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21/08/2020 às 10h13min - Atualizada em 21/08/2020 às 10h13min

Já é seguro reabrir as escolas? Estudo de Harvard aponta que não

Pesquisa revelou que, mesmo assintomáticas, crianças podem carregar cargas virais mais altas do que se pensava; transmissibilidade é maior em quem apresenta níveis elevados do vírus no organismo

Olhar Digital
Voltas às aulas teria de ser acompanhada por uma série de precauções, como distanciamento social e uso de máscara. Imagem: iStock
Um estudo conduzido na Universidade de Harvard concluiu que as crianças carregam uma carga viral do novo coronavírus mais alta do que se pensava. De acordo com os pesquisadores, crianças com poucos ou nenhum sintoma podem ter o vírus no organismo em níveis mais altos do que os adultos hospitalizados em estado grave, especialmente durante os dois primeiros dias de infecção.

Os cientistas acompanharam 192 indivíduos com idades entre 0 e 22 anos. Ao todo, 49 crianças deste grupo testaram positivo para a Covid-19, e outras 18 apresentaram sintomas tardios da doença.

De acordo com os médicos do Hospital Geral de Massachusetts (MGH), afiliado à universidade, e do Hospital Geral Infantil (MGHfC), os resultados comparados mostraram que a carga viral das crianças era superior à dos pacientes adultos em tratamento intensivo. 

“Não esperava que a carga viral fosse tão elevada. Você pensa em um hospital e em todas as precauções tomadas para tratar adultos gravemente enfermos, mas as cargas virais desses pacientes hospitalizados são significativamente mais baixas do que as de uma 'criança saudável' que anda por aí com uma enorme carga viral de Sars-Cov-2", afirma Lael Yonker, diretora do Centro de Fibrose Cística do MGH e principal autora do estudo. 

Volta às aulas em SP

Cargas virais elevadas aumentam o risco de transmissão da Covid-19. Por isso, os resultados do estudo levantam dúvidas sobre a segurança de uma possível reabertura das escolas. 

Em São Paulo, o retorno das aulas presenciais estava previsto para setembro. Segundo informações da Folha, no entanto, a hipótese é considerada improvável nos bastidores do governo, e deve ser descartada.

Na capital do estado, especificamente, o prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciou na última terça-feira (17) que a volta em setembro não é uma possibilidade. 

Mesmo assim, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp) protocolou na Justiça uma ação pedindo que o retorno seja mantido para as escolas particulares, ainda que opcional. 

Se a Justiça emitir parecer favorável ao Sieeesp, a decisão de Covas perde a validade e as escolas reabrem na capital. Isso iria de encontro não apenas ao estudo de Harvard, mas aos dados divulgados esta semana pelo "inquérito sorológico" conduzido pela prefeitura de São Paulo, que avaliou 6 mil estudantes do ensino infantil ao Fundamental II.

Os resultados foram os seguintes:
 
  • A prevalência do novo coronavírus entre as crianças paulistanas é de 16,1%;
  • Destas, somente 35,6% sentiram os sintomas, enquanto 64,4% foram assintomáticas;
  • 25,5% das crianças testadas moram com pessoas de 60 anos ou mais;
  • 17,8% das crianças que testaram positivo são pretas e pardas, e 64,4% pertencem às classes D e E.

Recomendações de Harvard

A pesquisa realizada em Harvard e o inquérito sorológico de São Paulo parecem se complementar. Enquanto a primeira comprova que crianças assintomáticas podem carregar cargas virais elevadas do vírus, o segundo mostra que a maioria dos alunos que testaram positivo não apresentaram sintomas. 

Ambos revelaram que a Covid-19 atinge com mais frequência as crianças pobres. De acordo com o MGH, 51% das crianças com infecção aguda vieram de comunidades de baixa renda, e 2% de comunidades de alta renda.

Os pesquisadores de Harvard não desaconselham definitivamente a volta às aulas, mas afirmam que, caso ocorra, devem ser tomadas uma série de precauções.

Eles sugerem que sejam adotadas medidas de controle de infecção, como distanciamento social, uso de máscara, testagem contínua dos alunos e protocolos de lavagem das mãos.

“Este estudo fornece fatos consistentes para que os formuladores de políticas públicas tomem as melhores decisões possíveis para as escolas, creches e outras instituições que atendem crianças”, diz Alessio Fasano, diretor do Centro de Pesquisa de Biologia e Imunologia do MGH. “Se as escolas forem reabertas totalmente sem as precauções necessárias, é provável que as crianças desempenhem um papel maior nesta pandemia”, completa.
 
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