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24/08/2020 às 15h23min - Atualizada em 24/08/2020 às 15h23min

Mais de 260 incêndios são registrados na Amazônia de maio a agosto

Mais de 95% dos incêndios florestais ocorridos em território brasileiro foram ilegais

ANDA
Foto: Carl de Souza
Um total de 227 incêndios foi registrado na Amazônia de 28 de maio a 10 de agosto — destruindo 127.866 hectares, uma área quase duas vezes maior que a cidade de Nova York. O número de queimadas está aumentando conforme a região entra na temporada de pico de incêndios, de acordo com uma análise de dados de satélite do Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP). Até 13 de agosto, esse número subiu para 266 incêndios.

Mais de 220 dos incêndios observados entre 28 de maio e 10 de agosto ocorreram no Brasil, sendo apenas seis na Bolívia e um no Peru. Acima de 95% dos incêndios brasileiros foram ilegais, violando a proibição de incêndios por 120 dias decretada pelo presidente Jair Bolsonaro em 15 de julho. Os incêndios ilegais estão ocorrendo apesar do avanço, em maio, do Exército Brasileiro na Amazônia para evitar as queimadas.

Apenas dois dos incêndios relatados foram confirmados como incêndios florestais, cobrindo 1.447 hectares do território brasileiro. O restante ocorreu em terras desmatadas nos últimos dois anos, o que mostra o papel do desmatamento como catalisador de incêndios na Amazônia.
“Argumentamos que a questão central é, na verdade, o desmatamento e [que] os incêndios são, na verdade, um indicador fumegante dessa perda de floresta”, afirma o relatório.

Os incêndios na Amazônia que chamaram a atenção internacional em 2019 não foram atos da natureza e geralmente seguiram um padrão de desmate, com queimadas feitas por fazendeiros, proprietários e grileiros para converter florestas em pastos e áreas de cultivo.

No ano passado, o MAAP analisou imagens de satélite arquivadas do Planet Explorer e descobriu que muitos dos incêndios de 2019 queimaram áreas desmatadas no início do mesmo ano. Com base nessa descoberta, o MAAP previu que os locais de incêndio em 2020 seguiriam o exemplo, ocorrendo em áreas que sofreram grande desmatamento no início deste ano. Atualmente, quatro das sete áreas previstas pelo MAAP para queimar em 2020, já queimaram, de acordo com Matt Finer, especialista sênior em pesquisa e diretor do MAAP.

Nesta semana, o presidente Bolsonaro negou tanto as queimadas deste ano quanto o desmatamento de 2020, durante a segunda Cúpula Presidencial do Pacto Letícia pela Amazônia. “Não há surto de incêndio, nem um quarto de hectare foi desmatado”, disse Bolsonaro. “É mentira, essa história de que a Amazônia arde em chamas”

Os dados mais recentes divulgados pelo INPE, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do país, constatou que 9.205 quilômetros quadrados — um área cerca de 11 vezes maior que a cidade de Nova York — foram desmatados na Amazônia brasileira nos últimos 12 meses, aumento de 34,5% em relação ao período comparativo do ano anterior. A estimativa anual oficial de desmatamento entre 1 de agosto de 2019 e 31 de julho de 2020 deve chegar a 11.000 quilômetros quadrados quando for divulgada neste outono.

O MAAP monitora incêndios na Amazônia quase em tempo real, usando o aplicativo Amazon Fire Monitoring para localizar áreas com elevadas emissões de aerossol, causadas por grandes quantidades de queima de biomassa. Um “incêndio grave” é definido como aquele com índice de aerossol >1 (aparecendo de verde ciano a vermelho no aplicativo). Assim que um alerta é detectado, o MAAP analisa as imagens de satélite de alta resolução para confirmar o incêndio. O MAAP também compara imagens de satélite ano a ano para determinar se o incêndio começou após um evento de desmatamento recente. Esta medida é diferente dos amplamente divulgados “pontos quentes” de satélites, que já somam dezenas de milhares nesta estação seca.

“Nós vamos dois passos além dos comumente relatados (e muitas vezes enganosos na minha opinião) alertas baseados no calor, para rastrear incêndios maiores com muito mais precisão”, disse Finer.

Tanto a NASA quanto o INPE usam satélites com tecnologia infravermelha de “detecção de calor” para detectar pontos quentes. Estes podem ter uma capacidade limitada para detectar incêndios menores e incêndios sub-dossel, que podem ser substanciais em florestas tropicais.

No Brasil, 14 dos incêndios registrados em 2020 ocorreram em áreas protegidas. Os mais afetados são as Florestas Nacionais de Jamanxim e Altamira, no estado do Pará — áreas conservadas notórias pela grilagem de terras e desmatamento ilegal.

A Floresta Nacional de Jamanxim foi duramente atingida pelo desmatamento em 2019, perdendo mais de 3% de sua cobertura florestal somente em maio do mesmo ano. Os que vivem na área dizem que a retórica anti-ambiental de Bolsonaro encorajou especuladores de terras e madeireiros a limpar as terras protegidas e vender as propriedades aos fazendeiros a preços inflacionados. Embora às vezes sejam processados ​​por essas violações, a maioria dos infratores nunca paga suas multas, e o governo — sob as administrações de Temer e Bolsonaro — periodicamente concede ou pede anistias aos desmatadores ilegais e grileiros.

A Floresta Nacional de Altamira, lar da ariranha (Pteronura brasiliensis), do peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis) e da onça-pintada (Panthera onca), teve um aumento de 85% no desmatamento em 2019 em relação ao ano anterior. A mineração ilegal de estanho e de ouro, a extração de madeira e a pecuária aumentaram o desmatamento na área protegida.

“Enfatizamos, no entanto, que esses incêndios [nas Florestas Nacionais de Jamanxim e Altamira] estavam queimando áreas recentemente desmatadas, e não incêndios florestais [de ocorrência natural]”, diz o relatório do MAAP, “e então, novamente, o principal problema é o desmatamento.”
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