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20/08/2019 às 08h52min - Atualizada em 20/08/2019 às 08h52min

Educar e ensinar: você sabe a diferença?

Tamiris Monteiro
O tema é polêmico, porque muitos pais sentem-se confusos em relação às atribuições da família e da escola no desenvolvimento dos filhos. Mas, antes de apontar qualquer culpado nessa história, é importante entender as possíveis causas dessa confusão entre educar e ensinar. Se pensarmos nas escolas de 40, 50 anos atrás, a educação era bastante rígida e os professores tinham certa liberdade para interferir na vida dos alunos. No livro “Professor não é educador”, o autor Armindo Moreira explica que, a partir do século XX, houve uma inversão de papéis: o professor passou a ser um educador e isso gerou um grande problema para a qualidade de ensino. “Essa teoria de misturar ensino com educação reproduziu crises em todas as partes do mundo”, descreve. E enfatiza que não é papel do professor educar uma criança.



Segundo Moreira, a principal diferença entre os dois termos, é que o ensino significa o repasse do conhecimento e a educação representa um conjunto de hábitos e valores. Está certo que ao longo dos anos a relação entre instituições de ensino, professores e alunos mudou, mas dá para arriscar dizer que essa confusão está intimamente atrelada a uma cultura construída no passado.

É claro que não dá para atribuir toda a culpa dessa confusão entre educar e ensinar somente a comportamentos instituídos anteriormente. O imediatismo de hoje também contribui – e muito – para o distanciamento entre pais e filhos. Por causa das longas horas de trabalho e da busca incessante por uma altíssima qualidade de vida, o resultado são pais mais ausentes e com menos tempo, fazendo com que transfiram à escola e aos professores a responsabilidade de educar.

“Diante das mudanças socioeconômicas e socioculturais, há dificuldades de sintonia na comunicação entre a família e escola. Percebo em meus atendimentos que a família está em transformação de como instruir a criança sobre valores éticos, morais e humanos. Há 30 ou 40 anos, as condições de vida, de modo geral, eram menos imediatistas. Com o intenso avanço da tecnologia e mudanças econômicas, os pais veem emergência em garantir condições para os filhos viverem, dando a eles uma boa escola, alimentação, vestimenta, lazer e prática em esportes, mas até pela exaustão de um dia cansativo no trabalho, os pais acabam transferindo essa responsabilidade à escola, psicólogos ou ainda a familiares, muitas vezes os avós”, explica Carolina S. Galdino, psicóloga na clínica PsicoJuntos e especialista em terapia cognitiva comportamental.

Ajoelhar no milho nunca mais!

Apesar das mudanças na educação, ainda hoje não é difícil encontrar adultos com mais de 40 anos que defendam a velha ideia de castigar os alunos, como ocorria antigamente. Contudo, é importante lembrar que extinguir os castigos e priorizar aos professores somente o ato de “ensinar” foi uma evolução positiva.

“A distinção entre os processos educativos escolares antigos e os atuais são paradoxais no que tange à relação aluno e professor. Vivíamos num contexto em que os professores eram vistos como uma referência social e tinham de garantir a impecabilidade do ensino. Ações de castigo, tais como ajoelhar no milho ou apanhar com régua, eram socialmente permitidas. Hoje, ao olharmos para essas ações que pouco contribuíam, percebemos o quanto avançamos, uma vez que hoje a escola é para todos e os processos punitivos, além de serem proibidos e traumatizantes, não garantem aprendizagem. Por isso, a nossa configuração de educação, atualmente, é diferente. Em suma, a mudança é resposta a uma nova configuração social de família, de relações e de escola”, analisa a professora Adelina.

O que pode acontecer quando os pais não educam?

Até aqui já deu para entender que transmitir conhecimento não é educar. De maneira resumida, educar é algo profundo e intenso, geralmente está associado a valores, normas, atitudes, ações e princípios éticos e morais. É um conjunto de ações que prepara o indivíduo para viver em sociedade com atitudes dignas e de respeito com o próximo. Sendo assim, quando uma criança não recebe dos pais preceitos básicos de educação, existe a possibilidade de tornar-se um adulto sem referências.
 
“Cada pai e mãe entende o que é certo e errado de acordo com suas próprias vivências e experiências; e transmitirá isso aos filhos. É necessário que os valores da família sejam estruturados e solidificados, garantindo à criança condições para a fortificação da sua identidade. Ao abrir mão dessa garantia, lançamos a criança num caldeirão de culturas distintas, tornando esse processo de desenvolvimento confuso, porque a escola nem sempre consegue garantir sozinha a construção da identidade do jovem”, diz a professora de educação básica Adelina Braga Matsuda.


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