O Brasil sempre foi um lugar propício para que políticos patrimonialistas vivessem como verdadeiros monarcas absolutistas em suas zonas eleitorais. Frente a um povo culturalmente omisso, inúmeros ‘dinossauros da política’ praticamente não faziam – e muitos ainda não fazem – distinção entre o público e o privado.
Com o auxílio das redes sociais – e consequente aproximação da população com a classe política – esse cenário tende a mudar. A mudança, contudo, ainda aparenta caminhar a passos lentos.
Quando veículos jornalísticos divulgam, por exemplo, que parentes do presidente utilizaram o helicóptero da Presidencia da República para fins particulares, percebe-se que Jair Bolsonaro – eleito sob a alcunha de “nova política” – talvez não seja tão inovador como o prometido.
A utilização de aeronaves oficiais para fins particulares não é novidade entre personalidades do executivo. A prática, contudo, custa milhões aos cofres públicos. Nossa redação separou alguns casos que evidenciam a prática patrimonialista bem característica da “velha política”. Confira:
Sérgio Cabral, ex-governador do RJ, usava helicóptero oficial diariamente para ver o filho
De acordo com o ex-procurador regional da república, Cosmo Ferreira, Cabral utilizou a aeronave do estado 1.039 vezes, quase diariamente, nas férias escolares de seus filhos, em voos particulares para ir da Zona Sul do Rio a Mangaratiba, na Costa Verde, onde tinha casa de praia. E pelo menos 109 vezes essa rota foi feita com três aeronaves simultaneamente, levando convidados. A ação era chamada pelos pilotos de “dia de revoada” e custou cerca de 20 milhões aos cofres públicos.
Filho de Lula e mais 15 pessoas pegam carona em avião da FAB
De acordo com uma notícia veiculada pelo G1 em 2009, o Boeing 737 da Força Aérea Brasileira (FAB), conhecido como Sucatinha, teve que mudar de itinerário e retornar a São Paulo, quando faltava 10 minutos para pousar em Brasília, para buscar novos passageiros: o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o empresário Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, com 15 acompanhantes.
Segundo a assessoria de Meirelles, “por solicitação da Presidência”, o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mais 15 pessoas pegariam carona e “aproveitariam o voo da aeronave colocada à disposição do BC”.
Aécio Neves (PSDB) é acusado de viajar em aviões oficiais sem comprovar o interesse público
O atual deputado federal Aécio Neves já foi acusado de utilizar aeronaves oficias da FAB sem comprovar o interesse público das viagens quando era governador de Minas Gerais, entre 2003 e 2010. A denúncia, contudo, já prescreveu. Aécio realizou 1337 voos durante esse período sem comprovar se as viagens eram ou não de interesse particular.
Governador Pimentel utiliza helicóptero oficial para buscar filho após festa
Outro ex-governador de Minas Gerais deu show de patrimonialismo: Pimentel flagrado usando helicóptero oficial para buscar o seu filho em Escarpas do Lago, condomínio localizado no município de Capitólio (MG), após uma festa de réveillon.
Na época, o então governador justificou o fato acionando o decreto assinado por Aécio Neves que regulamenta o uso de aeronaves para os executivos de Minas Gerais com a explicação de que tal regalia é necessária por questões de segurança devido ao cargo ocupado. O privilégio custa caro ao pagador de imposto mineiro.
Ministros de Temer usaram helicópteros para transportar amigos e parentes
Durante a gestão de Michel Temer, alguns de seus ministros usaram voos da FAB, requisitados com o propósito de cumprir agendas de trabalho, para transportar parentes, amigos e representantes do setor privado.
Bruno Araújo (PSDB), ex-ministro das Cidades, levou a mulher, Maria Carolina, em ao menos seis viagens oficiais. Em junho de 2016, o casal embarcou para Campina Grande (PB) a convite do colega tucano o prefeito Romero Rodrigues no dia da abertura do “Maior São João do Mundo”. Os dois, na sequência, embarcaram para o Recife, onde mantêm domicílio.
A lei que trata desse assunto não prevê a entrada de parentes ou amigos dessas autoridades nas aeronaves, ademais, os voos devem ser usados exclusivamente quando há interesse público.