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30/09/2021 às 18h22min - Atualizada em 30/09/2021 às 18h22min

Estudantes criam projeto para oferecer monitorias gratuitas a vestibulandos

Projeto Berá foi criado durante a pandemia; aulas têm foco no Enem

Roberto Paim
Agência Educa Mais Brasil
Ana Luiza recebeu monitorias do Projeto Berá. Hoje ela é estudante de Farmácia
Berá, do tupi, quer dizer brilhar, resplandecer. Em Salvador, um grupo de estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA) se uniu para fazer com que outros alunos possam brilhar nos estudos e conseguir uma vaga no ensino superior. Do encontro, que segue à risca o ditado “a união faz a força”, nasceu o Projeto Berá (@projetobera), que oferece monitoria gratuita a pré-vestibulandos que querem melhor se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Toda a iniciativa é organizada pelos próprios estudantes e partiu da sensibilidade deles com o fechamento de escolas em virtude da pandemia da Covid-19, fazendo com que muitos alunos tivessem que estudar por conta própria. Cada inscrito é auxiliado de perto por um monitor(a) que se dispõe a ser um padrinho ou uma madrinha tirando dúvidas, dando dicas e outras orientações. O foco do projeto tem sido atender pessoas oriundas de escolas públicas, que não tenham outro tipo de acompanhamento nesse período da pandemia.

“O projeto, para além dessa parte de compartilhamento de conhecimento teórico, é também uma forma de tranquilizar o aluno que está nesse período tão nervoso até porque ele vai estar em contato com quem há pouco tempo passava pela mesma situação de se preparar para o vestibular. Nesse sentido, o Berá é como um espaço de escuta também. Então, a gente acaba criando relações muito legais e de aprendizado mútuo”, explica Carol Paraíso, uma das idealizadoras do Projeto Berá.

As aulas têm duração de uma hora por monitoria, são semanais e pela internet. Por ser virtual, a iniciativa conseguiu atender estudantes de diferentes estados. No último ciclo formativo – que iniciou em julho e vai até novembro –, 44 monitores se organizam para atender 53 alunos. Além dos encontros individuais com seu monitor, os pré-vestibulandos têm acesso a um grupo geral do WhatsApp onde podem tirar dúvidas a qualquer momento e um e-mail para enviar redações para correções.

“É muito interessante ver também o empenho dos monitores. Eles realmente se preparam, se dedicam e têm todo cuidado e preocupação para realmente pensar no que aquela pessoa inscrita precisa para alcançar o objetivo dela. A monitoria se dedica de verdade para auxiliar nesse momento do pré-vestibular, que é de muita insegurança, de muito medo”, complementa Carol.

Rendendo frutos
Um dos frutos do projeto, a graduanda em Farmácia Ana Luiza Teixeira fala com carinho e gratidão da relação que teve com os integrantes do Berá e como o projeto foi importante para a sua aprovação com boas notas no Enem. Ana recebeu ajuda nas disciplinas de matemática e física, mas ressalta o valor dos incentivos e apoio emocional que, mesmo que de forma virtual, recebeu.

“Foram muito receptivos com a gente. Faziam reuniões pra falar o que a gente deveria fazer no dia do Enem, o que a gente deveria levar pra comer. Enfim, essas coisas que a gente acha que não faz diferença, né? Mas, no decorrer da nossa aprovação, percebemos que uma das coisas mais importantes é o controle emocional”, avalia.

Ana também destaca a identificação com os monitores e como o fato deles também terem passado por um momento como o dela a ajudou a seguir com mais tranquilidade, contribuindo para sua aprovação. “Felipe, monitor de matemática, e Elaine, minha monitora de física, foram pessoas essenciais prestando auxílio ao conversar sobre a vida, de entender os anseios que perpassam na nossa mente, dando dicas de como controlar o nervosismo e a ansiedade nesse momento que, como eu tinha dito anteriormente, é de suma importância para nós vestibulandos”, acrescenta Ana.

Em gratidão ao projeto, Ana espera, no futuro, poder ser também uma das monitoras do Berá. A vontade é de não só retribuir a ajuda que recebeu, como fazer chegar a iniciativa a mais pessoas. “Esse projeto que é tão bonito precisa chegar a outros vestibulandos que estão em situação complicada e que não podem pagar um cursinho. A gente sabe que educação não é algo assim tão democrático”, finaliza a estudante.

Equipe de administradores do Projeto Berá. FOTO ACERVO

Troca com outras vivências
Para Felipe Barros, também graduando no curso de medicina da UFBA, que começou no projeto dando monitorias de matemática e hoje também faz parte da administração, sua participação também lhe permite olhar para vivências de diferentes estudantes e estar em contato com outras realidades. “O projeto, inicialmente, foi criado para ajudar outros alunos na pandemia, mas acabou extrapolando para uma questão de nivelamento de oportunidades mesmo.

Como atendemos a maioria dos estudantes de escolas públicas e algumas da rede particular, nós temos a responsabilidade de lidar com diferentes realidades”, explica.
Felipe também destaca que, por lidar com pessoas de diferentes contextos sociais, os monitores ampliam o olhar humanizado para o outro, habilidade tão importante para a Medicina. As aulas do Berá, para o discente, são também uma forma de retribuir e contribuir para a sociedade com as conquistas que tiveram. Muitos monitores puderam ter uma melhor assistência nos estudos. Então, a iniciativa visa compartilhar o conhecimento.

“Acho que é o mais gratificante. Eu e muitos outros monitores do projeto tivemos várias oportunidades. Fizemos cursinho, estudamos em escolas particulares de qualidade e eu percebo que há assuntos que não são dados em alguns colégios públicos, além das estruturas serem mais precárias, como os estudantes relatam. Na pandemia, muitos ficaram sem aula. É realmente muito legal fazer parte desse projeto que contribui para o nosso crescimento enquanto pessoas e profissionais no futuro”.

Sensibilidade e empatia são as palavras que vêm à mente da estudante Carol Paraíso ao falar do retorno que o projeto traz para a sua vida. “Essa vivência amplia nosso olhar e cuidado para com o outro, a nossa escuta e o conhecimento de outras realidades. A gente pensa e enxerga as coisas de outra forma”, finaliza a estudante.
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