AtaNews Publicidade 728x90
21/02/2020 às 15h24min - Atualizada em 21/02/2020 às 15h24min

Entenda mais sobre a crise de carne halal na Europa

Esse tipo de abate descrito no Alcorão vem sendo cada vez mais alvo de críticas

Assessoria de Imprensa
Foto: Divulgação
No início de 2019, a região belga de Flandres proibiu o abate de animais sem o atordoamento prévio, algo que afeta diretamente o debate no continente europeu acerca da liberdade religiosa, já que a medida afeta a produção de carnes kosher (judeus) e halal (muçulmanos).
 
Tal proibição, estendida para Noruega, Islândia, Suécia e Suíça, acaba retirando, gradativamente, o Velho Continente do mercado de carnes voltado aos preceitos muçulmanos — para estes, o consumo de qualquer tipo de carne só se faz caso o abate animal seja realizado conforme as leis do Alcorão, livro sagrado do Islã. 
 
Em contrapartida, quem se vê beneficiado com essa crise é o Brasil, que já é considerado pelo segundo ano consecutivo o maior exportador de carnes halal do mundo.
 

Carne Halal: o que é

Segundo os preceitos muçulmanos, halal significa aquilo que é lícito, ou seja, tudo que é permitido para eles, conforme diz o Alcorão. Uma carne halal é, portanto, qualquer tipo de carne cujo abatimento tenha sido feito conforme as leis muçulmanas.
 
Segundo Ali Saifi, diretor-executivo da CDIAL Halal, empresa especializada na certificação desse tipo de alimento, “o animal tem que estar saudável na hora do abate”, que deve ser feito por meio de “um corte onde se corta jugular, traqueia e esôfago”, não podendo morrer por atordoamento.
 
“A causa da morte tem que ser a degola, onde se esvai a maior quantidade de sangue possível e o animal tem que ser tratado de forma humanitária, respeitosa”, afirma Saifi. Além disso, o abate deve ser feito por um muçulmano que pronunciará o nome de Allah antes da degola, com a cabeça do animal voltada a Meca.
 
O sangue do animal é totalmente retirado, e só então é feita a higienização da carne. Ainda segundo Saifi, “depois do abate tem toda a segregação da carne. Tem todo um controle para garantir que aquele animal que foi abatido da forma islâmica correta será a carne certificada e enviada, é tudo monitorado”.
 
Como dá para perceber, para a obtenção desse tipo de carne, são realizados processos meticulosos, ou seja, um cuidado especial, segundo preceitos religiosos.
 
Por outro lado, esse tipo de prática é, muitas vezes, criticado e, como no caso de vários países europeus, acaba sendo abandonado, seja por questões ambientais ou de fundo econômico.
 

Países europeus deixam de exportar carne halal

Diferentes países do Velho Continente têm deixado de lado a produção de carne halal. Alguns deles, como Bélgica, Noruega, Islândia, Suécia e Suíça obrigam o atordoamento animal antes do abate, enquanto na Estônia, Dinamarca e Finlândia, tal processo é feito após a degola.
 
Na Alemanha e na Áustria, por sua vez, é vedada a exportação desse tipo de carne, permitida apenas para abastecer os mercados internos.
 
De acordo com Felipe Kleiman, especialista em operações de abate kosher, que segue os preceitos religiosos judaicos, “esse movimento de proibição não é isolado e nem recente”.
 
Segundo Kleiman, existem diversas agendas ideológicas por trás do problema com a produção de carnes com abates religiosos, desde grupos de extrema-direita que apoiam a caça esportiva, até os grupos radicais ambientalistas.
 
“Só que se essa fosse a verdadeira razão, as propostas trabalhariam métodos para melhorar o bem-estar animal, mas o que acontece é que acabaram rotulando na opinião pública o abate religioso como maus tratos aos animais”, explica o especialista.
 
Por outro lado, quem tem se beneficiado com essa posição é o Brasil que tem ganhado cada vez mais na produção de carnes para judeus e muçulmanos, que exigem técnicas específicas durante e depois do abate animal.
 

Crise na Europa beneficiou o mercado brasileiro

Um dos maiores beneficiados da crise da exportação de carne halal na Europa acabou sendo o Brasil que, atualmente, é o maior produtor e exportador desse tipo de carne em todo o mundo.
 
Em 2018, por exemplo, o país chegou a exportar US$ 70 milhões (14 mil toneladas) de carne bovina para Israel.
 
Para se ter uma ideia, enquanto o Chile, “considerado como um dos países mais exigentes em relação à qualidade da carne, paga US$ 4,3 mil a tonelada de dianteiro bovino tradicional, o mercado kosher pagaria US$ 5,1 mil a tonelada”, explicou Kleiman.
 
O custo para se montar um frigorífico para o abate religioso acaba não sendo muito alto e, além disso, o Brasil tem tecnologia própria para atender aos requisitos básicos, como o bem-estar animal exigido para a produção desse tipo de carne.
 
Além da carne bovina, o frango também tem se destacado. O principal comprador do Brasil, atualmente, é a Arábia Saudita, que importa cerca de 50 mil toneladas de carne de frango halal brasileira por ano, bem como 36 mil toneladas de carne bovina.
 

 
Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »