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25/09/2020 às 16h24min - Atualizada em 25/09/2020 às 16h24min

Por que os pássaros são tão inteligentes? Este estudo explica

Pesquisadores encontraram semelhanças entre uma região do cérebro dos pássaros e o neocórtex dos mamíferos; descobertas sugerem que algumas aves podem possuir capacidades cognitivas

Olhar Digital
Uma comparação descompromissada entre os cérebros de um pássaro e de um mamífero encontraria poucas semelhanças. Ainda assim, as aves são capazes de desempenhar tarefas complexas, como criar (e utilizar) ferramentas e reconhecer sons da natureza. 

Este "talento" intriga os cientistas porque, diferente dos primatas, os pássaros não possuem uma região do cérebro chamada neocórtex, que é responsável pela memória, planejamento e resolução de problemas. O prefixo "neo", aliás, indica que esta é uma das partes do cérebro mais recentes no processo evolutivo, e, portanto, mais avançadas.   

Pensando nisso, o neuroanatomista Martin Stacho, da Universidade Ruhr-Bochum, decidiu investigar o prosencéfalo (parte frontal do cérebro) de três pombos-correio, e ficou surpreso ao encontrar um arranjo de microcircuitos que pode ser análogo ao neocórtex presente nos mamíferos.

Semelhanças surpreendentes
O prosencéfalo engloba uma região chamada pallium, que, por sua vez, possui estruturas distintas conectadas por fibras longas.  

Utilizando imagens 3D de luz polarizada, Stacho e sua equipe examinaram fragmentos microscópicos do pallium e os compararam aos dos ratos, macacos e humanos. Surpreendentemente, eles observaram que as fibras presentes no pallium das aves são organizadas de maneira semelhante às fibras do córtex dos primatas.   

Pesquisadores analisaram a estrutura do cérebro de pombos. Imagem: alwayskamals/Sutterstcok

Pesquisadores analisaram a estrutura do cérebro de pombos. Imagem: alwayskamals/Sutterstcok



O estudo não parou por aí. Os cientistas injetaram, ainda, fragmentos de cristais na região sensorial do cérebro de corujas (em laboratório, é claro) para investigar como funcionavam os circuitos presentes ali.

Observando o caminho percorrido pelos cristais, eles encontraram conexões entre os neurônios que também são parecidas com as que existem no neocórtex.   

As descobertas foram relatadas nesta quinta-feira (24) na revista Science, e, segundo os pesquisadores, explica porque os pássaros têm capacidades cognitivas tão próximas às dos mamíferos.

Corvos possuem consciência?
Também na Science, cientistas da Universidade de Tübingen, na Alemanha, publicaram um estudo que complementa as descobertas de Martin Stacho. A partir da observação do cérebro de uma espécie de corvo, eles sugeriram que estas aves podem ter experiências conscientes e tomar decisões com base em raciocínio causal. 

Os pesquisadores treinaram dois corvos para se moverem ou ficarem parados em resposta a um sinal exibido em um monitor. Quando respondiam corretamente ao estímulo, eles eram recompensados. 

O experimento foi repetido depois da implantação de eletrodos no cérebro dos corvos, o que permitiu que os sinais neuronais das aves fossem registrados conforme eles se movimentavam. Desse modo, os cientistas descobriram que quando os corvos reagiam, seus neurônios disparavam, sugerindo que eles percebiam conscientemente o estímulo do monitor. Já quando ficavam parados, os neurônios também não registravam alteração.

O mais surpreendente é que os neurônios que disparavam de acordo com a ação dos corvos estavam localizados justamente no pallium, objeto de investigação da pesquisa citada anteriormente.

Assim como nos pombos, possíveis capacidades cognitivas dos pombos se devem ao pallium. Imagem: Rudmer Zwerver/Shutterstock

Assim como nos pombos, possíveis capacidades cognitivas dos pombos se devem ao pallium. Imagem: Rudmer Zwerver/Shutterstock



De acordo com o neurofisiologista Andreas Nieder, autor do estudo, este é um "marcador empírico da consciência sensorial no cérebro das aves". Para ele, uma explicação plausível é que os blocos de cognição dos mamíferos e das aves tenham ambos se originado em um ancestral comum há cerca de 320 milhões de anos.

Já a psicóloga Irene Pepperberg, da Universidade de Harvard, argumenta que os estudos dão pistas convincentes de que, talvez, a consciência não seja um atributo exclusivamente humano.
 
 

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