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12/04/2018 às 15h20min - Atualizada em 12/04/2018 às 15h20min

É possível consertar o Facebook? Mark Zuckerberg e a sabatina do governo americano

Qual será a estratégia de Zuckerberg para reconstruir a confiança em sua plataforma?

Huff Post
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, foi sabatinado pelo Congresso americano na última terça-feira (10). ( Foto: Divulgação)
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook e bilionário aos 33 anos, foi sabatinado pelo Congresso americano na última terça-feira (10). O motivo? Os parlamentares queriam entender qual será a estratégia do executivo para restaurar a confiança do público em sua rede social e questionar se a empresa está aberta a qualquer tipo de regulamentação.
 
Mas é possível consertar o Facebook?

Para Tim Wu, professor de Direito em Columbia e autor do livro Os Mercadores da Atenção: A Luta Épica para Entrar nas Nossas Cabeças, essa não é a pergunta mais correta a ser colocada diante da polêmica que a empresa de Zuckerberg se envolveu.
 
O professor defende que chegou a a hora de pensar em como podemos superar o Facebook.

"O que vem depois do Facebook? Sim, passamos a depender de redes sociais, mas em vez de aceitar um monopólio inerentemente defeituoso do Facebook, o que mais precisamos agora é de uma nova geração de plataformas de mídia social que sejam fundamentalmente diferentes em seus incentivos e dedicação para proteger os dados do usuário. Com exceção de uma revisão total da liderança e modelo de negócios, o Facebook nunca será essa plataforma", argumenta o analista em texto publicado no NY Times.
 
Para Wu, os problemas do Facebook são "centrais e estruturais" e as consequências disso são previsíveis por conta do seu modelo de negócio.

"Desde o primeiro dia em que buscou receita, o Facebook priorizou o crescimento sobre qualquer outro objetivo possível, maximizando a coleta de dados e a atenção humana. Suas promessas aos investidores exigiram uma capacidade cada vez maior de espionar e manipular grandes populações de pessoas. O Facebook, em sua essência, é uma máquina de vigilância, e esperar que mudar é um otimismo equivocado", defende.
 
Segundo o professor de Direito, o concorrente ideal, que poderia vir a ser o sucessor do Facebook, seria uma plataforma que realmente colocasse os objetivos de conectar pessoas e "construir uma comunidade global" em 1º lugar.

Com isso, no entanto, os modelos de negócio baseados em publicidade e coleta de dados seriam incompatíveis com uma rede social confiável. "É difícil mesmo para os bem-intencionados resistirem", argumenta Wu.

Zuckerberg e a Corte

Antes de ser sabatinado pelos congressistas, Zuckerberg deixou uma mensagem em sua página reforçando que estava disposto a "a fazer de tudo para tornar o Facebook um lugar onde todos possam ficar mais próximos das pessoas com quem se preocupam e garantir que a rede social seja uma força positiva no mundo".
No Senado, em um depoimento de quase 5 horas, ele foi questionado por 44 senadores e teve o seu depoimento transmitido ao vivo e acompanhado por milhares de pessoas.

Mark explicou como o Facebook reagiu ao vazamento de dados e afirmou que a empresa vai investir para proteger melhor os usuários.

"Foi meu erro. Não tivemos a visão completa de nossa responsabilidade com o que aconteceu na época. Eu comecei o Facebook e essa é a minha responsabilidade", argumentou o CEO.

Ele deixou claro que as investigações internas continuam e que qualquer aplicativo suspeito, como o teste realizado pela Analytica, será banido da plataforma. Explicou ainda que o Facebook não vende dados para terceiros, mas afirmou que os desenvolvedores de aplicativos também podem coletar dados de usuários.
Zuckerberg negou que a empresa representa um monopólio, porém, não soube responder qual é o seu maior concorrente. Explicou aos senadores como a plataforma ganha dinheiro e deixou no ar que, talvez, pudesse vir a existir uma versão paga da rede social.

No fim do depoimento, o público questionou a qualidade das perguntas e a falta de conhecimento dos senadores sobre o funcionamento da internet.

Em um momento, por exemplo, um senador perguntou se os algoritmos do Facebook funcionariam "se eu estivesse enviando mensagens dentro do WhatsApp". Zuckerburg explicou: "Nós temos um aplicativo chamado Messenger para enviar mensagens para seus amigos do Facebook. Os dados do Whatsapp são criptografados".

Nas redes sociais, a pergunta do senador republicano Orrin Hatch sobre como o Facebook ganhava dinheiro viralizou. "Senador, nós temos anúncios", respondeu Zuckerberg, surpreso ao precisar ter que deixar claro o que há de mais básico em seu modelo de negócio.

Na quarta-feira (11), o CEO foi novamente sabatinado, dessa vez por uma comissão na Câmara dos Deputados. O discurso de Zuckerberg permaneceu o mesmo do dia anterior. Ele continuou a dar respostas evasivas, apesar dos questionamentos mais duros. Inclusive, ele admitiu que os seus próprios dados foram usados pela Cambrigde Analytica.

O presidente da comissão, Greg Walden, questionou o executivo se o Facebook havia se tornado uma empresa de mídia e de serviços financeiros, por exemplo. Mas Zuckerberg limitou-se a responder que o Facebook era uma companhia de tecnologia.

Em outro momento, o deputado Frank Pallone pediu ao CEO respondesse "sim ou não" para a pergunta: "Você está comprometido a mudar configurações no Facebook para minimizar a coleta de dados?". A resposta de Zuckerberg foi: "Deputado, essa é uma situação complexa que precisa de mais de uma palavra".
Questionado, ainda, sobre o sistema de vigilância do Facebook, ele respondeu que sempre há a possibilidade de deletar o seu perfil da plataforma.

"A diferença entre vigilância e o que fazemos é que o que fazemos é diferente. Você pode escolher que nós não coletemos suas informações e você pode deletar seu Facebook. Não há organização de vigilância que eu conheça que você pode pedir para deletar seus dados", defendeu.

O que esperar após o depoimento de Zuckerberg à Corte

Apesar de ter mantido o discurso de que o caso da Cambridge Analytica foge à regra do funcionamento de segurança da rede social, Zuckerberg deixou algumas perguntas sem respostas, como a questão dos perfis-sombras e a dúvida sobre como realmente confiar no Facebook, já que a empresa se autorregula.

Sobre o tema, Zuckerberg demonstrou abertura para discutir o que fazer com as empresas que lidam com grandes bancos de dados.

"Minha posição não é a de que não deve haver regulação, mas de que forma ela será aplicada", explicou.

A expectativa é de que os Estados Unidos crie uma agência regulatória sobre privacidade e proteção de dados pessoais, como já existe na Europa.

Porém, esse não é um caminho tão simples. A coleta de dados e o sofisticado sistema de direcionamento de anúncios mediados pelo Facebook é responsável por grande parte da receita da empresa, que foi de US$ 40,6 bilhões só em 2017.

Em texto publicado no Estadão, o professor de Direito da USP e diretor do InternetLab Dennys Antonialli argumenta que as audiências de Zuckerberg foram um "teatro de cúmplices". Para ele, o Congresso dos EUA também é responsável pela insegurança dos dados dos usuários.

"Tal como está desenhado hoje, o modelo dá às empresas do setor de internet grande liberdade para desenhar suas políticas de coleta e tratamento de dados, privilegiando a inovação e o crescimento da chamada 'economia digital' no país. Em um ambiente regulatório tão permissivo, empresas do setor de internet encontraram as condições mais favoráveis para se desenvolver. Não é a toa que as gigantes do setor estejam sediadas lá", explica Antonialli.

Entenda o contexto do vazamento de dados do Facebook

Marck Zuckerberg foi chamado para depor sobre o vazamento de dados privados de pelo menos 87 milhões de usuários da plataforma para a empresa Cambridge Analytica.

Em 17 de março de 2018, os jornais The New York Times e The Observer publicaram uma reportagem em que contavam como a consultoria britânica teve acesso aos dados dos usuários do Facebook. Mas essa história começou 4 anos antes.

Em 2014, por meio de um teste de personalidade chamado "This is Your Digital Life", a Cambridge Analytica coletou informações não só das pessoas que aceitaram responder as perguntas do jogo, mas de milhares de outros usuários relacionados aos perfis que autorizaram o teste.

A grande questão da estratégia usada pela consultoria britânica - e que chocou analistas e usuários - é que para acessar os dados não foi preciso fazer nada ilegal.

A partir das regras de segurança do próprio Facebook, a empresa conseguiu acessar os dados dos usuários e de seus amigos e os efeitos disso ultrapassaram o domínio da própria rede social.

Em posse dos dados, a consultoria britânica foi capaz de construir uma aplicação que previa e influenciava, a partir de análise do comportamento dos usuários na rede, as decisões de eleitores na campanha de Donald Trump e do Brexit, ambos em 2016.

Após as revelações dos jornais, o Facebook chegou a perder US$ 50 bilhões de dólares em valor de mercado. A empresa de Zuckerberg afirmou que suspendeu a conta da Cambridge Analytica da plataforma e que foi notificada sobre o vazamento dos dados ainda em 2015.
 

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