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03/07/2019 às 09h59min - Atualizada em 03/07/2019 às 09h59min

Bate-boca, memes, ‘troféu da Champions League’, deportação: os destaques da audiência de Moro com deputados

O ministro da Justiça, Sergio Moro, esteve nesta terça-feira (2) na Câmara dos Deputados para responder a perguntas dos congressistas sobre as conversas que teriam ocorrido entre ele e os investigadores da força-tarefa da Lava Jato quando era juiz federal em Curitiba (PR)

BBC
Sergio Moro respondeu perguntas de deputados durante quase oito horas - Foto: Fábio Pozzebom
Moro já tinha ido ao Senado em 19 de junho para falar sobre o mesmo assunto. Mas, ao contrário do clima relativamente tranquilo na conversa com os senadores, a audiência na Câmara teve memes, muito bate-boca e até um troféu.

Durante a audiência, Moro repetiu basicamente o que já tinha dito no Senado: afirmou não reconhecer as mensagens divulgadas pelo site jornalístico The Intercept e que elas teriam sido obtidas por um hacker de forma criminosa. Disse ainda que, mesmo que o conteúdo das conversas atribuídas a ele e aos procuradores seja verdadeiro, não exibiria qualquer crime.

Já o Intercept alega que as conversas entre Moro e os investigadores mostrariam os envolvidos agindo com motivação política - principalmente contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo o site, Moro teria extrapolado seu papel como juiz ao trabalhar com os investigadores para prejudicar réus e pessoas investigadas. O então magistrado teria, por exemplo, orientado o procurador Deltan Dallagnol sobre a melhor ordem para deflagrar fases da Lava Jato; e teria também indicado possíveis delatores à força-tarefa da Lava Jato, entre outros episódios.

Na audiência do Senado, Moro também aproveitou para ironizar o jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do Intercept. O ministro disse que seu depoimento aos deputados é o mesmo do Senado porque não é igual "ao site lá, que adultera versões".

A respeito das reportagens, Moro disse várias vezes que elas configuram "um balão vazio".

"Eu não reconheço a autenticidade, eu não tenho mais essas mensagens (retratadas nas reportagens). Podem até algumas serem (reais), mas podem ter sido adulteradas total ou parcialmente. Eu saí (do Telegram) em 2017. Eu não tenho condição de recordar de mensagens trocadas três anos atrás", disse o ministro.

Esta não foi a primeira tentativa dos deputados de ouvir Moro - ele chegou a confirmar a ida à Câmara no dia 26 de junho, mas desistiu por conta de uma viagem oficial aos EUA.

A audiência de terça-feira foi realizada por três comissões da Câmara: Constituição e Justiça (CCJ), Direitos Humanos e Minorias (CDHM) e Trabalho, Administração e Serviço Público (CTASP).

A sessão foi marcada por discussões acaloradas entre os deputados - provocando várias interrupções e pedidos da deputada Professora Marcivânia (PC do B-AP), que coordenou os trabalhos durante uma parte, para "retirar as expressões impróprias das notas taquigráficas".

O primeiro conflito aconteceu apenas meia hora depois do início da sessão; o fim também foi marcado por um bate-boca, depois que o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) disse que Moro ficaria para a história como "um juiz ladrão". Deputados pró-governo se levantaram e começaram a discutir com Braga, e então a sessão foi encerrada, pouco antes das 22h.

Abaixo, alguns destaques da ida de Moro à Câmara.

Memes do PT e do PSL
Deputados do PT e do PSL prepararam cartazes com "memes" para exibir durante a sessão - muito embora o regulamento da Câmara não permita que este tipo de material seja usado nas reuniões.

Os cartazes do PT ironizavam um slide exibido pelo procurador Deltan Dallagnol na apresentação da denúncia contra Lula no caso do Tríplex do Guarujá, em setembro de 2016.

Cartaz feito pela bancada do PT contra Moro

Cartaz feito pela bancada do PT contra Moro


O cartaz é uma paródia do 'PowerPoint do Dallagnol'

A imagem traz o retrato de Moro ligado a frases como "13 milhões de desempregados", "Maior beneficiado vira ministro da Justiça" e "Petrobras paga multa de 40 bilhões para americanos".

O presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), chegou a reclamar com os deputados do PT: "O deputado Bohn Gass (PT-RS) está atrás de vossa excelência apresentando um cartaz assim. Eu detesto ter que dar bronca em vossas excelências. Mas isso não é permitido".

Já os deputados do PSL levaram cartazes com a palavra "Solução". É uma referência à deputada Maria do Rosário (PT-RS), que seria dona deste apelido segundo os documentos conhecidos como "planilhas da Odebrecht", divulgados em março de 2016.

Filho do presidente da República, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) exibiu um dos cartazes.

Quebra de sigilo do WhatsApp
O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS), levou à sessão uma série de documentos - os papéis eram escritos em nome de Sergio Moro, com a data desta terça-feira.

Faziam parte de um desafio: Pimenta propôs a Moro que abrisse mão de seus sigilos bancário, fiscal, telefônico, e das contas de WhatsApp e Telegram, além de ter seus equipamentos eletrônicos periciados. O resultado dessas perícias e a íntegra das mensagens ficariam à disposição das comissões.

Moro não aceitou o desafio da oposição. Segundo ele, a proposta dos deputados era "puro teatro". Após seis meses, as mensagens são apagadas pelo aplicativo, disse Moro.

"Esse teatro não faz sentido", afirmou o ministro.

Além de Pimenta, a proposta foi reproduzida por Jandira Feghali (PC do B-RJ) e Zeca Dirceu (PT-PR). "O que o ministro teme em assinar um simples documento autorizando a quebra de sigilo (das conversas nos aplicativos)?", disse este.

'Deportação'
Por volta das 17h, o deputado Filipe Barros (PSL-PR) disse que as reportagens teriam, para políticos de esquerda e para o Intercept, o objetivo de "anular a Lava Jato, não responder pelos crimes que cometeram, e soltar o (ex-presidente) Lula". Barros disse ainda que o Intercept é "um site de caráter questionável, cujo dono é um embusteiro criminoso".

"O dono desse site é inclusive casado com um deputado acusado de terrorismo e espionagem, e portanto o dono desse site deveria ser expulso do nosso país", disse Barros, referindo-se ao deputado David Miranda (PSOL-RJ) e ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do Intercept no Brasil.

Miranda e Greenwald são casados.

Barros referia-se ao fato de Miranda ter sido detido durante cerca de nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres, em 2013. Suspeitava-se que ele estava carregando arquivos confidenciais fornecidos pelo delator Edward Snowden. Ele nunca foi formalmente acusado de terrorismo pelo governo britânico, porém.

Por ter sido citado, Miranda ganhou o direito de responder a Barros na comissão.

"Eu fui citado como terrorista quando na verdade eu fazia um trabalho para a nação brasileira. Eu fiz um trabalho demonstrando jornalisticamente que a nossa Petrobras, que o ministro de Minas e Energia, estavam sendo espionados, que presidentes deste país estavam sendo espionados", disse.

"Eu voltei para o país, comecei um processo contra aquele país (Inglaterra), e ganhei em janeiro de 2016. Nunca, em nenhum momento, o governo da Inglaterra me colocou num pedestal de terrorista", disse.

"Essa Casa aqui ter pares que peçam para que eu seja deportado junto com meu marido é uma falácia, é uma agressão à democracia, principalmente porque eu sou eleito no Estado do Rio de Janeiro. E meu marido fez um trabalho jornalístico impecável antes, e continua fazendo agora", disse.

O 'troféu da Champions League'
Audiências polêmicas na Câmara costumam ter elementos cênicos, mas o deputado Boca Aberta (PROS-PR) foi o que mais investiu na performance nesta terça-feira. Ele levou um "troféu da Champions League" com o nome de Moro gravado, com o objetivo de entregar o objeto para o ministro.

O deputado, cujo nome verdadeiro é Emerson Petriv, ficou conhecido por andar na cidade de Londrina com uma caixa de som acoplada à sua bicicleta, com a qual fazia sátiras políticas. É conhecido no Congresso pelo tom de voz estridente.

"Sergio Moro, neste momento entrego o troféu da Champions League ao senhor. Eu fiz questão de colocar na inscrição: Sergio Moro, a maior estrela do combate à corrupção", disse ele ao entregar o troféu a Moro. Petriv aproveitou para recomendar "à petezada" que lavasse a boca "com creolina, com ácido sulfúrico", antes de falar de Moro.
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