13/05/2019 às 09h23min - Atualizada em 13/05/2019 às 09h23min
Homem e mulher têm AVC após estalarem o pescoço; entenda os perigos da prática
Vida e Estilo
Foto: Divulgação Nas últimas semanas, dois casos parecidos surgiram na mídia: o norte-americano Josh Hader e a paramédica britânica Natalie Kunicki estalaram os pescoços e começaram a perceber sintomas estranhos: dormência no corpo, fraqueza e perda de controle dos movimentos foram alguns deles. Os dois romperam uma das artérias vertebrais do pescoço e passarão por um longo e doloroso período de tratamento e recuperação.
Mas será que estalar articulações é perigoso assim? A princípio, não: “O que fazemos é estirar a articulação e os gases contidos no liquido sinovial escapam dali e estouram, fazendo aquele barulho característico. A não ser que a pessoa tenha algum problema como artrose, estalar dedos da mão e articulações que não tenham órgãos importantes envolvidos não é um problema”, conta André Macedo, neurologista do grupo de doenças neuromusculares do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
Mas e o pescoço? Com esta parte do corpo é diferente: a recomendação expressa dos neurologistas é que o pescoço nunca seja estalado. Nossa coluna vertebral possui várias articulações de uma vértebra com outra e, ao estalar o pescoço, você não vai prejudicar qualquer tipo de movimento das vértebras, mas pode comprometer as estruturas que estão ali, passando por dentro delas. “A nossa medula espinhal leva para o nosso corpo toda a informação de movimento, sensibilidade e equilíbrio”, explica André.
O risco depende, é claro, da intensidade e da angulação: movimentar o pescoço em si não é um risco. “Quando o estalo ocorre naturalmente, não há problema. O preocupante é quando a pessoa ou alguém mexe em seu pescoço causando o barulho ou ocorre algum traumatismo, como em um acidente de carro”, conta Joel Augusto Ribeiro Teixeira, neurocirurgião do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e do Sírio Libanês.
Quais riscos você corre ao estalar o pescoço? O primeiro é sentir dor: algum nervo que está saindo da coluna pode ser pinçado e comprimido. Além disso, “a medula espinhal - que está passando por dentro do canal da vértebra - também pode ser comprimida. Vemos mais em idosos que já tenham uma artrose na coluna e pode levar a uma lesão da medula com alteração neurológica de membros, fraqueza muscular e dificuldade para andar. É raro, mas pode acontecer”, diz André.
Joel complementa que lesar a medula pode causar um quadro de tetraplegia: “Recomendo que ninguém deixe outra pessoa manusear o seu pescoço, principalmente em massagens.”
O mais grave, porém, é o AVC, causado por uma ruptura e formação de um coágulo nas artérias vertebrais. As duas artérias são muito importantes e irrigam partes do cérebro que comandam funções nobres, como a respiração, o controle cardíaco e a capacidade de vigília, que nos mantém acordados. “Estas artérias passam por dentro das vértebras do pescoço antes de chegarem ao cérebro. Se elas se rompem por um movimento brusco, podem levar a um AVC isquêmico”, diz André.
Atenção para os sintomas: fraqueza súbita em uma parte do corpo, vertigem repentina, visão duplicada, olhos estrábicos, voz enrolada e perda de equilíbrio são alertas de que pode haver um AVC.
Existem outras regiões complicadas? O pescoço é a parte do corpo mais perigosa de ser estalada, mas grandes articulações, como ombros e cotovelos, que possuem nervos passando ao lado, também podem ser lesionadas ou luxadas por conta de movimentos acentuados e repetitivos seguidos de estalos.