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13/02/2022 às 13h22min - Atualizada em 13/02/2022 às 13h22min

Por que nossos músculos doem quando pegamos gripe ou covid

Dores musculares intensas são um dos sintomas associados à covid-19

BBC
Foto: GETTY IMAGES
Antes da pandemia de covid-19, já estávamos acostumados com as ondas anuais de gripe, quando os hospitais apareciam nos noticiários lotados de pessoas sofrendo os sintomas das piores consequências da gripe - entre elas, a pneumonia. Mas, para a maioria dos pacientes, os sintomas da gripe felizmente são mais benignos e não exigem hospitalização.

Entre esses sintomas, os mais comuns são a febre, que provoca calafrios e suor frio, dores de cabeça, tosse persistente ou seca acompanhada de dor de garganta, nariz congestionado, fraqueza e... terríveis dores musculares e das articulações. Mas qual a razão dessas dores, se o vírus da gripe - como o da covid-19 - entra no nosso corpo através das vias respiratórias, afetando as mucosas do nariz, a garganta e os pulmões?

A reação imunológica é uma faca de dois gumes
Na maioria das infecções virais respiratórias, os sintomas não são causados diretamente pela ação do vírus, mas sim pela reação do sistema imunológico para eliminá-lo.

Dor de garganta, tosse, aumento da mucosidade e febre são apenas os sintomas associados à reação do corpo causada pela ação do sistema imunológico. Por isso, eles são comuns a uma imensa quantidade de doenças virais e bacterianas.

Geralmente, quase qualquer enfermidade que produza inflamações acaba causando esses sintomas comuns, que também incluem fraqueza, dores musculares e dores articulares. Quem causa todos esses sintomas é a reação inflamatória, independentemente do patógeno responsável. A inflamação muscular acompanhada de fraqueza é conhecida como miosite, enquanto mialgia é o nome que se dá à dor nos músculos e articulações.

Ao produzir-se uma reação imunológica contra um patógeno, as diferentes células intervenientes liberam uma série de proteínas pequenas, conhecidas como citocinas. As citocinas são de diferentes famílias que regulam diversas atividades das células do sistema imunológico e de outros órgãos.

Algumas citocinas servem para indicar o lugar onde se encontra a infecção, enquanto outras regulam o tipo de reação que deve ser produzida de acordo com o patógeno infeccioso e ainda outras controlam a intensidade da reação imunológica ou até regulam a reparação dos danos aos órgãos e aos tecidos.

A mialgia também inclui dor nas articulações

A mialgia também inclui dor nas articulações


As citocinas fazem parte de todo um sistema complexo de sinalização necessário para que as células do sistema imunológico controlem a reação imunológica, mas que também influencia outros órgãos e tecidos. Muitas dessas citocinas produzem inflamações não apenas no local da infecção, mas também em outros órgãos, incluindo músculos e articulações. Por isso, em gripes e em outras infecções respiratórias, incluindo a covid-19, são produzidas dores musculares muito similares àquelas causadas pela artrite leve.

Dentre essas citocinas, a interleucina 1-beta (IL-1b), que produz febre, e as interleucinas 6 (IL-6) e 17 (IL-17), em conjunto com o fator de necrose tumoral alfa (TNF-a), são as mais importantes para explicar as dores musculares. Nos casos de gripe e em outras infecções virais, a presença de altos níveis de IL-6 nos músculos foi relacionada às dores.

Provavelmente, essas dores estão associadas à perda muscular produzida pela gripe, mas também a outras infecções virais capazes de produzir ruptura das fibras musculares, conhecida como rabdomiólise. Essas rupturas musculares foram associadas a altos níveis de IL-6 ou TNF-a após essas infecções.

Em resposta a essas citocinas, os músculos produzem níveis elevados de prostaglandina E2 (PGE2), uma molécula lipídica associada às inflamações e às dores. Por esta razão, contra as dores e o enfraquecimento muscular, são indicados anti-inflamatórios não esteroides, cujo mecanismo de ação consiste na inibição da produção de PGE2, como o ibuprofeno ou o paracetamol.

A presença de citocinas inflamatórias provoca os sintomas de dores musculares

A presença de citocinas inflamatórias provoca os sintomas de dores musculares


Combater as dores: sim ou não?
Como explicamos, as dores, tanto musculares quanto articulares, são efeitos secundários da reação inflamatória do sistema imunológico em suas tentativas de combater a infecção. E, independentemente da origem da inflamação, a presença de citocinas inflamatórias é a responsável por provocar os sintomas mais graves nos músculos e nas articulações. Esses sintomas incluem não apenas as dores, mas também a perda de fibras musculares.

Mas existe aqui um paradoxo. A inflamação é a primeira estratégia empregada pelo sistema imunológico para tentar combater uma infecção viral. Mais que isso, a reação inflamatória é essencial para manter a infecção sob controle e também para reparar os danos produzidos pelos vírus e bactérias.

Pois bem, se essas reações fazem parte do arsenal utilizado pelo nosso organismo na sua luta contínua contra os patógenos, faz sentido combatê-las?

Para controlar as dores, aconselha-se o uso de anti-inflamatórios não esteroides, como ibuprofeno ou paracetamol

Para controlar as dores, aconselha-se o uso de anti-inflamatórios não esteroides, como ibuprofeno ou paracetamol


As dores e a fraqueza muscular em uma infecção viral podem ser danos colaterais suportáveis. Mas é muito diferente quando elas se tornam um sintoma crônico associado ao desequilíbrio do sistema imunológico, provocando uma inflamação muscular crônica sem origem definida. Isso possivelmente ocorre em outros tipos de mialgias e fibromialgias, embora ainda não haja muita discussão a respeito.

É necessário encontrar as causas das dores musculares crônicas acompanhadas por fraqueza e uma dessas causas poderia ser a liberação descontrolada de citocinas pró-inflamatórias. Por isso, é importante controlar os níveis dessas citocinas no tratamento desse tipo de enfermidades.

* Guillermo López Lluch é catedrático da área de biologia celular, pesquisador do Centro Andaluz de Biologia do Desenvolvimento e pesquisador do metabolismo, envelhecimento e sistemas imunológicos e antioxidantes da Universidade Pablo de Olavide em Sevilha, na Espanha.

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