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03/12/2019 às 09h04min - Atualizada em 03/12/2019 às 09h04min

Trump ataca Brasil com aço de olho no eleitor da Pensilvânia para 2020

Medida protecionista acontece após fala do ministro Paulo Guedes sobre câmbio, mas também flerta com a aproximação do Brasil com a China.

Huff Posto
Foto: Divulgação
Faltando exatos 11 meses para a eleição nos EUA, o presidente Donald Trump tenta equilibrar-se entre o pedido de impeachment, a queda na taxa de aprovação (em setembro, o percentual passou de 44% para 38%, segundo pesquisa realizada pelo The Washington Post) e a guerra comercial com a China, que faz seus eleitores esperarem recessão para 2020. Logo cedo, Trump usou as redes sociais para anunciar uma sobretaxa ao aço brasileiro e argentino. 

“O Brasil e a Argentina têm liderado uma desvalorização maciça de suas moedas, o que não é bom para os nossos agricultores. Portanto, com efeito imediato, restaurarei as tarifas de todos os aços e alumínio enviados para os EUA a partir desses países”, escreveu. Os EUA são o principal destino de ferro brasileiro. 

Ao tomar esta atitude, o mandatário e sua política protecionista jogam com um eleitorado caro nos Estados Unidos, os da Pensilvânia, um dos estados-chave na eleição estadunidense, ao lado de Ohio, Michigan e Flórida, de acordo com analistas e diplomatas ouvidos pelo HuffPost, onde a disputa é considerada imprevisível. 

A Pensilvânia é o maior polo siderúrgico dos EUA e, em 2016, rendeu ao mandatário uma diferença de apenas 44.292 votos - 0,73% - em relação à adversária Hillary Clinton. Foi um dos estados com resultado mais apertado, como no Michigan onde o republicano venceu por 10.704 votos. No último dia da campanha em 2016, os dois locais foram visitados por Trump de última hora. 

Recados de todos os lados

Não é a primeira vez que os EUA recuam na relação com o Brasil. Após encontro com o presidente Jair Bolsonaro na Casa Branca em março, Trump garantiu que apoiaria a entrada do País na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Contudo, em carta enviada meses depois à entidade, o amparo americano foi somente à Argentina e Romênia, sem nenhuma menção sequer ao Brasil.

Não houve alertas de que a sobretaxa poderia acontecer. Semana passada havia interlocutores da equipe econômica brasileira em Washington e pouco se falou em aço.

Foi justamente nesta passagem pelos Estados Unidos que o ministro da Economia, Paulo Guedes, se disse despreocupado com os recordes de cotação do dólar, aos quais afirmou que era bom o País se acostumar.

“Achei absolutamente compreensível. O juro baixou, está em 5%. Quando tem política fiscal mais forte e juro mais baixo, o câmbio de equilíbrio é mais alto. O Brasil é agora um País interessante, com juro bastante baixo. Os investimentos vão começar e vai retomar o crescimento”, disse o ministro.

Ao falar dessa forma, o chefe da economia passou a mensagem de que o País vai usar o câmbio como estratégia comercial, contra o que o governo normalmente faz, de intervir para evitar a disparada da moeda americana, porque isso afeta a inflação interna. O mundo financeiro e político funcionam de interpretações e nuances. 

Ao longo da segunda, desde cedo, a equipe de Jair Bolsonaro buscou entender o movimento de Trump. O ministro Paulo Guedes foi cobrado pelo chefe.

Em ação, a diplomacia

Está, agora, nas mãos da equipe diplomática do governo solucionar a situação. O chefe do Itamaraty, Ernesto Araújo, e Nestor Foster, cuja indicação para a embaixada do Brasil nos EUA foi oficializada na semana passada, também foram colocados contra a parede. 

De acordo com Araújo, a estratégia é “negociar”, mas o anúncio feito pelo Twitter “não preocupa, nem abala a relação com os EUA”. 

À tarde, uma nota conjunta dos ministérios da Economia, Relações Exteriores e Agricultura destacou que há contato com interlocutores em Washignton. “O governo trabalhará para defender o interesse comercial brasileiro e assegurar a fluidez do comércio com os EUA, com vistas a ampliar o intercâmbio comercial e aprofundar o relacionamento bilateral, em benefício de ambos os países”, destacou a mensagem.

Bolsonaro quer que os interlocutores façam Donald Trump mudar de ideia antes que a ameaça, por enquanto um tuíte, concretize-se. Em entrevista à imprensa, disse que ligaria para o mandatário norteamericano. 

“Não vejo isso como retaliação. Vou conversar com ele [Trump] para ver se não nos penaliza com a sobretaxa no preço do alumínio. A ligação dele, no Twitter dele, é a questão das commodities, a nossa economia basicamente vem das commodities, é o que nós temos. Espero que tenha o entendimento dele, que não nos penalize no tocante a isso, e tenho quase certeza de que ele vai nos atender”, afirmou Jair Bolsonaro. 

No fim do dia, o porta-voz da Presidência, general Rêgo Barros, destacou, porém, que o presidente não vai telefonar para Trump antes de conhecer melhor a decisão. “Seria intempestivo efetivar uma ligação em tempo inapropriado em face do desconhecimento profundo do tema.” 

Uma ala palaciana que defende a aproximação brasileira com a China, o que também se acredita estar entre os motivos da fala do presidente dos EUA, aproveitou o movimento de Trump para falar ao presidente Jair Bolsonaro como não se pode “confiar nos norte americanos” como amigos, reiterar que sempre existe na relação com eles preços altos demais a pagar. Mas neste quesito, ainda há muito por vir e ver. 
 
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