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04/01/2020 às 08h35min - Atualizada em 04/01/2020 às 08h35min

Fogo destrói fauna e causa fuga de milhares na Austrália

Com recordes de calor e seca, país vê incêndios matarem 20 pessoas e meio bilhão de animais

O Globo
Canguru foge das chamas em Nova Gales do Sul: segundo a Universidade de Sydney, quase meio bilhão de animais morreram apenas no estado, estimativa considerada ‘conservadora’ Foto: Matthew Abbott/The New York Times
Fogo destrói fauna e causa fuga de milhares na Austrália

Os incêndios florestais que já devastaram quase 60 mil km² na Austrália tendem a se agravar ao longo deste final de semana, por conta de uma nova onda de calor que deve manter os termômetros acima dos 40°C. Milhares de pessoas foram evacuadas ontem de áreas de risco nos estados de Nova Gales do Sul e Vitória. Atrelado a fortes rajadas de vento, o fenômeno pode disseminar ainda mais as chamas, que já mataram 20 pessoas.


Na manhã de hoje, havia cem incêndios ativos somente em Nova Gales do Sul. Para o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), o fogo na Austrália é um exemplo claro das mudanças climáticas:

— Praticamente todas as projeções extremas indicadas na virada do século estão acontecendo 20 anos antes do que se previa. Se colocarmos mais gás carbônico na atmosfera, sabemos que o clima vai ficar maluco. Estão mexendo com um sistema que começa a ter oscilações quase imprevisíveis.

Nobre lembra que a Austrália quebrou recordes de temperatura e seca em 2019 na série histórica registrada há 120 anos. Três fatores intensificados pelas mudanças climáticas levaram ao quadro de incêndios. Um deles, chamado dipolo do Oceano Índico, concentrou águas quentes na costa Leste da África e frias no Oeste da Austrália, diminuindo o vapor d’água que entra no território australiano.

A circulação de ar quente entre a Antártica e o Sul e Leste da Austrália também favorecem um sistema de alta pressão, contribuindo ainda para condições mais secas. Há, por fim, uma "mancha de calor" de 1 milhão de km² no mar próximo à Nova Zelândia e à Austrália. As condições foram proporcionadas por um sistema de alta pressão, causando a ausência de nuvens. O processo alimenta rajadas de vento e aumentos de temperatura.

8 mil coalas mortos
Desde setembro, o fogo engoliu casas e florestas e devastou a fauna. Segundo a Universidade de Sydney, quase meio bilhão de animais morreram apenas em Nova Gales do Sul — estimativa que a instituição considera conservadora. O número inclui répteis, aves e mamíferos. No Parlamento, a ministra do Meio Ambiente, Sussan Ley, afirmou que cerca de um terço dos coalas no país sucumbiu aos incêndios — algo em torno de 8 mil animais.

Com o temor de que a nova onda de calor faça com que as chamas se multipliquem, autoridades conduziram ontem resgates com embarcações da Marinha. Milhares de pessoas isoladas em praias foram retiradas e levadas a Hastings, cidade próxima a Melbourne.

O primeiro-ministro, Scott Morrison, chegou a reclamar da falta de cooperação internacional depois de resistir a pedir ajuda estrangeira. EUA e Canadá encaminharam bombeiros, e a Cruz Vermelha auxilia no acolhimento dos mais afetados. Alvo de críticas pela política ambiental considerada negacionista, Morrison foi hostilizado ontem em visita à cidade de Cobargo. Na véspera, um bombeiro se recusou a cumprimentá-lo.

Os incêndios na Austrália, tidos por Nobre como os mais extensos do mundo em área, têm sido comparados aos da Amazônia — o ministro brasileiro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugeriu que os incêndios na Oceania representam “quase seis vezes mais” do que as áreas queimadas na Amazônia. Nobre defende que os dois são incomparáveis:


— Não podemos atribuir as queimadas da Amazônia ao clima. A floresta é muito úmida. Cerca de 99,9% do fogo foram provocados pelo homem.

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