Uma senhora quase centenária só quer saber, neste momento, de sobreviver por mais cem anos, fazendo aquilo que melhor soube fazer durante toda a sua existência: cuidar com amor e muita responsabilidade da vida de idosas. A saúde, neste momento, não está muito boa. Com a Covid-19, agravou-se. Mas a esperança é que, até 21 de abril do próximo ano, quando, enfim, apagará as velinhas dos cem anos, haja muitos motivos para sorrir. Sim, da mesma forma como se percebe no doce sorriso de cada uma das velhinhas por ela cuidadas.
A ‘senhora’ em questão atende pelo nome de Abrigo Ismael. Localizada no Bairro São Joaquim, um dos mais antigos de Araçatuba, a instituição acompanhou toda a história da cidade que completa mais uma primavera neste 2 de dezembro com o compromisso de dar qualidade de vida e alegria para dezenas de pessoas da terceira idade ali deixadas por suas famílias.
Quem vê a sede do abrigo na Rua Marcílio Dias, um dos principais corredores comerciais do município, pode não imaginar a grandeza desta entidade.
Trata-se de uma história que começou em 1921, época em que Araçatuba ainda era uma localidade quase inteiramente rural. Nesse ano, tão marcante quanto a criação do abrigo ainda hoje em plena atividade, foi a chegada da energia elétrica pública e domiciliar à cidade, com a instalação da Companhia Paulista de Força e Luz), que tinha sua sede em Penápolis. Isso possibilitou o surgimento de casas de comércio e armazéns de secos e molhados.
Ah! Não se pode deixar de destacar que Araçatuba vivia, na década de 1920, o tempo da ferrovia. Era nas palavras do memorialista Fabriciano Juncal um tal “ir e vir constante de passageiros dos trens que por aqui pernoitavam”.
Foi nesse contexto que Gedão Fernandes Miranda, então presidente de um grupo espírita, reuniu forças e finanças para dar início ao projeto assistencial que seria destinado apenas a mulheres em situação de risco, vindo a se tornar um asilo.
Mas, por que Ismael? Coordenador da instituição, Reverson Generoso explica que a escolha do nome teve o objetivo de homenagear uma entidade espiritual. No caso, Ismael, que, segundo a História, assistia pessoas em situação de carência material e espiritual.
Os princípios norteadores da criação da casa não se perderam ao longo destas dez décadas. Questionado sobre o que foi fundamental para manter esta “senhora” viva por todo esse período, Generoso tem um posicionamento muito contundente. Diz ele: “Acredito que, assim como o nome já diz, a caridade foi de suma importância nesses cem anos. A solidariedade das pessoas para com a casa foi essencial para conseguirmos mantê-la de pé por tanto tempo”.
Por se tratar de uma instituição filantrópica, grande parte de rendimento do Abrigo Ismael vem de doações das diversas formas, como alimentos, produtos de limpeza, produtos de higiene, ofertas de eventos para arrecadação de fundos e até dinheiro em espécie.
QUADRO DEFICITÁRIO
No entanto, a atual situação é “desesperadora”, segundo Generoso. Em outubro, a instituição fechou com déficit de R$ 10 mil. A principal dificuldade sempre foi custear folha de pagamento, já que, para o bom atendimento às abrigadas, hoje, há 13 funcionários que se revezam em turnos diurno e noturno. Porém, com a pandemia, o número de doações quase zerou, criando, assim, uma grave crise financeira.
Funcionar apenas com a contribuição mensal da Prefeitura, em torno de R$ 6 mil, tem sido insuficiente para atender a demanda. O local oferece acolhimento e cuidado durante a 24 horas a idosas em seus variados graus de dependência. No momento, 18 idosas, todas de Araçatuba, são atendidas. A capacidade, por sua vez, é para 20.
Entre os principais colaboradores, estão o supermercado Rondon, a Bettinha’s Truffa e Rosângela Pagam (proprietária da chácara Califórnia), que sempre doam seja em espécie, produtos ou fornecendo eventos beneficentes para a casa. Outras doações proveem de frequentadores do centro espírita que funciona no mesmo prédio
SERVIÇO
O Abrigo Ismael fica localizado na rua Marcílio Dias, 129, bairro São Joaquim. Telefone para contato: (18) 3623-3408.
Foto: Reprodução LR1
