que ilustra relatório

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Em relatório divulgado para clientes, os economistas Marcos Casarin e Felipe Camargo chamam atenção para o fato de que, mesmo com os sucessivos aumentos, o preço do combustível no Brasil ainda está defasado em cerca de 18% em relação aos preços internacionais.

Assim, caso a Petrobras siga à risca a política de paridade - que prevê que os preços internos sejam reajustados a depender do preço do barril de petróleo e do câmbio -, a gasolina pode ficar ainda mais cara até o fim deste ano.

A política de preço de paridade internacional (PPI) foi instituída na Petrobras em 2016, quando o empresário Pedro Parente assumiu a direção da companhia, após as denúncias de corrupção na estatal.

Em anos anteriores, a Petrobras havia subsidiado o preço dos combustíveis que vendia no mercado doméstico. Entre 2012 e 2014, período em que o descasamento entre os preços internos e no mercado internacional atingiu o pico, a empresa renunciou ao equivalente a 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em lucros por conta da política, calcula a Oxford Economics.

Desde outubro de 2016, quando o PPI passou a valer, o preço da gasolina cresceu 57% no Brasil, já descontada a inflação, e o valor das ações da companhia mais que dobrou, ainda de acordo com a consultoria.

Apesar do nível elevado dos preços, evitar novos aumentos pode ser difícil, avaliam economistas

Apesar do nível elevado dos preços, evitar novos aumentos pode ser difícil, avaliam economistas


Dá pra manter os preços estáveis?

O preço médio da gasolina atingiu proibitivos R$ 7,219 na semana entre 10 e 16 de abril, conforme os dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ainda assim, manter o valor pelo menos nos níveis atuais até o fim de 2022 pode não ser tão fácil.

Entre as alternativas para estabilizar os preços, os economistas destacam dois possíveis cenários: 1) os "custos" são absorvidos pela própria estatal - ou seja, ela abre mão do lucro e mantém os preços menores do que a paridade -; 2) o governo entra com subsídios, seja com a criação de um fundo de estabilização de combustíveis ou com recursos do próprio orçamento.

Ao renunciar a novos reajustes, a Petrobras abriria mão do equivalente a 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em lucros, R$ 68 bilhões, calcula a Oxford Economics, levando em consideração as projeções para o preço do barril de petróleo WTI e do dólar até o fim do ano. O impacto, nesse caso, se daria majoritariamente sobre os acionistas da estatal.

O fundo de estabilização, por sua vez, é um mecanismo com o qual já contam países como República Dominicana, México e Chile. Foi defendido pelo economista Adriano Pires, que chegou a ser cotado para a presidência da Petrobras quando o presidente Jair Bolsonaro decidiu retirar do cargo o general Joaquim Luna e Silva, no último mês de março.

Nesse caso, os economistas argumentam que um fundo como esse não seria criado em tempo hábil até o fim deste ano, entre outras razões porque o presidente não tem apoio suficiente do Congresso, que precisaria aprovar uma emenda constitucional para tirá-lo do papel.

Finalmente, para usar recursos do próprio orçamento para financiar a estabilização dos preços, o governo poderia furar o teto de gastos (e correr o risco de ser processado judicialmente por possível crime de responsabilidade) ou convencer os parlamentares a aprovar uma emenda constitucional para abrir recursos extraordinários no orçamento.

Dessa última forma, diz a análise, os custos da medida seriam mais transparentes, mas uma nova flexibilização do teto de gastos poderia ser mal vista pelo mercado e erodir ainda mais a credibilidade em relação à sustentabilidade das contas públicas.

Por outro lado, acrescenta o texto, "deixar os preços subirem pode proteger os acionistas da Petrobras e a reputação fiscal do Brasil, mas vai restringir ainda mais o poder de compra dos consumidores, elevando a probabilidade da ocorrência de greves e manifestações contra o governo a poucos meses das eleições de outubro".

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