De acordo com a análise, a artéria carótida, que leva o sangue ao cérebro, sofreu um traumatismo repetitivo gerado pelo osso hióide, existente no pescoço. O trauma prejudicou o fluxo sanguíneo para o cérebro e levou ao AVC.
O paciente precisou ser submetido à cirurgia para restaurar a artéria e corrigir o osso hióide. "O controle do paciente, realizado durante seis meses, demonstra que ele tem uma vida normal", disse o médico Fernando Peixoto Ferraz de Campos, da Divisão de Clínica Médica do HU, um dos autores do artigo.
O exame de um fragmento da carótida retirado durante a operação mostrou que o trauma lesou as camadas da artéria e proporcionou a formação de placas de ateroma (depósito de gordura e tecido fibroso na parede do vaso) e a formação de trombo, um coágulo de sangue organizado e aderido à parede da artéria no local da lesão.
"Um ano antes, o mesmo paciente havia apresentado quadro clínico semelhante nas mesmas condições, ou seja, carregando mochila em uma trilha", conta Fernando Peixoto Ferraz de Campos.
Contudo, naquela época o exame de ressonância magnética do cérebro não identificou nada de anormal e o paciente retomou sua rotina. Ao ser internado novamente com os mesmos sintomas, desta vez constatou-se o AVC, tanto pelo exame clínico como por exames de imagem.
Outras pesquisas mostram que existem situações de risco para traumas sobre a carótida causados pelo osso hióide. "No esporte, por exemplo, este evento já foi descrito com um jogador de golfe, que ocorre quando o jogador dá uma tacada e gira o pescoço junto com o corpo. Também foi reportado o caso de um pedreiro que apresentou a lesão vascular, causada pelo fato de carregar peso sobre a cabeça", completa o autor do estudo.
Além disso, os investigadores descobriram que o paciente estudado possuía o corno maior do osso hióide mais desenvolvido à direita e, pelo fato dos dois episódios terem ocorrido em situações semelhantes, presume que a mochila pesada, carregada nas costas, levava o tronco para trás.
O AVC é responsável pela morte de cinco milhões de pessoas no mundo a cada ano, de acordo com a OMS. No Brasil, a doença mata mais que o infarto: são mais de 100 mil pessoas por ano, segundo o Ministério da Saúde. Outro dado alarmante é que um em cada seis brasileiros corre risco de sofrer um derrame.